Diário de São Paulo
Siga-nos
Mês das mulheres

Os dados que provam o desafio de ser mulher

A ONU revelou que os desafios não são fáceis para as mulheres em nenhum lugar do mundo

O mês das mulheres virou uma data para lembrar algo que está nos dados, no comportamento, nos noticiários: o mundo é machista - Imagem: reprodução Freepik
O mês das mulheres virou uma data para lembrar algo que está nos dados, no comportamento, nos noticiários: o mundo é machista - Imagem: reprodução Freepik

Vereadora Janaína Lima Publicado em 21/03/2023, às 16h04


No mês da mulher, mais do que homenagens, precisamos de conscientização que dure mais do que 30 dias, e sim uma vida inteira. O Dia Internacional da Mulher foi criado em 1917 e, consequentemente, fez de março o mês da mulher.

A data tinha a intenção de celebrar a luta pelos direitos das mulheres. Essa celebração continua, mas também passou a ser uma data para nos lembrar de algo que está nos dados, no comportamento, nos noticiários: o mundo é machista.

Quem prova isso não sou eu, é a ONU, a Organização Internacional do Trabalho, a Fundação Seade, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública e muitas outras entidades. Na política ou no mercado de trabalho, na desigualdade salarial ou nos dados da violência, a mulher é a principal prejudicada.

Na política, nosso direito de participação só começou em 1922, quando a mulher pôde votar. Nas câmaras municipais e estaduais somos, em média, 15%, No senado, somos 34%. Na câmara federal, chegamos a 17,7%. Nos últimos 40 anos, 1 mulher a cada 16 homens ocuparam cargos de comando nos 3 poderes.

A situação não é diferente no mundo corporativo e até na vida privada. Uma mulher que não deseja ter filhos tinha que pedir autorização ao marido para fazer a laqueadura, cenário que só mudou esse ano. No mercado de trabalho, são reveladores os dados da Organização Internacional do Trabalho.

A desigualdade permaneceu inalterada nos últimos 20 anos. Ela afeta desde as condições de trabalho até a diferença salarial. A nível mundial, as mulheres ganham 51 centavos a cada dólar ganho pelos homens.

Além disso, o desemprego também afeta mais elas, são 15% das ativas no mundo querendo mas não conseguindo um emprego, contra 10,5% de homens. Nos países de baixa renda, esse percentual chega a 24,9% das mulheres.

Se apresentar dados mundiais torna o problema distante, podemos pegar nosso estado. Segundo a pesquisa Perfil da Mulher Paulista, da Fundação Seade, mesmo mais escolarizadas, as mulheres ganham menos do que os homens.

Entre mulheres de 25 até 44 anos, 34% tem graduação, entre os homens, esse número fica entre 27% e 28%. Já entre 45 a 54 anos, 26% das mulheres concluíram o ensino superior, contra 22% dos homens.

Apesar disso, ao se comparar a renda, eles que levam vantagem. No 3º trimestre de 2022, o renda média de um homem era R$ 27,15 por hora, de uma mulher, R$ 22,09. Se o homem e a mulher fossem negros, caia para R$ 15,65 e R$ 13,86, respectivamente.

Isso ilustra bem a diferença de oportunidades que existe só pelo fato de ser mulher. Um relatório divulgado pela ONU é ainda mais preocupante. Ele revela que, no ritmo em que estamos, levará de 300 anos para que homens e mulheres alcancem a igualdade. Ao incorporar países que caçam abertamente os direitos femininos, a ONU revela que os desafios não são fáceis para as mulheres em nenhum lugar do mundo.

Como se todas essas disparidades que nos atingem já não fossem naturalmente excludentes, há ainda um dado que deveria ser motivo de vergonha para qualquer nação, e que, infelizmente, o Brasil está no topo da lista.

Nosso país é o 5º em que mais se mata mulher simplesmente por ser mulher, o crime tipificado como feminicídio. Em 2022, 1 mulher foi assassinada a cada 6 horas, 5% a mais que em 2021. Uma pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelou que, em 2022, 35 mulheres foram agredidas física ou verbalmente por minuto. Isso é 28,9%, ou 18,6 milhões de mulheres. O número é 4,5% a maior do que a penúltima pesquisa.

Isso, lamentavelmente, foi divulgado na mesma semana em que uma humorista foi ameaçada por um influenciador que lucra sustentando exatamente todos os preceitos machistas que nos levam a atingir esses dados, da mulher como um ser inferior, a serviço do homem e do exercício de sua masculinidade.

Fico feliz de ter tido exemplos, e acredito, de ser exemplo, de mulher que não abaixa a cabeça e se impõe. Devemos nos orgulhar de nossas conquistas, manter nossa natureza conciliadora e, acima de tudo, atuar com coragem para modificar esse cenário. Nos fazer entender de que não estamos aqui para competir, mas para contribuir, é o caminho para uma mudança que tornará toda a sociedade mais justa e democrática.

Compartilhe  

últimas notícias