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E se Kataguiri contribuísse com Haddad?

Kim Kataguiri. - Imagem: Reprodução / Mario Agra/Câmara dos Deputados
Kim Kataguiri. - Imagem: Reprodução / Mario Agra/Câmara dos Deputados
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 25/05/2024, às 05h19


Nos últimos dias, bombaram nas redes sociais e nos programas jornalísticos das televisões brasileiras partes de vídeos sobre o embate entre Kim Kataguiri, jovem deputado por São Paulo, representante do ex(?)-bolsonarista MBL, e Fernando Haddad, o ministro da Fazenda do governo Lula.

E, claro, assim como as famosas brigas que foram travadas por Flávio Dino e os deputados da oposição no ano passado, as edições foram feitas de acordo com o desejo do freguês: nas redes lulistas, a aula do professor Haddad, nas do MBL, a capacidade de Kataguiri de constranger o ministro. Deste jeito, todos ficam satisfeitos com a exposição de pequenas partes da conversa para as torcidas, que distribuem, compartilham, riem e se divertem juntas.

Porém, vale a reflexão sobre o desperdício do dinheiro público e do momento em que havia a oportunidade de contribuição para construir um planejamento estratégico estável para o país. Isso porque, com as reformas que estão sendo lideradas pelo atual governo, o país tem sido visto em diversos ambientes internacionais como um dos raros casos, nos últimos anos, de lugares que se tornaram mais confiáveis e confortáveis para investimentos e produção.

Isso quer dizer que, mesmo com inúmeros problemas e falhas em diversas áreas, como a ambiental e a segurança pública, a economia no Brasil passa por um período que, mesmo que ainda não demonstre grandes conquistas, está preparando o terreno de forma competente para que elas aconteçam.

Portanto, se estamos falando de reformas de longo prazo, isso ultrapassa o prazo do atual governo, mesmo que o mandato de Lula seja renovado em 2026. E, sendo essas conquistas do Estado brasileiro, o ideal seria que diversas forças políticas pudessem contribuir, sem deixar de fazer oposição.

É claro que a atual equipe econômica tem ouvido o mercado financeiro, os empresários, os líderes industriais e também muitos representantes no Congresso que não pertencem aos quadros da esquerda. Porém, em um momento em que um dos mais jovens (e bem votados) representantes da Câmara dos Deputados interage com o líder da equipe econômica, a construção poderia ser muito melhor.

Imagine se, em vez da tentativa de lacração, houvesse contribuição, apresentação de dados, exigência de que alguns pontos que ainda não foram observados por Haddad pudessem estar no radar do Ministério. Se, ao contrário da oportunidade para saber quem calava quem, pudesse haver como resultado melhoras dos planos, das propostas, do planejamento da economia brasileira.

Sem dúvida, perderíamos diversão, cliques, likes e compartilhamentos. Mas poderíamos ganhar inúmeras outras coisas, como, por exemplo, uma atenção dos jovens seguidores de Kataguiri a uma discussão tão importante quanto a economia nacional.

Porém, vivemos na era do vídeo editado, da humilhação pública, da razão que se conquista pelo apoio dos seguidores. E, com isso, perdemos oportunidades de entender que a construção do Estado exige argumentação competente e contribuição conjunta, inclusive daqueles que se opõem ideologicamente.

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