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Pornografia

Pesquisa surpreende e mostra que mulheres estão cada vez mais viciadas em pornografia

Um em cada três usuários da maior plataforma com o conteúdo adulto é do gênero feminino

Pesquisa surpreende e mostra que mulheres estão cada vez mais viciadas em pornografia - Imagem: reprodução grupo bom dia
Pesquisa surpreende e mostra que mulheres estão cada vez mais viciadas em pornografia - Imagem: reprodução grupo bom dia

Fábia Almeida Publicado em 07/09/2022, às 15h41


Uma pesquisafeita pela maior plataforma de conteúdo adulto, o Pornohub, apontou que recebe mais de 15 milhões de acessos mensais, expondo o crescimento no número de mulheres que visualizam assistem vídeos de sexo.

Segundo a plataforma, elas compõem um terço dos usuários da plataforma, incluindo brasileiras. A maioria são jovens na faixa etária dos 18 aos 24 anos.

Embora, quando usado em excesso cause vício e chegue a danos agressivos à saúde,sabe-se que a pornografia pode colaborar para obter uma vida sexual mais benéfica, bem como conhecimento do próprio corpo e no que mais lhe proporcionará prazer.

"No Brasil, a média de mulheres que acessam a esses canais de pornografia gira em torno de 33%, é um pouco maior do que a média mundial (25%), mas não são todas que tem a predisposição para o vício. Desse número, cerca de 10% têm potencialmente a capacidade de se tornar dependentes”, explica a psiquiatra Carmita Abdo, coordenadora do programa de estudos em sexualidade da USP, em entrevista ao jornal O Globo.  

No Reino Unido, onde se encontra o berço do Pornohub, as mulheres são maioria quando se trata de busca nos serviços de saúde sexual justamente por não conseguirem se afastar do vício em vídeos eróticos.

Grande parcela reclama que tem problemas na intimidade do sexo na vida real, fatores como queda da libido e dores durante as relações.

A holandesa Kristel Koppers, 29 anos, se transformou em uma das principais vozes dessas mulheres. Koppers criou recentemente um canal no Youtube, onde fala abertamente sobre o assunto – o endereço já conta com mais de dois milhões de visualizações.

Ela se autodenomina uma “ex-dependente de pornografia” e espera ajudar outras mulheres a sair desse ambiente virtual prejudicial.

"Sou uma ex-dependente de pornografia. Usava a pornografia como válvula de escape para me sentir melhor momentaneamente, porque na maior parte do tempo eu tinha problemas com meu corpo e com a autoaceitação, mas chegou em um ponto que isso começou a atrapalhar a minha vida pessoal e amorosa. Não tinha mais vontade de sair de casa, zero animação para fazer coisas corriqueiras. Ficava constantemente comparando cada detalhe do momento real com o que eu tinha visto online e nunca correspondia às minhas expectativas. Fui criando camadas de ansiedade que foram sabotando o meu prazer sexual. Se tornava tenso, desconfortável e até doloroso às vezes", explica Koppers.

Estima-se que um em cada dez usuários de material pornográfico não consegue parar o hábito de nenhuma forma. Além disso, alguns também tem sinais de impulsividade e ereções instáveis, crises de ansiedade, até acessando este conteúdo em locais inapropriados, falta de energia, fobias sociais e baixa autoestima.

"As pessoas que abusam do uso de pornografia, geralmente fazem parte de grupos que já tem a predisposição de excesso por outras coisas, seja no alcoolismo, no consumismo, em jogos. Tem uma base genética para isso. Podemos desconfiar que a pornografia está causando mais malefícios do que benefícios para a nossa saúde quando o usuário começa a abrir mão de outras atividades do cotidiano, não dorme direito, interrompe a hora do trabalho para acessar conteúdos pornográficos, não há mais convívio social, tudo isso mostra que o acesso deixou de ser natural", definiu Abdo.

Há um estudo publicado no final de agosto passado no British Medical Journal, mostra que teve um aumento no número de lesões intimas e infecções relacionadas à expansão na popularidade de atos sexuais arriscados e agressivos entre as mulheres jovens.

Devido à internet, mantendo no anonimato suas identidades, dezenas de mulheres expõe em fóruns na internet e redes sociais como o uso em abuso, aliado a atos agressivos que prejudicam a saúde mental e física de cada uma.

“Comecei a assistir pornografia com o meu marido e passei a concordar com alguns atos sexuais agressivos, pois acreditava que somente assim ele continuaria interessado por mim”, escreveu uma usuária. Outra disse: “Depois de consumir pornografia, me sinto deprimida, inútil, triste e sem energia”.

Temas Violentos

A jovem declara que, certa vez na busca da excitação perdida, começou a assistir vídeos com temas de violência extrema. "Quanto mais eu assistia, mais extremo o conteúdo tinha que ser para eu achar empolgante. No final, eu estava assistindo coisas que nunca escolheria na vida real, como homens sendo agressivos com mulheres", disse.

Pesquisadores da Universidade de Durham analisaram centenas de milhares de vídeos nos sites adultos mais populares do Reino Unido, que são gratuitos e facilmente acessíveis por meio de uma pesquisa rápida na Internet, e encontraram 10.000 conteúdos em destaque tão extremos que são ilegais no país.

O grupo descobriu ainda que um em cada oito títulos anunciados para usuários iniciantes no Reino Unido descreve conteúdo sexualmente violento, coercitivo ou não consensual.

Pelo menos 40% do conteúdo adulto gratuito online apresenta algum tipo de agressão verbal ou física direcionada a uma mulher. Os autores ainda associaram a crescente popularidade desses vídeos a um aumento nos casos de agressão sexual.

Determinada pesquisa feita pela Virginia Commonwealth University, nos Estados Unidos, com 700 mulheres com idades entre 18 e 29 anos, apontou que observadoras de pornografia experientes muitas vezes se lembram de imagens que viram durante momentos íntimos com parceiros e admitem que lembram dessas memórias para manter a excitação. Mais da metade preferem a pornografia ao ato sexual.

Não a masturbação

Como é crescente o acesso a este tipo de conteúdo por mulheres, o mês de setembro é o mês para o desafio de abstinência, conhecido nas redes como #nofap.

Trata do desafio no ambiente virtual que tem objetivo combater o ato da masturbação em excesso causada pelo consumo de pornografia.

Formado majoritariamente por homens heterossexuais, porém engloba mulheres e membros da comunidade LGBT+.

A medicina também aborda outras medidas para tratamento contra esta dependência, como a prática de exercícios físicos, táticas de relaxamento tais como yoga e meditação.

Caso não obtenha sucesso, o paciente pode buscar ajuda psicoterapeuta, em medida extrema pode-se fazer tratamento com uso de medicamentos para controle dos hábitos, com antidepressivos, em dosagem para tratar a compulsão.

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