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Dias das Mães

O que é um bebê arco-íris?

Neste Dia das Mães, o Diário de S.Paulo trouxe a jornada pela maternidade de uma mãe de três filhos, sendo um deles um anjinho

Bebês arco-íris: a esperança depois da tempestade - Imagem: reprodução portal Dra. Cegonha
Bebês arco-íris: a esperança depois da tempestade - Imagem: reprodução portal Dra. Cegonha

Vitória Tedeschi Publicado em 14/05/2023, às 08h00


Quem não se emociona ao ver um arco-íris colorido e brilhante no céu? As cores que tanto nos sensibilizam trazem alegria e sempre surgem após uma tempestade, deixando as nuvens escuras para trás. Foi a partir desta sensação que surgiu o termo "bebê arco-íris", que simboliza uma grande conquista após um momento extremamente delicado.

Essas são as crianças que nascem após perdas gestacionais, geralmente marcadas por abortos espontâneos(quando a gravidez é interrompida sem a vontade da mulher), mortes prematuras ou ainda situações complexas onde é preciso optar pela vida do feto ou da mãe, durante o parto, por exemplo.

Vale citar que, de acordo com a revista médica The Lancet, estima-se que o aborto espontâneo atinja cerca de 15% a 20% das gestações até a 22ª semana - 6 meses. Ou seja, aproximadamente 23 milhões de gestações em todo o mundo a cada ano ou 44 a cada minuto.

Dessa forma, o momento do nascimento de um bebê após uma perda é de extrema alegria e um respiro de alívio. Isso porque representa uma nova fase feliz e estimulada pelo sonho concretizado de finalmente poder segurar um filho no colo.

Assim, por todas essas razões, a chegada de um bebê arco-íris costuma ter um significado ainda mais especial, apesar de ser marcada por um momento ruim.

Início do sonho

Bianca Vital, que é pedagoga, especialista em educação socioemocional e mãe de três filhos, sendo um deles um anjinho, é um exemplo de mulher forte que apesar das grandes dificuldades nunca desistiu do sonho de ser mãe.

Desde que se casou, em 2015, o plano era ter o primeiro bebê em meados de 2021. No entanto, da mesma maneira com que alguns sonhos são atrasados, outros são antecipados. E assim, depois de apenas dois anos, em uma gravidez não planejada, veio a sua primeira filha: Carolina.

"Os primeiros meses para mim foram muito difíceis, eu tinha a sensação de que eu não seria uma boa mãe, porque eu fui uma criança que não brincava de boneca, gostava de brincar de bola, de correr, de bicicleta, de pipa, de bolinha de gude. Então, eu ouvia [antes da gravidez] que eu não seria uma boa mãe porque eu era muito moleca", relembra Bianca sobre o sentimento nos primeiros meses da gravidez, quando teve muito medo da maternidade.

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Bianca se apaixonou pela maternidade e criou uma conexão muito grande com sua primeira bebê / Imagem: arquivo pessoal

Ao longo dos meses, a conexão entre mãe e filha foi aumentando e apesar do medo, que ainda estava presente, ela seguiu firme até o parto de Carol, que foi natural, humanizado e com ajuda de uma doula de confiança.

"O trabalho de parto durou 36 horas e eu acredito que o meu emocional tenha pesado muito nisso, porque ela nasceu com 41 semanas e 1 dia, e apesar da gestação já estar bem avançada eu queria que prolongasse o máximo possível ela na barriga por conta desse medo", diz a pedagoga que acredita que a demora no nascimento tenha a ver com a ideia de ainda não se sentir preparada para ser mãe.

Após o contato inicial, onde sentiu-se assustada por ter um ser completamente dependente dela, Bianca conta que começou a entender o propósito de tudo e o quanto ela também precisava da filha. Foi quando realmente se apaixonou pela maternidade.

"Eu li sobre maternidade, puerpério, introdução alimentar, eu estudei tanta coisa por conta própria e eu fui fazendo as minhas escolhas para criação e para a educação dela e que hoje eu tenho muito orgulho de ter feito isso, porque eu vejo os resultados agora", conta ela.

Neste momento, em que mergulhou no mundo dos bebês, nasceu no coração de Bianca a vontade de ser mãe de mais um filho.

"Quando a Carol estava com uns 6/7 meses eu falei para o meu marido que eu queria ter mais um filho. Eu sempre falei que eu queria três. Mas aí depois que a Carol nasceu eu vi que não queria três, eu queria dois. E aí eu falei pra ele que eu queria ter mais um e a minha intenção era engravidar antes dela fazer dois anos", relembra.

A mãe conta que ela e o marido tinham alguns 'pré-requisitos' para a chegada do outro filho, dentre eles comprar uma casa própria e tratar um tumor de ovário descoberto após a primeira gravidez. Ela também precisava tratar uma ansiedade que havia desenvolvido para garantir que estaria preparada para a nova gestação.

Os meses se passaram, ela retirou o tumor, tratou uma endometriose (doença em que o tecido que reveste o útero cresce fora dele), até que tudo parecia no lugar certo, como haviam imaginado, e os dois decidiram que aquele era o momento perfeito para tentar o segundo bebê.

No entanto, infelizmente, nem tudo saiu como Bianca esperava…

A tempestade

Apesar das orientações médicas de que talvez ela demorasse para conseguir engravidar por conta da cirurgia de retirada do tumor, que retirou também quase um dos ovários inteiro, a gravidez veio logo nas primeiras tentativas e o primeiro teste já deu positivo.

"Eu fiquei supereufórica. Eu fiz o teste no banheiro da escola [onde trabalhava] e eu saí chorando. Aí eu fiquei pensando em como contar pro meu marido, porque era uma coisa que a gente queria muito, então eu falei: 'Vou fazer uma surpresa'", inicia.

Bianca conta que fez uma reserva em um restaurante onde normalmente acontecem pedidos de casamento e namoro escritos em pratos de sobremesa. A ideia foi pedir uma sobremesa e assim que chegasse o marido teria a grande surpresa: "Agora, você é pai de dois".

"Ele começou a chorar, de soluçar e aí eu chorei também. A gente ficou muito feliz e muito emocionado. Eu mostrei para a minha mãe, todo mundo estava muito feliz", continua.

A notícia tão esperada encheu de alegria o coração do casal, de Carol e de toda a família. No entanto, depois de apenas uma semana, uma noite mudou todos os planos de Bianca para sempre.

"Eu acordei por volta das 5 da manhã tendo um sangramento muito forte. Quando eu entrei no banheiro eu acendi a luz, eu vi sangue nas minhas pernas e eu já comecei a chorar muito. Eu estava ali, e via aquela água escorrendo com aquela quantidade de sangue eu pedia muito pra Deus pra não ser aquilo", inicia ela.

Bianca conta que já imaginava o que estava acontecendo e ficou muito tempo no chuveiro, sentada, absorvendo tudo:

A sensação era que eu estava escorrendo pelo ralo, sabe? Como se eu tivesse virado aquele líquido junto com aquela água do chuveiro e indo embora".

Após o grande sangramento, ela correu para o hospital, fez alguns exames e depois de dois dias a notícia mais temida veio: ela havia sofrido um aborto espontâneo e não estava mais grávida.

A tempestade havia chegado na vida de Bianca que, apesar de se sentir em pedaços, também pensava muito em sua outra filha: "Eu pensava muito na Carol e falava: 'Meu Deus, a Carol tá aqui'. E eu ficava perdida entre estar sofrendo por alguém que tava indo embora e ter que ter forças pra alguém que estava ali e precisava de mim".

Depois de alguns dias e ajuda de sua psicóloga, Bianca conta que conseguiu entender que não tinha culpa pelo que havia acontecido, sentimento comum entre as mulheres que perdem seus bebês e costumam achar que poderiam ter feito algo para evitar a situação.

"Eu consegui entender que eu não tive culpa, que não teve nada que eu fiz que causou aquilo e que não teria nada que eu pudesse ter feito para impedir. Isso foi muito importante pra eu conseguir aceitar, pra eu conseguir entender, porque é primeira coisa que vem na cabeça, né? Então, isso pra mim foi muito claro por conta da terapia", explica ela.

Apesar de ter ficado grávida apenas por uma semana, Bianca afirma que o sentimento pelo bebê já era muito intenso e por isso a perda foi tão difícil.

"Por mais que tenha sido pra mim uma gravidez de basicamente uma semana, foi tão intenso porque pra mim esse bebê já vinha desde quando a gente conversava desde quando a Carol tinha seis meses que eu comecei a desejar ter um outro filho. Fisicamente ele ficou comigo uma semana, mas foi tão intenso, tão intenso, foi uma ligação tão forte, então isso foi muito difícil", ressalta.

O arco-íris

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Carol, a irmã mais velha, e Caetano, o bebê arco-íris, são irmãos de um anjinho / Imagem: arquivo pessoal

Depois do momento mais difícil de sua vida, mas que a fez ser mãe de dois bebês, sendo um deles um anjinho, o desejo de ter seu terceiro filho ainda estava vivo em seu coração. O que Bianca não esperava é que ele seria realizado quando menos esperava, quatro meses depois de sua perda, ela estava grávida pela terceira vez.

O medo que teve durante a primeira gestação - de não saber se seria uma boa mãe - mudou, tomou outra forma. Ele agora era o medo da perda. Medo de perder novamente o que quase esteve em seus braços.

"Foi assustador demais. Tive medo do começo ao fim", relembra Bianca, que só conseguiu contar para a família e amigos que estava grávida de novo depois de três meses.

Apesar do medo dia e noite, a gravidez correu bem, e o dia do nascimento chegou. Muito diferente do primeiro, que demorou 36 horas, o trabalho de parto do seu bebê arco-íris, Caetano, durou apenas 1h30.

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Bianca teve seu segundo parto humanizado e com uma equipe que deu todo o suporte que ela precisava / Imagem: arquivo pessoal

"Foi tão mais fácil porque eu estava tão consciente de tudo e eu desejava tanto que o Caetano nascesse. Eu precisava olhar pra ele e saber que o meu terceiro filho tava ali nas minhas mãos. Que eu podia tocar o meu terceiro filho. E na hora que ele nasceu e eu segurei ele, eu dei um suspiro aliviado que eu não conseguia desde a perda do outro bebê", conta ela.

O sentimento de Bianca ao olhar para o seu bebê arco-íris traduz tudo que esse termo significa: a esperança depois da tempestade.

Eu acho que o arco-íris é uma explicação perfeita porque quando a gente perde um bebê a gente vive num eterno nublado, então, não interessa se lá fora está um sol, parece que onde a gente anda tem uma nuvenzinha na nossa cabeça, sabe? Parece que o tempo está fechado dentro da gente, tem sempre alguma coisa ali que está doendo muito. Não é algo que você consegue disfarçar ou esquecer, você tem que se esforçar pra sorrir, você tem que se esforçar para viver e dar o próximo passo. E quando o bebê nasce, ele abre esse céu de novo, ele consegue espantar essa nuvenzinha da cabeça, consegue espantar esse esse nublado todo e ele vem com muita esperança", define Bianca.

Ela conta ainda que Caetano chegou para revolucionar sua vida, mas que apesar de ter vindo depois de um momento tão difícil da perda de um bebê, o assunto não é evitado dentro de casa.

A Carol fala muito desse anjinho que a gente tem. Ela fala que sente saudade dele, que ela queria ir para o Céu rapidinho pra ver ele. E hoje ela falou que quando ela virar um anjinho, ela vai sair pelo Céu atrás dos anjinhos perguntando: 'Você é meu irmão anjinho?'. Até ela encontrar, porque ela quer muito saber se ele cresceu e como ele é. E eu me considero mãe de três apesar de ter sido tão difícil essa segunda experiência, me considero mãe de três", conta emocionada.

Por fim, neste Dia das Mães é importante mencionar que, todas as mulheres que têm esse sonho e ainda não conseguiram realizá-lo, o recado é: não desista do seu sonho, pois, assim como a história de Bianca, após grandes tempestades é possível encontrar um arco-íris!

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