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Chocante

Homem fica em estado vegetativo permanente e a causa da tragédia é perturbadora; saiba mais

O incidente aconteceu em Porto Alegre, em outubro de 2021

Alexandre Moraes de Lara encontra-se em estado vegetativo e recebe cuidados paliativos - Imagem: Reprodução/YouTube
Alexandre Moraes de Lara encontra-se em estado vegetativo e recebe cuidados paliativos - Imagem: Reprodução/YouTube

Mateus Omena Publicado em 01/09/2022, às 12h46


Um homem de 28 anos ficou em estado vegetativo permanente após receber uma superdosagem de um medicamento cardíaco. O incidente aconteceu em outubro de 2021, em Porto Alegre (RS). Até o momento, a vítima não recebeu nenhum amparo.

Alexandre Moraes de Lara enfrenta uma arritmia cardíaca há muitos anos. Em uma consulta no Hospital Humaniza, o cardiologista receitou 600 miligramas de propafenona, remédio usado para tratar este problema. No entanto, a dosagem estava acima do recomendado.

Em entrevista ao UOL, a esposa da vítima, Gabrielle Bressiani, 27, contou que anteriormente ficou desconfiada da quantidade de comprimidos do remédio indicado pelo médico. “Quando ele foi receber a medicação, tinha um copinho com 20 comprimidos. Perguntamos para o técnico de enfermagem, que questionou a enfermeira, e nos disseram que a medida era essa mesma."

Após ter tomado os comprimidos durante o exame, Gabrielle contou que voltou para casa e recebeu um áudio do marido afirmando que não estava se sentindo bem. Assim que foi encaminhado ao hospital, sofreu uma parada cardíaca.

"Ele estava com uma voz muito estranha. Disseram que ele passaria por um procedimento. Eu resolvi voltar para o hospital com a minha mãe e não queriam deixar eu entrar. Eu invadi e vi que ele estava em parada cardíaca".

Os médicos tentaram reanimar Alexandre e demonstraram outras falhas no procedimento, apontou Gabrielle. "Na hora que foram colocar o oxigênio no rosto dele, achavam que estava funcionando, mas depois perceberam que não estava saindo oxigênio nenhum do equipamento. O carrinho de parada demorou, a entubação também. Foi tudo uma sequência de erros".

Em seguida, a esposa refletiu que o marido poderia ter sofrido o ataque por causa dos remédios que tomou, seguindo a receita médica. O cardiologista que atendeu Alexandre anteriormente foi chamado para se justificar e, após uma investigação, ficou esclarecido que havia um erro na dosagem do medicamento. Alexandre deveria ter tomado 600 miligramas, mas o hospital forneceu 6 mil. O equívoco foi comprovado por um documento assinado pelo médico.

Consequências graves

A bula do propafenona, produzido pela Eurofarma, alerta que a superdosagem do remédio pode causar "distúrbios de condução elétrica, como bloqueio atrioventricular (interrupção do impulso elétrico do coração), aumento da frequência cardíaca, fibrilação ventricular, parada cardíaca, pressão sanguínea baixa, dor de cabeça, tontura, visão borrada, parestesia (sensação desagradável sobre a pele), tremor, enjoo, constipação, boca seca, convulsão e morte."

Por causa da falha do hospital, Alexandre encontra-se em estado vegetativo permanente. Indignada, Gabrielle denunciou o caso e alegou também que até o momento o marido não recebeu nenhum respaldo legal do Hospital Humaniza. A vítima continua na unidade, recebendo cuidados paliativos.

"O hospital tinha proposto fazer um acordo se a gente não falasse nada sobre o caso. Mas desde que aconteceu, estamos aguardando e eles só enrolando. Decidimos não esperar mais. As pessoas precisam ser responsabilizadas."

O choque foi grande para a mulher, que encarou a situação enquanto estava grávida de três meses. A criança, atualmente com 4 meses, conheceu o pai apenas na cama do hospital. "Toda a gestação eu ia para lá todos os dias. Depois que a nossa filha nasceu, tive que diminuir a frequência, mas a minha mãe vai sempre. Eu já levei a Sara [filha] para conhecê-lo, mas ele não a reconhece", lamentou.

Ela contou que o marido recebe cuidados 24 horas do dia e todo o processo é delicado. "Ele tem que trocar fralda, fazer fono... É uma dependência muito grande. Às vezes tem duas ou três pessoas cuidando dele", diz.

Resposta

Gabrielle registrou um boletim de ocorrência sobre o caso e pretende recorrer à Justiça contra o erro da equipe médica. "Ele tinha uma vida normal, ia para academia, surfava", declarou. "Eu espero que a gente consiga algum tipo de indenização pelo menos para a Sara porque ela não vai ter o pai presente."

O Hospital Humaniza declarou, em nota, que lamenta a tragédia sofrida por Alexandre, mas que o atendimento que ele recebeu ocorreu em gestão anterior.

"O Hospital lamenta profundamente o ocorrido e vem prestando toda a assistência médica necessária e disponível para a melhoria do quadro clínico do paciente. Ao mesmo tempo, vem mantendo tratativas com os familiares para, também, proporcionar o máximo de assistência e acolhimento necessários", diz o comunicado.

Em nota, o CREMERS (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul) informou que abriu uma sindicância para apurar as circunstâncias do incidente. "Como corre em sigilo por lei, não podemos informar detalhes sobre o andamento", disse a instituição.

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