Diário de São Paulo
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CALOTE E GOLPE

Dona de App segue dando golpe e foge de franqueados e da Justiça; prejuízo passa de R$ 3,5 milhões

O App Lady Driver, idealizado e sob gestão da empresária Gabriela Aparecida Corrêa, continua não funcionando e pelo Brasil as vítimas não sabem o que fazer

Gabriela Aparecida vende licença e libera plataforma a licenciados. - Imagem: reprodução I Pexels
Gabriela Aparecida vende licença e libera plataforma a licenciados. - Imagem: reprodução I Pexels

Jair Viana Publicado em 01/09/2023, às 18h03


A empresária Gabriela Aparecida Corrêa, CEO do aplicativo Lady Driver, lesou e continua fazendo novas vítimas que, interessadas em atuar na área, pagaram pela licença de uso da marca e da estrutura tecnológica, que era oferecida pela plataforma.

Por todo o país há vítimas com prejuízos que vão de R$ 50 a mais de R$ 200 mil. Em nota, a empresa responsabiliza as licenciadas por não conseguirem operar a plataforma. Nem a Justiça consegue localizar Gabriela para entregar intimações dos vários processos já em andamento, inclusive de despejo.

Um golpe que hoje pode passar dos R$ 3,5 milhões está em andamento mesmo com ações que pipocam na Justiça. Trata-se do ''golpe da Lady''. Lady Driver é um novo aplicativo de transporte individual de passageiros (transporte por App), exclusivo para o público feminino, que é acusado de vender licenças de uso e não garantir a execução do serviço.

A reportagem acompanha o caso desde o início, quando artistas e personalidades famosas também caíram no golpe. Hoje, de norte a sul do país tem gente com prejuízo por investir no serviço. Uma jornalista empreendedora acabou caindo no golpe, pois o marketing do aplicativo "é agressivo", disse a ela.

À reportagem, sob o compromisso do sigilo de sua identidade, a jornalista disse que depois de várias reuniões e troca de informações, a exemplo de outros investidores, também acreditou e investiu no negócio. Logo no início, a jornalista conseguiu cadastrar cerca de 40 mil mulheres interessadas e trabalhar para o aplicativo.

No primeiro dia que o aplicativo foi liberado, conta, mais de 5 mil chamados foram registrados pelo sistema, mas nenhum foi atendido, já que a plataforma não estava operando como combinado. Diante da situação, a jornalista entrou e contato com Gabriela Aparecida e ouviu que "é situação normal, que logo estaria resolvido", disse. Ela investiu tudo que havia conquistado nos últimos 20 anos.

Edson Castro, de Itapema (SC), também comprou a licença e viu que o aplicativo não oferecia aquilo que havia sido prometido. Castro reconhece que errou ao "não pesquisar os demais franqueados".Os únicos investidores com quem falou foram indicados pelos donos da fraquia. "Eles falaram muito bem".

O investidor disse que logo no início sentiu que as coisas haviam mudado."Uma coisa foi o que me venderam, depois de 30 ou 60 dias, a coisa mudou de figura". Ele já havia gasto com a divulgação do serviço. Segundo ele, disse que o contrato determinava um mínimo de 20 motoristas. Castro disse que nem chegou a operar o aplicativo. O App não ofereceu a tecnologia prometida.

Em Caruarú (PE), as vítimas foram o pastor Rodrigo Oliveira e sua esposa, Wedja Oliveira. O casal se empolgou com a possibilidade de faturamento mensal de R$ 105 mil e assinou contrato com a Lady Driver. Ele acreditou na proposta de Gabriela Aparecida e perdeu todo o valor investido.

Famosos caíram 

Artistas, atletas e influencers famosos, atraídos pelos mesmos discursos que pegaram licenciadas, viraram sócios do aplicativo que tem como mote o empoderamento da mulher. O app é de uso exclusivo de mulheres, inclusive só mulheres podem operar o sistema, seja como gestora ou motorista.

Criado para oferecer uma oportunidade de trabalho, empoderamento financeiro e social da mulher, como gestora, podendo agregar motoristas em seu negócio e declarar independência financeira, o aplicativo de transporte individual de passageiras, conhecido como Lady Driver, é acusado de não cumprir o contrato com as licenciadas, gerando prejuízos que até agora somam quase R$ 3 milhões.

Crowfunding 

A Lady Driver tinha contrato de captação pelo sistema crowfunding, com a empresa SMU Investimentos. O contrato venceu em outubro de 2020 com vencimento em outubro do ano passado.

Diante do calote, a SMU rescindiu o contrato e ingressou na Justiça com ação de cobrança. Em documento que o Diário teve acesso, a SMU revela que o histórico da Lady Driver não dá lastro para firmar novo contrato.

"Perante análise dos raltórios e cenário atual da empresa (Lady Driver), entendemos que esta não se enquadra dentro do padrão de gestão estabelcido em nossa plataforma".

Aparecida do app 

A idealizadora do App, Gabriela Aparecida Corrêa Lopes Pereira, nunca dá informações às licenciadas, não atende chamadas em seu telefone e nem responde mensagens deixadas em seu aplicativo. Desde dezembro do ano passado, a reportagem tenta declarações dela a respeito do golpe aplicado.

Aparecida ironiza 

Em dezembro a reportagem conseguiu falar com Gabriela Aparecida. Questionada sobre as ações na Justiça, a empresária não demonstrou preocupação. Ao responder a mensagem enviada, Aparecida, irônica, se fez de desentendida.

"Achei que você estava falando sobre as adequações que os apps de mobilidade estão fazendo para estar regulamentados ao novo decreto que começou dia 13 aqui em São Paulo. Sobre essa medida judicial que você comentou não tenho conhecimento. Se houver algo, aguardarei ser notificada oficialmente para que possa me manifestar de igual forma e também exercer o meu direito. Infelizmente como não tenho conhecimento, não consigo lhe ajudar no momento", disse.

Com a insistência da reportagem, Aparecida tentou normalizar os problemas. "Todo app tem reclamação é normal, realizamos milhares de corridas por dia, sempre vai ter quem não gosta. Eu prefiro seguir ajudando quem precisa e as mulheres a ter segurança e independência financeira, evitando assédio, violência. São muitas que ajudamos por dia e vamos seguir assim com essa nova regulamentação", afirmou.

Procurada pela reportagem nesta sexta (1), a empresa emitiu apenas uma nota, sem entrar nas questões levantadas como a não operação do sistema e os prejuízos causados às suas lienciadas. Na nota, a empresa tenta se eximir de responsabilidade quanto ao não funcionamento do sistema. As licenciadas é que não sabem operar, é o que diz.

Nota da imprensa 

"A Lady Driver atua no mercado há 7 anos. Com relação ao software e à licença da marca, a empresa segue as cláusulas que regem o contrato entre as partes. Reforçamos que a marca oferece todo o suporte e orientação para suas licenciadas e que o sucesso do negócio também está ligado ao desempenho pessoal de cada parceiro. A Lady Driver preza sempre pela segurança de passageiras e motoristas e já salvou milhões de mulheres da violência no transporte. Atualmente, a empresa está presente em mais de 300 cidades no Brasil e, devido ao sucesso, em breve será lançada nos EUA".

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