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Empreendedorismo

Ricardo Nunes na Expo Favela Innovation: “Precisamos de ações e oportunidades para evoluir”

O Diário de S. Paulo foi ao evento participar de coletiva de imprensa nesta sexta-feira (17). A exposição ocorre no complexo WTC de 17 a 19 de março

Prefeito Ricardo Nunes (MDB) em discurso na Expo Favela Innovation 2023 - Imagem: Prefeitura da Cidade de São Paulo
Prefeito Ricardo Nunes (MDB) em discurso na Expo Favela Innovation 2023 - Imagem: Prefeitura da Cidade de São Paulo

Mateus Omena Publicado em 17/03/2023, às 17h10


O prefeito Ricardo Nunes (MDB) participou na manhã desta sexta-feira (17) da abertura da Expo Favela Innovation São Paulo 2023.

A maior feira de empreendedorismo da América Latina pretende criar conexões de ideias e novidades entre a favela e asfalto, contando com uma programação com palestras e conferências com grandes personalidades do empreendedorismo de diferentes locais, periféricos, favelados e não favelados. O evento ocorre no complexo do WTC Events Center, até domingo (19).

A Favela Innovation conta com o apoio da Prefeitura de São Paulo para estimular a visibilidade e o fomento de projetos de negócio vindos das favelas e periferias.

O Diário de S. Paulo foi até o evento nesta sexta-feira (17) acompanhar a abertura da exposição que contou com a presença do prefeito de São Paulo ao lado de Celso Athayde, CEO da Favela Holding, organizadora do evento.

Além de Renato Meirelles, presidente do Data Favela (empresa de pesquisa da Favela Holding) e Preto Zezé, presidente nacional da Central Única das Favelas (CUFA).

Durante o encontro, o político discursou sobre a importância de incentivos da iniciativa privada para a geração de renda pelo empreendedorismo, mas enfatizou que os esforços devem ocorrer ao lado de políticas públicas que possam contribuir com o desenvolvimento de forma ampla.

"Precisamos trabalhar juntos para construir políticas públicas que são importantes para nossa cidade, nosso estado e nosso país. E assim trazer mais qualidade de vida para as pessoas”.

O prefeito demonstrou sua admiração com a potência e organização dos habitantes de comunidades e bairros periféricos para construir projetos que beneficiam o coletivo, inclusive ações de empreendedorismo que trazem impactos para as localidades de São Paulo.

“É como se fosse uma roda ou uma ‘pizza’ com várias partes, que envolvem empreendedores, mulheres, homens, brancos, negros, indígenas, moradores de favela. Quando essa roda é preenchida e todos participam, ela roda de forma harmônica e traz bons resultados para todos”, declarou.

“Por isso, a gente tem feito um trabalho muito forte para estabelecer essa harmonia, para ter uma cidade linda como essa. Por isso, precisamos desse conjunto de ações, porque o que todo mundo quer na verdade é ser feliz, ter a alegria de viver com tranquilidade, paz, viver com nossa família. E por isso, esse ambiente de harmonia é fundamental”.

Expo
Prefeito Ricardo Nunes (MDB); Preto Zezé, presidente da CUFA ; Aline Torres, Secretária de Cultura; Carlos Melles, diretor-presidente do Sebrae - Imagem: Prefeitura de São Paulo

Ele também não poupou elogios ao trabalho feito pela CUFA em diversas regiões de São Paulo e apontou para os projetos recentes em São Sebastião. “A CUFA tem feito um trabalho exemplar. Além de poder estar perto das pessoas e saber seus problemas, a organização também consegue trazer soluções”.

Já o presidente nacional da Central Única das Favelas (CUFA), Preto Zezé, declarou: “Esse movimento permanente não vai parar. Isso não é evento. É um encontro desse movimento e quando termina aqui continua no dia a dia dos negócios com as pessoas desenvolvendo suas atividades”.

Para Ricardo Nunes, a Expo Favela Innovation incentiva uma conexão entre os ricos e pobres envolvidos no ambiente de negócios, com a perspectiva de que todos são iguais. Mas, reforçou que a melhor maneira de reduzir as desigualdades sociais é oferecer oportunidades para as pessoas com a geração de emprego e renda.

“No ano passado nós tivemos 186 mil empregos em um saldo positivo na cidade de São Paulo entre admissões e demissões. No ano retrasado, nós geramos 336 mil empregos formais”, pontuou.

E acrescentou: “Em 2017, nós tínhamos 444 mil microempreendedores individuais na cidade e estamos batendo agora 1,2 milhão. Tudo isso se deu por um conjunto de ações entre o governo e a iniciativa privada para podermos evoluir e crescer, de modo que as pessoas sejam felizes e tenham oportunidades”.

A secretária de Cultura, Aline Torres, também participou da conversa e explicou que essa união entre ricos e pobres, negros e brancos, indepedente das diferenças, pode contribuir para quebra de preconceitos e revelar talentos e potenciais.

“Ainda vivemos em uma sociedade extremamente racista, mas quando a gente tem a oportunidade de criar um evento que faz esse alicerce, essa ponte da favela e do asfalto é para mostrar que é possível a gente construir juntos. É possível mostrar os nossos talentos”.

Realidade de desafiadora

Ao longo da palestra, Renato Meirelles, presidente do Data Favela, apresentou uma pesquisa feita pela organização que ilustra a imensa desigualdade social no país.

O estudo “Um País Chamado Favela: 2023” aponta ainda que 6 milhões dos moradores de comunidades sonham em empreender e 7 em cada 10 pretendem abrir o próprio negócio. Hoje, já foram mapeados 5,2 milhões de habitantes dessas localidades que empreendem.

O levantamento mostra também que as favelas brasileiras concentram 17,9 milhões de brasileiros e se fossem um único estado já seria o terceiro maior território em número de habitantes (atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais).

“As favelas não surgiram de forma espontânea, mas da exclusão daqueles que estão no asfalto. Fruto de uma sociedade desigual, que acredita que as pessoas têm mais ou menos oportunidades dependendo do CEP”.

Apesar dos problemas, Meirelles deixou claro que a favela é muito mais inovadora e criativa do que a maioria das pessoas pensam. “A favela é vista como um território de resistência, mas também é um local de oportunidades. Quem não mora e não conhece a favela só vê pobreza, fome, violência, tráfico e assaltos. Mas quando se conhece, se vê alegria, força e felicidade”.

A favela é a maior concentração geográfica da desigualdade no país e por conta do racismo é majoritariamente negra e pelo racismo estrutural, eles ganham menos que brancos”, explicou. “64% dos moradores não têm água encanada e saneamento básico. 29% das pessoas das favelas está desempregada, a maioria de muitos habitantes precisa mentir no currículo sobre o local onde mora para não perder chances de empregos. 68% das mães de crianças não conseguem vagas em creches, por isso é importante a Expo para juntar o poder público, a iniciativa privada e a sociedade civil”.

Um ecossistema de criatividades

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Carlos Alberto, da "Nega Simpatia"; Teresa Cristina, do "Xodó das Pretas"; Gleizi Vieira, do "Beco Visceral"- Imagem: Mateus Omena / Diário de S. Paulo

A Expo Favela Innovation abre portas para empreendedores de todos os setores, tamanhos e localidades. Desde artesanato e beleza, até desenvolvimento de games e tecnologia.

Em depoimento ao Diário de S.Paulo, Carlos Alberto participa do evento para destacar a “Nega Simpatia”, uma empresa familiar criada em São José dos Campos, interior paulista, com foco em acessórios, bijuterias e itens de moda africana para o público feminino, principalmente mulheres negras.

“É um projeto criado pela minha família por meio de muita luta, com o objetivo de exaltar a cultura africana. Estamos no mercado há 5 anos. Começamos esse negócio com um investimento de R$ 30,00 e hoje temos duas lojas, uma em São José dos Campos e outra em Jacareí. E temos clientes em Luxemburgo, Alemanha, Portugal, França e Bélgica”.

Já Teresa Cristina abriu a marca “Xodó da Preta” ao lado de sua mãe, Marli, voltada à moda, com roupas criadas de modo artesanal, com linha vasta de peças femininas e calçados. “O projeto foi idealizado e criado pela minha mãe, e entrei com ela nesse negócio, com objetivo de apresentar nosso estilo e nossa marca autoral”.

Enquanto Gleizi Vieira aproveita o evento para divulgar a sua galeria de fotos “Beco Visceral", que exalta a pluralidade e complexidade da vida na favela. Durante o evento, ela realiza a exposição “Um rolê no Paraíso”, com fotografias que ilustram a comunidade de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

“A fotografia é uma forma de registrar a humanidade, o cotidiano e fazer arte. É importante que os fotógrafos das favelas tenham o espaço relevante para expor seus trabalhos e criar seu caminho”, afirmou. “Nesse contexto, o empreendedorismo é importante na fotografia, especialmente para nossa galeria porque a gente consegue fomentar o trabalho de profissionais, criar fonte de renda e valorizar sua arte. É uma possibilidade de empreender na favela com a fotografia, mostrando o cotidiano e a beleza que pode existir nesse ambiente”.

O Favela Innovation também reuniu estandes com ideias de negócios de relevantes marcas como C&A e Ifood, além de grupos como Sebrae, para criar pontes entre grandes empresas e o pequeno empreendedor.

As conferências acontecem no palco principal do teatro do WTC, por todo o dia até às 20h, assim como nos outros dois dias. Além das conferências, o evento conta com palestras, exposições, mentorias, ativações, espaço de mídias periféricas, materiais, oportunidades de negócios, network, entre outros.

Entre os confirmados nas conferências estão Manoel Soares, Luciano Huck, Bianca Guimarães, Kond, MV Bill, Rincon Sapiência, Thelminha Assis, Armínio Fraga, Silvio Almeida, Abílio Diniz, Babu Santana, Amauri Soares, entre outros.

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