Diretor geral da OMS, Tedros Adhanon disse algo que pode estigmatizar gays, segundo internautas
João Perossi Publicado em 28/07/2022, às 09h51
O número de infectados pela Varíola dos Macacos, a Monkeypox Virus, tem crescido num rítmo preocupante, segundo a OMS.
Quinta-feira passada (21), o diretor geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanon, declarou que já são mais de 16 mil casos notificados em 71 países, mas que esse número possivelmente está subnotificado.
Nessa quarta-feira (27) o diretor voltou a público para dar mais informações sobre a doença. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos levantou a possibilidade do maior número de contágios acontecer por meio do contato sexual.
No Brasil o número de casos sobe para perto de mil em todos os estados, com 978, e 744 casos apenas no estado de São Paulo.
Ainda na declaração, Adhanon gerou polêmica ao dizer que pelo contágio acontecer também por contato sexual, "homens que fazer sexo com homens" devem reduzir número de parceiros. De maneira contraditória, o diretor disse ainda que estigmatizar populações LGBT pode ser mais perigoso do que o próprio vírus.
O diretor da OMS pode ter usado como base dados da Agência de Segurança da Saúde do Reino Unido (UKHSA em inglês), que pediu para que pacientes com casos confirmados fizessem relatório mais elaborado sobre hábitos e rotina, com o objetivo de entender melhor a evolução da doença.
O estudo contou com 699 pacientes, menos que a metade de casos confirmados no Reino Unido e bem menos que 10% das notificações globais. Segundo o estudo, 681 pacientes se declararam dentro da categoria "HSH", termo médico utilizado para categorizar homens gays e bissexuais, mulheres transexuais e não-binários, além de outras orientações.
Investigação mais aprofundada, apenas sobre vida sexual de pacientes, aconteceu em 45 dos casos, reporta o portal CNN Brasil, dos quais 44% relataram mais de 10 parceiros sexuais em até 3 meses do contágio.
A declaração da OMS repercutiu mal entre pesquisadores. Segundo a doutora e epidemiologista Lillith Whittles, modeladora de doenças contagiosas do Imperial College de Londres, os dados podem indicar relações mais amplas do que a afirmada pelo diretor.
“Os HSH têm um relacionamento melhor com os médicos do que os homens heterossexuais”, afirmou a pesquisadora para a CNN. A pesquisadora também explica que a rede LGBT não possui natureza diferente dos demais grupos quanto a relações sexuais, mas que é mais densamente conectada.
Já para Boghuma Titanji, que trabalha como virologista da Emory University e também para a revista Science, ainda é muito cedo para fazer tal relação: “Não sei se estamos necessariamente procurando o suficiente nas redes sociais heterossexuais para concluir que esse não é um problema mais amplo”.
Nas redes sociais, a polêmica repercute de maneira crescente. Enquanto grupos homofóbicos usam as redes sociais, como Twitter, para classificar essa doença, que não é classificada como uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), como "doença de gays", outros internautas fazem relação entre frase do diretor da OMS com o estígma sofrido pelas populações LGBT+ durante a epidemia de HIV, nos anos 90.
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