por Kleber Carrilho
Publicado em 15/06/2024, às 06h00
Nesta semana, mais uma vez, o aborto virou tema nacional, com ações de grupos políticos que evitam o debate e tentam incriminar as mulheres que interrompem a gravidez. Para chamar a sua atenção, comecei este texto afirmando que a minha opinião não tem nenhuma importância porque, de fato, ela não tem.
O aborto é uma questão de saúde pública. Tendo vivido nos últimos anos em dois países onde ele é tratado dessa forma, entendo que o Brasil também precisa deixar de lado as questões religiosas e pessoais em um assunto que diz respeito unicamente à condição feminina, ou das pessoas que têm útero.
Para tentar amenizar qualquer polêmica, muitas pessoas iniciam discussão dizendo que são pessoalmente contra o aborto, mas a favor do direito das mulheres, assim como eu já fiz várias vezes. Elas tentam atrair a atenção dos opositores do aborto, buscando convencê-los a partir de uma identificação pessoal. No entanto, ao trazer a opinião pessoal para um problema que não é sobre nós, cometemos um erro. É necessário repetir que não é uma questão moral ou de ser pessoalmente contra ou a favor. Mais uma vez, para lembrar, a saúde pública não tem a ver com isso.
Mulheres não fazem aborto porque é divertido. E, se tem alguma que faz, ela é exceção. Quando discutimos política pública, o que vale é o que pode ser importante para a maior parte da população que é atingida pelo problema. Quem é a população atingida pelo problema? Sim, não somos nós, os homens. Por isso, se as mulheres fazem aborto por motivos diversos, deve existir uma previsão para que isso seja objeto de cuidado por parte do poder público.
Afinal, qualquer legislação contra o aborto nunca impediiu que ele acontecesse, com punição mais severa ou mais branda. Portanto, a ideia de encarceramento talvez seja só uma vontade punitivista que, muito mais do que questões religiosas ou de moral pessoal, trata da estranha vontade de controle dos corpos.
Por isso, continuo a dar o mesmo conselho: se você não quer fazer aborto, tudo bem, não faça. Se você é homem é não quer fazer aborto, melhor ainda, porque nunca vai precisar fazer nenhum mesmo. Então, qual é essa necessidade dos homens de querer mostrar suas opiniões sobre algo que está diretamente ligado ao papel da mulher?
“Ah, mas você não se preocupa com os bebês?” Eu tenho em casa um filho de pouco mais de dois meses, mas isso não tem nada a ver com o tema. Afinal, se eu fico emocionado pela presença de um bebê tão próximo, e queira repensar minha posição sobre o aborto, isso não muda a realidade. A minha experiência pessoal não tem nada a ver com saúde pública. Por isso, minha opinião, em qualquer momento, não tem nenhuma importância.
E vale perguntar: a sua opinião tem importância?
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