O depoimento de Freire Gomes foi realizado na última sexta-feira (1°) e durou quase oito horas
Ana Rodrigues Publicado em 05/03/2024, às 13h19
O depoimento do ex-comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes, à PF implicou diretamente com o ex-presidente na elaboração da minuta golpista e na articulação do plano para impedir que Lula voltasse para o Planalto após vencer as eleições em outubro de 2022.
De acordo com o Jornal do Brasil, o depoimento foi realizado na sexta-feira (1°), e durou quase oito horas. Freire Gomes afirmou que foi o próprio Bolsonaro, juntamente com o ministro da Defesa, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, quem lhe apresentou duas versões da minuta golpista.
A declaração de Freire coincidiu com a delação do tenente coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, que teria dito à PF que o ex-presidente recebeu do então assessor especial da Presidência, Filipe Martins, a primeira versão, que previa a prisão dos ministros Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado.
Porém, Bolsonaro teria enxugado o documento, que em uma segunda versão previa apenas a prisão de Moraes, seu principal desafeto.
Freire Gomes relatou também que obedecia ordens diretas de Jair Bolsonaro para que não desmontasse os acampamentos golpistas em frente aos quartéis-generais. No entanto, ele reiterou que, desde o princípio, se opôs ao golpe, o que fez com que virasse alvo do também general - da reserva - e candidato a vice, general Walter Braga Netto.
A oposição ao golpe também partiu do ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, que confirmou a versão em depoimento no dia 23 de janeiro à PF.
Segundo os investigadores, o depoimento de Freire Gomes e o de Baptista Júnior, foram consistentes e reveladores, e teriam preenchido lacunas da delação de Cid.
O depoimento implicou diretamente Bolsonaro como líder da organização criminosa golpista. Freire Gomes ainda alegou que, a iniciativa de convocar o general Estevam Theophilo, comandante do Coter, para mobilizar as Forças Especiais do Exército, os chamados "kids pretos", foi de Bolsonaro.
Os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica também confirmaram pelo menos duas reuniões da cúpula das Forças Armadas com o então ministro da Defesa para tratar do golpe.
Um dos encontros, após a derrota nas eleições, inclusive, foi convocado pelo próprio Bolsonaro, que encarregou o ministro da Defesa de liderar a "cadeia de comando" das Forças Armadas para o golpe.
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