Diário de São Paulo
Siga-nos
Cinderela

App de transporte feminino, que dá golpe em licenciados, teve aporte de quase R$ 4 milhões; saiba tudo

A CEO do aplicativo, Gabriela Corrêa, vive ostentando um conto de fada, enquanto licenciados amargam com prejuízos superiores a R$ 2 milhões

Empresária Gabriela Corrêa diz que App surgiu para empoderar mulheres; muitas empobreceram - Imagem: reprodução Instagram @ladydriverapp
Empresária Gabriela Corrêa diz que App surgiu para empoderar mulheres; muitas empobreceram - Imagem: reprodução Instagram @ladydriverapp

Jair Viana Publicado em 20/12/2022, às 15h19


Apesar de dar um golpe em seus licenciados que pode ultrapassar os R$ 2 milhões, o aplicativo de transporte feminino Lady Driver teve aporte financeiro de quase R$ 4 milhões.

O Diário teve acesso com exclusividade a dados da startup SMU Investimentos, empresa que atua na área de crowdfunding. O valor foi conseguido em duas rodadas de negociação entre agosto de 2019 e setembro de 2020.

O sistema de crowdfunding consiste na captação de recursos para diversos fins, inclusive na viabilização de projetos de negócios.

A Lady Driver, em contrato firmado com SMU Investimentos, uma das mais requisitadas no mercado, levantou R$ 3.734.000 em duas rodadas de negociação realizadas em agosto/2019 e setembro2020.

As informações foram confirmadas pelo CEO fundador da SMU Investimentos, Diego Peres. Ele explicou que os aportes foram os únicos feitos. Segundo Peres, o aplicativo acabou não cumprindo o contrato no sentido de fornecer informações sobre os resultados obtidos através dos recursos que foram levantados. O último contrato foi em setembro de 2020.

A SMU é cadastrada junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão do Ministério da Economia, que normatiza e fiscaliza todas as operações do mercado mobiliário.

Ex-funcionários do aplicativo se disseram surpresos com o aporte financeiro. Eles não sabem dizer onde o dinheiro teria sido investido; e se teria sido investido. A CEO do aplicativo, Gabriela Corrêa, não se pronunciou sobre o assunto.

Sobre os licenciados que buscam na Justiça a solução, o empresário Mauro Antunes de Souza reclama indenização de R$ 942 mil. Souza é o licenciado que fez o maior investimento na compra de licenças e na divulgação do aplicativo em sua região. Ele já ingressou com ação na Justiça. A reação de motoristas e gestoras do App à reportagem do Diário, de sexta-feira, 16, foi imediata.

Um dos diretores do aplicativo, conhecido como José Reynaldo, ex-marido da CEO, Gabriela Corrêa, é apontado como alguém violento, grosseiro, misógino e machista. A maioria das mulheres que trabalharam com o aplicativo dizem que ele é uma "pessoa de difícil relacionamento".

Em um aplicativo de mensagens, José Reynaldo disse que a reportagem "é fake news" e que não era para dar importância. A reportagem tentou contato com ele, mas não obteve resposta. Reynaldo não atende. Há prestadores de serviço que também reclamam por não conseguirem receber pelos serviços prestados.

Processos

No tribunal de Justiça de São Paulo é possível ver o registro de pelo menos 12 ações de rescisão de contrato com o pedido de ressarcimento. Em três dessas ações, os valores são superiores a R$ 260 mil.

Há casos de pessoas que investiram todas as economias que tinham juntado ao longo da vida e hoje estão em situação difícil, sem dinheiro, sem emprego e não vislumbram perspectiva alguma diante da situação.

A Justiça já concedeu pelo menos três liminares (decisões provisórias) determinando a rescisão dos contratos, suspendendo cobrança de mensalidade e impedindo o grupo empresarial de negativar os nomes desses licenciados.

Em todos os processos, a reclamação que originou a rescisão é a falta de estrutura para operação do aplicativo. A empresa não oferecer o apoio tecnológico prometido no negócio.

O caso

O aplicativo Lady Driver foi idealizado para atender exclusivamente o público feminino no transporte de passageiras. Segundo uma das fundadoras, a empresária Gabriela Corrêa, o objetivo era empoderar a mulher dando a ela a oportunidade de ser gestora de um serviço rentável que poderia garantir sua independência financeira.

Dezenas de mulheres em pelo menos 60 cidades brasileiras compraram licença da marca lady Driver para operar o sistema. Investiram no mínimo R$ 40 mil para poder usar o aplicativo. Fizeram investimentos na estrutura e no marketing com divulgação nos meios de comunicação tradicionais (rádio, televisão, jornais, panfletos e outros), além das redes sociais.

O problema

Todas as licenciadas que ingressaram com ações na Justiça, em São Paulo e outros estados, reclamam que o sistema não funciona.

A empresa não disponibiliza a plataforma como prometido em contrato. Não existe um suporte tecnológico para dar assistência. Com isso, o aplicativo não pode operar nas cidades onde foi licenciado.

Além disso, a advogada Edna Brito ingressou com ações para rescindir os contratos de pelo menos 30 licenciadas.

A Justiça concedeu três medidas liminares e o aplicativo está proibido de cobrar mensalidade ou inscrever as mulheres nos serviços de proteção ao crédico. Experiente, Edna Brito, acredita que ao final das ações, a Justiça reconhecerá que as licenciadas foram vítimas.

Compartilhe  

últimas notícias