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Dia das Mães 2023

"Nasce uma mãe, nasce a culpa": 5 mães de diferentes formatos familiares desabafam sobre maternidade real

Para celebrar o Dia das Mães, o Diário de S. Paulo bateu um papo com mulheres que abriram o coração para falar das delícias e dificuldades desse papel

Quando pensamos nessa data, tudo que geralmente vem a nossa mente é o amor, os momentos bons, a gratidão que sentimos pelas mães de todo o Brasil. No entanto, muitas vezes acabamos caindo em uma grande romantização - Imagens: Arquivo pessoal das entrevistadas
Quando pensamos nessa data, tudo que geralmente vem a nossa mente é o amor, os momentos bons, a gratidão que sentimos pelas mães de todo o Brasil. No entanto, muitas vezes acabamos caindo em uma grande romantização - Imagens: Arquivo pessoal das entrevistadas

Thais Bueno Publicado em 14/05/2023, às 08h00


O Dia das Mães foi inicialmente criado por Anna Jarvis, filha da ativista Ann Jarvis, que morreu em 1905 nos Estados Unidos. Ela percebeu a criação da celebração como uma forma de homenagear a mulher que a colocou no mundo.

Foi através dessa ideia que o presidente norte-americano Woodrow Wilson decidiu tornar a comemoração uma ‘data’ oficial - o termo vem entre aspas pois, como todos sabem, não existe um dia exato para a tradição. Apenas aceitamos que ela é celebrada no segundo domingo do mês de maio, sendo assim uma tradição móvel.

Quando pensamos nessa data, tudo que geralmente vem a nossa mente é o amor, os momentos bons, a gratidão que sentimos pelas mães de todo o Brasil.

No entanto, muitas vezes acabamos caindo em uma grande romantização, tanto do período da gravidez como da maternidade em si. Temos a tendência de ‘apagar’ e ‘esquecer’ todas as dificuldades perpassadas para valorizar apenas os bons momentos.

Acabamos não pensando em todos os desafios enfrentados durante os nove meses de gravidez, os momentos difíceis nos primeiros anos e na culpa que as mães carregam todos os dias, principalmente quando as crianças ainda são pequenas.

Uma pesquisa nomeada ‘Parentalidade Real’, realizada pelo instituto On The Go e encomendada pela Huggies, feita em fevereiro de 2022 com 1.010 mães e pais de crianças de até 3 anos de todo o Brasil, mostrou que 51% das mães brasileiras sentem culpa durante a maternidade.

Conforme explicitado pelo estudo, algumas mulheres se sentem culpadas com relação aos bebês, principalmente por pensarem que poderiam fazer mais por eles. Outras, por sua vez, também ficam angustiadas quando falam que queriam voltar à vida que tinham antes do nascimento da criança.

Mãe de gêmeos

Bruna do Erre, de 28 anos, já passou por essas situações. Natural de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul (RS), trabalha como gerente comercial de uma rede de escolas de intercâmbio na Inglaterra e, em seu tempo livre, é influenciadora digital, tendo mais de 130 mil seguidores no TikTok.

Bruna se tornou mãe solo de gêmeos em abril do ano passado. Bento e Santiago, que hoje estão com um ano, são fruto de um relacionamento de 12 anos que terminou pouco tempo atrás. Hoje, ela mora com os ‘guris’ perto da praia.

“Eu tenho uma amiga minha que falou algo que eu levo como verdade para mim: nasce uma mãe, nasce uma culpa. Quando a gente se torna mãe, a gente se sente culpada por absolutamente tudo que acontece”.

Em diversos momentos durante o período da gravidez, a influenciadora revelou ter se sentido culpada exatamente pelo primeiro motivo apontado pela pesquisa: pensar que poderia estar fazendo mais pelas crianças.

“A questão do hormônio também é algo que só quem vive sabe, tem dias que tu não quer comer nada, tu não quer fazer nada, e aí daqui a pouco você se sente culpada e fala 'eu deveria estar cuidando melhor do meu bebê né, eu deveria estar cuidando melhor de mim para poder cuidar melhor deles'”.

“E depois que nasce é a mesma coisa, muitas vezes eu me sentia culpada por estar cansada, por não estar conseguindo dar o meu melhor. Nessa transição a gente não entende ainda que nós somos seres humanos, nem sempre a gente vai conseguir”, declarou.

Bruna do Erre com seus filhos gêmeos, Bento e Santiago. Imagens: reprodução/Instagram
Bruna do Erre com seus filhos gêmeos, Bento e Santiago. Imagens: reprodução/Instagram

Bruna também ressaltou que, mesmo que o tempo passe e as mães se acostumem cada vez mais com a maternidade, os desafios continuam.

“Tudo que acontece com as crianças, por mínimo que seja, você se pergunta 'o que eu estou fazendo de errado?'. E sente culpada por tudo, principalmente porque assume uma responsabilidade muito grande sobre a vida e a saúde deles. E isso só piora. Hoje eu posso não me sentir culpada porque eles não sentem mais cólicas, mas eu me sinto culpada por exemplo por eles estarem gripados. A culpa vai nos perseguir pelo resto da vida, só muda o motivo”.

Mãe solo

Andressa Marques, hoje com 28 anos e mãe solo, engravidou quando tinha apenas 19. Durante muitos anos, cuidou de sua filha, a pequena Isabela, que hoje está com 8 anos, sozinha, pois acabou se separando do pai dela.

Atualmente, também possui uma plataforma onde compartilha detalhes de sua rotina de maternidade no TikTok, contando com mais de 134 mil admiradores de seus conteúdos.

A influencer contou uma situação específica com sua filha em que se sentiu muito culpada: com apenas 21 dias de vida, a bebê caiu da cama, sendo que quem havia colocado-a em cima do colchão foi a própria Andressa.

“[Isabela] sofreu um traumatismo craniano, onde precisou ficar internada e realizar diversos exames. Podia ficar com sequelas, mas hoje é uma criança perfeita. Isabela significa 'enviada por Deus' e ela sempre foi tão forte, passou por tudo, tenho certeza que ela realmente é nosso milagre. A maior culpa que carrego, é de quando ela caiu, pois quem a colocou na cama fui eu. E eu nunca consegui me perdoar por tudo que ela passou por uma falha minha”.

Andressa com a filha Isabela. Imagens: reprodução/Instagram
Andressa com a filha Isabela. Imagens: reprodução/Instagram

Andressa também comentou outros momentos em que se sentiu extremamente culpada na criação da filha: “Parece que tudo que fazemos nunca é o suficiente. Me culpo por não poder ter dado uma "família" estruturada pra minha filha. Me culpo pelo que isso pode afetar no psicológico dela. Por ter deixado ela tanto tempo com alguém”.

A influenciadora ainda disse que sente uma culpa imensa por ter trabalhado muito quando a filha era pequena pois, sempre que chegava em casa, Isabela já estava dormindo; ou ela que estava muito cansada.

Andressa compartilhou que não se lembra da primeira vez que a menina se sentou e ressaltou que não foi ela quem deu fruta para ela pela primeira vez, além de ter citado que, quando ela engatinhou, também não esteve lá. Dessa forma, concordou com o ponto colocado por Bruna: “A mãe sempre irá se sentir culpada”.

O tipo de parto

Adriane Santiago, de 23 anos, é mãe preta de primeira viagem “de um príncipe lindo chamado Gael”, como colocado por ela, que tem um ano e dois meses. Natural de Brasília (DF), hoje mora na pequena cidade de Barrocas, no interior da Bahia (BA).

Em seu depoimento, contou que a culpa já surgiu quando o filho ainda nem tinha nascido; isso porque estava preocupada com o parto, se seria feito de modo normal ou através da cesariana.

“Quem me conhece sabe que eu não gosto de depender de ninguém. Desde o início, eu queria que meu parto fosse normal, pra não sobrecarregar minha mãe, porque isso ia me machucar e porque como minha mãe é tudo, eu não gosto de ver ela sobrecarregada com essas coisas”, iniciou.

Adriane revelou que sua mãe tem criação de porcos, peixes e galinhas, criando tudo para cuidar de um barzinho aos finais de semana. Dessa forma, ela disse que queria que seu parto fosse normal, pois a matriarca não ficaria sobrecarregada.

No entanto, nada feito: “Na vontade de Deus, o parto foi cesárea e daí então veio o sentimento de culpa”.

Adriane e o pequeno Gael. Imagens: Arquivo pessoal da entrevistada
Adriane e o pequeno Gael. Imagens: Arquivo pessoal da entrevistada

“Aí fiquei na casa dela. Quando começava a chegar o final de semana, ela abria o bar, aí tinha vezes que pediam porção, ela fazia, aí ela [ainda] cuidava de casa, roupa, comida né, ela tinha que cuidar de mim e do neto dela. Sei que tipo é uma ajuda que tem que dar, mas durante esse tempo a culpa pesou tanto”, explicou.

Atualmente, Adriane diz que essa culpa com relação à ajuda da mãe diminuiu um pouco, pois já está recuperada e bem para cuidar de Gael. No entanto, ressaltou que a questão, agora, é a sobrecarga. “É bebê, é casa, é comida, é roupa, é bebê de novo, vai trocar fralda, é dar banho, tudo isso pra uma mãe só”.

Ela destacou que, embora atualmente tenha seu marido, ele não a ajuda em nada com as tarefas da criança, trabalhando apenas para comprar as coisas. “Ele acha que a obrigação dele é só botar comida dentro de casa e dar as coisas pro bebê, como fralda e comida”.

Os desafios da gravidez e da maternidade, claro, não são poucos. Sabemos de todo o esforço que as mães colocam na criação de seus filhos, mas a vida é repleta de imprevisibilidade.

Bebês prematuros

A qualquer momento, algo inesperado pode acontecer e mudar toda a trajetória da vida. Izabel Topalian, de 59 anos e divorciada, que o diga. Natural de São Paulo (SP) e mãe das gêmeas Karina e Sabrina, que hoje estão com 20, precisou enfrentar situações extremamente complicadas.

Quando era mais jovem, revelou que sempre quis ser mãe e, embora não tivesse tido nenhum tipo de pressão familiar para engravidar, confessou que ela mesma se ‘autopressionava’. “Em nenhum momento a família me cobrou filhos, porém eu mesma me cobrava, pois o tempo passava e eu não engravidava, e o meu sonho de ser mãe não se realizava”.

Felizmente, ela conseguiu engravidar. Contudo, no nascimento das gêmeas, passou por mais uma dificuldade: “A situação mais tensa foi enfrentar os 20 dias de UTI Neonatal por serem prematuras. Estavam com saúde perfeita, mas tinham que ganhar peso para receber alta. Foram vinte dias muito tensos realmente”.

Izabel com as gêmeas Sabrina e Karina. Imagens: Arquivo pessoal da entrevistada
Izabel com as gêmeas Sabrina e Karina. Imagens: Arquivo pessoal da entrevistada

Bruna, por sua vez, salientou alguns momentos de dificuldade durante a gravidez de Bento e Santiago. Ela afirmou que tiveram situações em que ficou muito fraca, sem conseguir comer por alguns dias.

Além disso, ainda mencionou que teve uma fase em que eu ficou pelo menos três dias sem ingerir água, fato que gerou uma preocupação ‘extra’ nela.

A influencer contou que, quando se descobre que vai ser mãe, ocorre a mudança para um “novo mundo” e explicou: “A gente se sente muito incompreendida, e esse é só o início da nossa mudança para um novo mundo, porque a gente é uma pessoa que tem outros tipos de responsabilidade, outro estilo de vida, outras amizades. Quando a gente se torna mãe, automaticamente a gente vai migrando para um outro mundo, e é bem natural”.

“A gente deixa de ter vontade de ir para uma festa, de sair com as amigas para tomar um drink, começa a pensar mais na nossa saúde, responsabilidade financeira. E aí como as nossas amizades estão acostumadas com outra pessoa, a gente começa a se sentir incompreendida, se sente sozinha, nos afastamos de todo mundo”, continuou.

Bruna ainda detalhou o momento em que mais se sentiu vulnerável durante o início de seus dias como mãe: foi uma fase muito difícil em que ela se sentiu extremamente cansada ao se mudar para a praia, tendo que cuidar por mais de um mês e lidar com a rotina dos gêmeos completamente sozinha, sem nenhum tipo de ajuda.

“Eu lembro que foi uma época em que eu me abandonei totalmente, foquei extremamente nos filhos, estava sempre cansada e ainda tinha que trabalhar”. Ela ressaltou, porém, que isso apenas a deixou mais forte. “Eu me orgulho muito porque é uma fase que eu superei e me fez uma mãe muito mais forte hoje, consigo acreditar que eu consigo cuidar deles melhor do que antes”.

Adriane, por sua vez, revelou que uma grande dificuldade que vem enfrentando é a privação de sono. De acordo com ela, apesar de sua maternidade ter sido “super leve”, avaliou que diversas vezes não dormiu durante a madrugada e ficou bem cansada.

Enquanto isso, o maior problema para Andressa foi conciliar o trabalho com a maternidade. “Uma gestação não planejada, mesmo sendo muito bem vinda, assusta um pouco. Ainda mais para uma menina de 19 anos. Eu gostaria muito de ter aproveitado minha gestação, e ter tido uma gestação tranquila, porém eu precisava trabalhar muito para poder dar o melhor pra minha filha”.

“Eu sempre trabalhei muito desde que a Isabela era pequena. Eu me desdobrava, tinha dias que saia de casa às 8:00 e chegava mais de 22:00. Foi assim até depois que ela nasceu. E eu ainda me culpo muito por não poder ter aproveitado mais essas fases”, explicou.

A romantização da gravidez e da criação dos filhos

Débora, de 29 anos, ainda não tem seu bebê nos braços - mas já se sente mãe. Casada com Jéssica, 30, e morando atualmente em Portugal, está grávida de quatro meses (16 semanas). Segundo ela, a esposa sempre teve aquele “sonho de princesa, que era namorar, noivar, casar, ter filhos e com 30 anos ter a vida toda resolvida”.

Juntas há oito anos, elas sempre procuraram qual seria o melhor meio para ter um filho: pensaram na adoção, na inseminação caseira, inseminação artificial e FIV (Fertilização In Vitro). Após concordarem no ano passado que queriam ser mães, os desafios, então, já começaram. O primeiro deles seria decidir qual método usariam.

É neste momento que entramos em um dos grandes pontos da maternidade e da gravidez: a romantização que gira em torno de todo o processo. Bruna do Erre, inclusive, até comentou que “uma gravidez é uma sequência de traumas. A gente romantiza super, mas se a gente for analisar pode ser bem traumático”.

Débora não poderia concordar mais com essa afirmação. Ela disse: “Eu acho que o momento todo a gente só pensou em ter filho, e a gente esqueceu como que era difícil o maternar, o gestar, o que pra gente tem sido o maior desafio”.

“Eu tive crise de anemia porque eu vomitava só com água, então a gente não imaginava que a maternidade também era isso. Porque as pessoas romantizam muito: 'Ah, ser mãe é tudo de bom. Nossa você vê seu bebê chutando…'. É isso, aquilo, então a gente tinha isso na nossa cabeça. Mas ninguém nunca falou pra gente o tanto que você passava mal, o tanto de dor nas costas, o tanto que seu peito dói, o tanto que você se olha no espelho, se acha feia e não se reconhece”, desabafou.

Bruna do Erre comentou sobre a importância de não romantizar a gravidez e a maternidade. Segundo ela, é fundamental que as mulheres passem a consumir conteúdos de mães reais, que passam por problemas reais, principalmente para que a culpa possa ser pelo menos um pouquinho menor.

“Inclusive tem até um movimento nas redes sociais que as pessoas estão buscando acompanhar a vida de pessoas mais normais, não a blogueira que tem o lifestyle perfeito, que já passou por muitos procedimentos. Até pessoas com menos seguidores estão conseguindo crescer porque o pessoal tá optando por acompanhar pessoas que se identificam. É essa a importância, diminuir um pouco a culpa e fazer as mães entenderem que, na grande maioria dos casos, não é assim como a gente via antigamente no Instagram”.

@brunadoerre Vinhozinho merecido quando o dia acaba 😅 #fy#fyp#gemeos#maternidade♬ „The Four Seasons" - Winter - part 1 60" (Vivaldi) - Orchestra of Classical Music

A futura mamãe Débora ainda comentou sobre o preconceito e a homofobia que ela e a esposa sofrem diariamente. Pessoas olhando feio, médicos conservadores que perguntam “Quem é o pai do seu filho?” ou “Como ele vai lidar com duas mães?”.

A pressão familiar para ter um filho, inclusive, sempre esteve muito presente na vida de Débora - ainda mais depois que ela se assumiu bissexual para sua família e começou a namorar com Jéssica efetivamente. A moça contou que foi muito sofrido para seus parentes aceitarem que ela gostava, também, de mulheres.

“A minha mãe sempre teve aquele sonho de ser avó, a minha avó sempre quis ser bisavó, e eu sou filha única, primeira neta da minha família, então sempre teve aquela pressão muito grande”.

“'Ah! Cadê o netinho? Ah! Agora que você tá namorando mulher, como é que você vai fazer o meu neto? Ah! Se for adotar, não vai ser considerado meu neto. Ah! Se você fizer inseminação e a sua outra parceira que engravida, não vai ser considerado meu neto. Eu quero um filho que seja da sua barriga'. Então sempre teve muita pressão e a gente pensou muitas vezes sobre isso e de como seria isso”, completou.

No entanto, ela afirmou que deu tudo certo: quando decidiu gestar, a família ficou um pouco mais ‘tranquila’, pois ele viria do sangue dela, ou seja, também seria neto deles. Ao mesmo tempo, se questionou: “Mas a pergunta é: será que seria o mesmo se fosse com a minha esposa? Não sei”.

Débora com a esposa Jéssica. Imagens: Arquivo pessoal da entrevistada
Débora com a esposa Jéssica. Imagens: Arquivo pessoal da entrevistada

Um dos principais desafios que o casal crê que irá enfrentar durante a maternidade é a falta de uma rede apoio, visto que elas vivem em Portugal, mas os familiares estão morando no Brasil.

O fator criação também é muito debatido entre as mães hoje em dia. Durante a entrevista, Débora também revelou ter pensado muito no assunto depois de explicar uma situação que aconteceu com ela durante uma consulta médica.

Ela afirmou que foi tirar sangue, quando, de repente, a doutora lhe perguntou: 'Quem é o pai da criança, por que ele nunca vem contigo nas consultas e tal?'. Falei: Não, por acaso ele não tem pai, ele tem duas mães, nós fizemos inseminação e ele tem duas mães”.

Foi aí que a médica perguntou sobre o doador e a situação começou a piorar.

“Nós moramos num país completamente preconceituoso, eles fingem que não são, mas são completamente preconceituosos. Ela perguntou: 'O doador do sêmen é branco de olhos azuis?'. Daí eu falei: Não, claro que não. Ele é preto, assim como a minha esposa e graças a Deus a gente é de uma família preta”.

“Então ela: 'Nossa, mas se fosse vocês, eu até desistia, porque ele vai sofrer muito na escola sendo preto e tendo duas mães. E ela era branca de olhos claros. E ela continuou: 'A minha filha, ela nem parece, eu não sou preconceituosa, eu sou casada, eu fui casada com o pai das minhas filhas, ele é africano, e ele é preto, mas a minha filha, olha só, nem parece que é filha de preto'”.

Nesse momento, Débora questionou: “E se ela parecesse, era algum problema?”. Enquanto isso, a doutora desconversou. “'Ah, mas é um pouco complicado, e não sei o que'. Daí isso me fez repensar muitas coisas, sobre como vai ter que ser a criação do meu filho, como que vou ter que ensinar a lidar com esse tipo de pessoa”.

A história de Débora com a médica trouxe à tona o debate sobre a criação dos filhos. Adriane e Bruna reclamaram bastante de um ponto com o qual sofrem em comum: a opinião alheia rondando a maternidade.

“Sempre tem uns ali querendo se meter no meio né, porque tipo agora é da fase da criança pegando as coisas, jogando, batendo, mordendo, agora mesmo está na fase de morder. Aí uma das dificuldades da criação está sendo isso, porque enquanto eu reclamo né, falo alguma coisa, as pessoas acham ruim, mas eu não ligo porque é meu filho. Então tem que ser sobre a minha criação, o pessoal já teve filhos, já teve os deles, eles criaram do jeito deles, então agora é eu, eu vou criar do meu jeito”, explicou Adriane.

Bruna e Andressa também precisam lidar com esse tipo de comentário, mas no caso delas é um pouco pior. Isso porque elas precisam conviver com o ambiente das redes sociais todos os dias e sempre existe alguém querendo dar pitaco na criação.

“Sempre existem muitos palpites, muitas opiniões diferentes. Se eu opto por não dar doce para os meus filhos até os dois anos, sempre vai vir alguém que vai te dizer 'mas eu dei e meu filho tá aí, super saudável'. Isso é uma das coisas mais difíceis assim, até porque as vezes vem até de pessoas próximas nossas, por sermos pessoas diferentes e cada um pensar de um jeito. Quem se expõe nas redes sociais também tem isso né, às vezes a gente escuta uma opinião e fala 'não quero saber'. Fazer com que as pessoas respeitem a tua opinião com relação aos filhos é muito difícil”, disse a mãe dos gêmeos.

Andressa também ressaltou que a maternidade solo é uma “carga imensa”, e procura sempre levá-la da melhor maneira possível.

@andressamaedaiisa Cada um cuida do seu, vamos combinar assim? #educacaoinfantil#maternidadereal♬ som original - Andressa Marques

Embora a culpa seja parte da vida materna, não tenha como fugir, a maternidade não deve ser regida por ela. A escritora Cris Guerra, autora do Best-Seller 'Para Francisco', disse uma vez: "A culpa toma um café em casa, mas não tem quarto de hospedes". Aceitar que a maternidade não é perfeita, é o primeiro passo para lidar com a culpa.

Assim como essas mães exemplificaram em suas histórias, não existe o jeito certo ou errado de ser mãe, existe o seu jeito. E ninguém melhor do que você para saber o que seu filho precisa. Isso é maternidade real.

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