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O grito de Elza Soares

O grito de Elza Soares

O grito de Elza Soares
O grito de Elza Soares

Redação Publicado em 22/01/2022, às 00h00 - Atualizado às 10h13


O grito de Elza Soares

Por Kleber Carrilho

A gente fala sempre de política partidária e acaba deixando de lado, muitas vezes, a importância que a cultura tem para representar os problemas da sociedade, organizar as demandas e demonstrar os anseios das pessoas.

Nesta semana, com a perda da incrível Elza Soares, vale a pena falar sobre este tema. Afinal, ela representou de forma magistral o grito dos excluídos, deste Brasil que teima em continuar existindo, por mais que tenhamos novas tecnologias e diversas formas de atender às necessidades básicas.

Em várias entrevistas, ela citava o contexto em que nasceu e cresceu, os problemas sociais, a violência e a fome, que tirou dela um filho e, na iminência de levar outro, fez com que ela fosse atrás do sonho de cantar e dos trocados que isso poderia trazer para alimentar a família.

Ao descrever a cena em que aparece esquálida na frente de Ary Barroso, canta e conquista o público do programa de rádio, há uma pergunta que incomoda: “De que planeta você veio?”, pergunta o apresentador. E ela responde: “Do planeta fome!”

Este planeta fome, este Brasil fome, este Rio de Janeiro fome, estão aí, com inúmeras Elzas que não têm a chance, a oportunidade, o apoio, a coragem ou o talento de cantar, de gritar que têm fome. Porém, são Elzas que têm muitos outros talentos, que poderiam contribuir para a sociedade, para o país, para o mundo.

Quando insistimos em manter a existência do planeta fome, empobrecemos todos. E, com certeza, não são ações de caridade revestidas com a forma de políticas públicas que vão fazer com que ele deixe de existir.

É necessário olhar para os projetos políticos que tenham, realmente, a intenção de incluir as pessoas para que, mais do que sobreviver, elas vivam. Para que produzam cultura, trabalhem, se manifestem, desenvolvam tecnologias, novas formas de ver o mundo e também de fazer política.

Porque a inclusão é a forma mais inteligente para que se tenha contato com diversidades que nos levam a encarar os desafios com mais competência, para que realmente os melhores possam contribuir com a sociedade.

Por tudo isso, precisamos criar as condições para que as Elzas gritem e se manifestem sempre!

Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
Instagram: @KleberCarrilho
Facebook.com/KleberCarrilho
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