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Homofobia

Em live, empresária é homofóbica e gera revolta nas entidades

A gravação repercutiu negativamente assim que foi ao ar

Em live, empresária é homofóbica e gera repúdio de entidades - Imagem: reprodução Instagram
Em live, empresária é homofóbica e gera repúdio de entidades - Imagem: reprodução Instagram

Vitória Tedeschi Publicado em 03/11/2022, às 17h49


Na última quarta-feira (2), a nutricionista e empresária Isadora Latuf Jardim fez uma live em suas redes sociais e, ao comentar a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), fez afirmações de cunho homofóbico que geraram revolta nas redes sociais e repúdio de grandes entidades.

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de Franca e o Coletivo Arco-Íris, foram uma das instituições que reagiram às afirmações com notas de repúdio (confira as notas na íntegra mais abaixo). O deputado estadual eleito Guilherme Cortez (PSol) também divulgou que representou contra Isadora junto ao Ministério Público Estadual.

"Tenho amigos homossexuais, os amo, os respeito. Não desejo isso para os meus filhos, como mãe e como cristã. Vou amar os meus filhos sempre, de qualquer maneira, mas eu não desejo isso para os meus filhos", afirma a nutricionista em live.

Isadora segue afirmando que quer que seus filhos "cresçam sabendo o que é a família, o que é o amor do homem e da mulher", e que o sexo "só que é uma delícia quando feito com amor, é uma delícia quando feito depois de um sacramento, é uma delícia quando feito como um ato divino que serve para a gente procriar, também, né?", dentre outas afirmações polêmicas.

Após o vídeo de conteúdo homofóbico viralizar, o Coletivo Arco-íris afirmou que vai tomar as providências cabíveis contra Isadora Latuf Jardim e o deputado eleito Guilherme Cortez publicou um vídeo nas redes sociais.

"Representei contra a blogueira homofóbica de Franca no Ministério Público. LGBTfobia é crime e temos que dar uma lição para quem insiste em disseminar discursos de ódio: teremos tolerância zero com esse tipo de coisa. Bobeou, vai tomar processo", escreveu Cortez.

Assista a um trecho em live:

Nota da OAB Franca

"A Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da 13ª Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil do Estado de São Paulo vem manifestar repúdio e imensa indignação quanto às falas homofóbicas de influencer digital francana, expressas em suas redes sociais, por meio de uma (live) no Instagram.

Sua fala apresenta graves ofensas às pessoas da comunidade LGBTQIAPN+ na medida em que conclui que não deseja que seus filhos sejam homossexuais "isso"; quando expressa claramente que homossexuais não são cristãos, quando alega que no meio homossexual não existe relações de afeto entre os casais ("sexo deve ser feito com amor") quando deslegitima o casamento e as famílias formadas por casais homossexuais.

Assim diz o art. 59 de nossa constituição federal: "Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, a igualdade, a segurança e à propriedade, nos termos seguintes":

Ainda que em 2019, o Supremo Tribunal Federal tenha decidido que atos de preconceito, praticados em razão de orientação sexual e de identidade de gênero são considerados crimes de homofobia e transfobia, os casos no país ainda são muito recorrentes. Somos o país que mais mata pessoas transexuais e travestis no mundo e por isto, atos e falas homofóbicas precisam ser fortemente combatidos.

O presente tema urge ser amplamente debatido tanto na sociedade quanto pelas autoridades e instituições democráticas brasileiras a fim de preservar os direitos e garantias fundamentais dos indivíduos pertencentes a estes grupos já tão marginalizados.

Desta forma, a Comissão de Diversidade Sexual e de Gêneros da 139 Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil do Estado de São Paulo, em atenção ao seu propósito da construção de uma sociedade mais justa e igualitária, mais humana e livre de quaisquer atos de violência contra esta população tão discriminada, repudia, veementemente, o episódio supramencionado e outros do tipo.

Aproveita a oportunidade para reafirmar o compromisso da Comissão na defesa dos direitos e interesses da população LGBTQIAPN+".

Nota do Coletivo Arco-Íris

"O Coletivo Arco-Íris vem a público repudiar as palavras da nutricionista e empresária Isadora Latuf Jardim. Disfarçada de opinião, ela profere um discurso LGBTfóbico, usando termos pejorativos como "ideologia de gênero", um conceito que nem existe.

Se a referida declaração seguisse apenas o viés há muito conhecido dos discursos com contexto bíblico, dos quais muitos líderes religiosos fundamentalistas seguem se valendo, não nos causaria tanto espanto. Porém, Isadora Latuf carregou sua fala com uma dose horrenda de preconceito, ódio e, principalmente, desconhecimento religioso.

O discurso de Isadora Latuf beira o absurdo, extrapolando a liberdade religiosa e de expressão, tornando-se um discurso odioso, fanático e amplamente desproposital, com consequências potencialmente desastrosas, principalmente para quem a acompanha.

Faz-se também urgente e necessário esclarecer que, apesar dos tempos sombrios que vivemos, encontramos no Judiciário Brasileiro o respaldo ante a inércia do Poder Legislativo, para que atitudes como as da referida não sejam apenas estatísticas. Sim, a mais alta corte de justiça do país, o Supremo Tribunal Federal, equiparou por meio da AD26 e do MI4733 os crimes LGBTIfóbicos aos crimes de racismo, crimes estes inafiançáveis e imprescritíveis.

Isadora Latuf atinge toda a coletividade da comunidade LGBTI+. Nos encontraremos nas barras da lei – a lei dos homens e das mulheres. Não se deve acreditar em um Deus como este pregado pela Isadora, que espalha preconceitos, estigmas e ódio!

Lembramos também, mais uma vez, que a sociedade brasileira é uma sociedade secular, e portanto, nenhum texto religioso - e sua interpretação, deve ter qualquer caráter de lei ou de mandamento social.

Já estamos tomando as providências cabíveis contra ela, visto que homofobia é crime.

Eduardo Valentino
Diretor Presidente Coletivo Arco-Íris Franca".

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