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Sobre a saída do embaixador de Tel Aviv

Sobre a saída do embaixador de Tel Aviv - Imagem: Reprodução | AGÊNCIA SENADO
Sobre a saída do embaixador de Tel Aviv - Imagem: Reprodução | AGÊNCIA SENADO
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 01/06/2024, às 01h00


Ao contrário do que pensam os apaixonados por Israel, a capital do país é Tel Aviv. Jerusalém, embora continue sendo o centro religioso que traz a lembrança de textos bíblicos e seja muitas vezes apontada como a capital ideal de um Estado do povo judeu que foi espalhado pelo mundo em uma diáspora que remonta ao início da Era Cristã, só tem uma embaixada importante: a dos EUA. O restante dos países tem as suas representações diplomáticas em Tel Aviv.

E por que estou falando sobre isso? Porque a relação que o Estado brasileiro tem com o Estado de Israel não pode ser religiosa, nem mesmo pode ser baseada na ideia de um povo ideal, escolhido pelo Deus que os judeus acreditam. Afinal, no atual momento da história, Estados são Estados, mesmo quando ainda existem coisas realmente estranhas no mundo, como o Vaticano, um Estado teocrático no meio do mundo ocidental, que tanto diz prezar pela racionalidade.

Mas voltemos aos fatos. O presidente Lula mandou o embaixador brasileiro em Tel Aviv passar um tempo na Suíça, mostrando que não se trata de um rompimento de relações diplomáticas, mas de uma atitude simbólica que diminui a importância da relação com o país do Oriente Médio. A representação brasileira lá, agora, é tocada por um Encarregado de Negócios, uma pessoa de segundo escalão que, ao não ter a função de representar oficialmente o Chefe de Estado, acaba mantendo apenas uma rotina burocrática.

Lula faz isso agora porque, depois de ser um dos primeiros líderes mundiais a denunciar Netanyahu, quer lembrar a todos desse fato, quando o mundo ocidental, pelo jeito, entendeu que o líder israelense não está mesmo preocupado com paz nenhuma, mas apenas com a própria sobrevivência no cargo, mesmo que para isso haja mortes de inocentes.

Portanto, na arena internacional, este é um acerto do presidente. Ao dizer que envia o embaixador de volta assim que houver a possibilidade de que um novo líder possa recebê-lo, Lula mostra que está à espera, como grande parte do mundo.

E essa espera é pelo que também grande parte dos israelenses deseja: novas eleições. Afinal, depois de meses de conflito, nota-se que as atitudes de Netanyahu e seus aliados nunca foram a de combater os líderes terroristas do Hamas nem resgatar os cidadãos israelenses feitos reféns em outubro.

Enquanto tem gente orando com a bandeira de Israel, como o clã Bolsonaro, a desinformação é facilmente espalhada pelos grupos de WhatsApp. Mas, como qualquer líder de um país realmente democrático, cabe ao presidente ajudar a combater as fake news e apontar para os problemas que ocorrem no mundo, condenando quem atenta contra os vizinhos ou contra a própria população.

Quando será que Lula vai acertar desta forma em relação à Nicarágua e à Venezuela?

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