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Prevenção

1 em cada 6 mulheres podem desenvolver câncer em algum momento da vida; leia a história de mulheres que lutam contra a doença

Até 2025, o Brasil pode registrar 704 novos casos de câncer, diz estudo

O Brasil registrou 66.280 novos casos de câncer de mama, segundo o Ministério da Saúde - Imagem: Instagram/arquivo pessoal
O Brasil registrou 66.280 novos casos de câncer de mama, segundo o Ministério da Saúde - Imagem: Instagram/arquivo pessoal

Mateus Omena Publicado em 05/02/2023, às 09h00


Neste fim de semana, temos dois dias importantes: o Dia Mundial do Câncer (4) e o Dia da Mamografia (5), que marcam a necessidade de conscientização e prevenção entre as pessoas sobre doenças que podem ocorrer nos principais órgãos e glândulas do corpo. Tanto para o câncer de mama, como para outros problemas que podem ser evitados com o suporte adequado.

Segundo um estudo do Instituto Nacional de Câncer (Inca), até 2025, a expectativa é de o Brasil registrar 704 mil novos casos de câncer por ano.

O cenário mostra-se ainda mais assustador, com a estimativa de que 1 em 5 homens e 1 em 6 mulheres podem desenvolver câncer em algum momento da vida, aponta o mesmo levantamento.

Consultado pelo Diário de S.Paulo, Dr. Pedro Exman, oncologista do Hospital Oswaldo Cruz, afirmou que os casos de câncer estão em alta no Brasil, levando em conta suas diferenças e particularidades, e explicou os motivos.

“O câncer em geral é uma doença do envelhecimento. Como a expectativa de vida da sociedade brasileira vem aumentando, há consequentemente um aumento de todos os casos de câncer na população”, aponta o especialista.

E completa: “Os danos do DNA celular podem ocorrer por predisposição genética e história familiar, mas principalmente aspectos extrínsecos como tabagismo, sedentarismo, obesidade, exposição prévia à radiação, uso excessivo de álcool, alimentação desbalanceada, infecções por vírus como HPV ou hepatite B e C. Além de outras questões do estilo de vida”.

Por outro lado, a alta dos exames de rastreamento ajudou a identificar novos tumores e sinais de câncer, antes desconhecidos. “Aumento da realização de exames de rastreamento, ainda que longe do ideal, tem levado ao aumento de diagnósticos de tumores e isto também conta para o aumento de casos registrados anualmente”, explica o profissional.

Levando em conta esses fatores, a prevenção é a melhor arma de combate contra qualquer doença. Contudo, Pedro nota que há uma grande resistência entre os homens quando o assunto é saúde.

Grande parte desse público reluta em tomar medidas contra o câncer de próstata, que é o mais comum entre a população masculina, representando 29% dos diagnósticos no país, segundo o Inca.

“O tumor da próstata é identificado pelo exame de toque. Mas, existem estigmas e preconceitos ao redor do procedimento, que faz com que o rastreamento seja menos frequente”, diz o especialista.

Outra doença que tem deixado muitos homens preocupados é o câncer de pênis, que representa 2% dos tipos de câncer no país. No entanto, o cenário assusta pelo fato de que em 25% dos casos, o órgão precisa ser amputado. Em 2022, foram registrados 1.933 casos da doença e 459 cirurgias de retirada do pênis, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).

Outros cuidados

Mas, não são apenas os homens que estão desatentos com a saúde. No Brasil, o câncer de colo de útero tem alta incidência em mulheres. A doença causada pela infecção do vírus HPV pode evoluir para um quadro de câncer dependendo de alterações celulares.

Essas mudanças são descobertas facilmente no exame preventivo (conhecido também como Papanicolau), e são curáveis na quase totalidade dos casos. Por isso, é importante a realização periódica do exame preventivo.

“O exame de Papanicolau é um exame barato, de fácil reprodução por diferentes profissionais de saúde e que consegue realizar o diagnóstico precoce do câncer de colo uterino, permitindo o tratamento efetivo da doença inicial”, explica. “Outra estratégia de prevenção é a educação contínua das pessoas, com a promoção para uso de métodos de barreira e educação sobre doenças sexualmente transmissíveis para sociedade.

Mesmo assim, o câncer de mama continua sendo o câncer que mais acomete mulheres no Brasil e no mundo. Segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 66.280 casos novos de câncer de mama em 2021, com um risco estimado de 61 casos a cada 100 mil mulheres.

A pasta informou também que o câncer de mama ocupa a primeira posição em mortalidade por câncer entre as mulheres no Brasil, com taxa de mortalidade ajustada por idade, pela população mundial, de 14,23/100 mil. As maiores taxas de incidência e de mortalidade estão nas regiões Sul e Sudeste do país.

Os principais sinais e sintomas suspeitos de câncer de mama são:

  • caroço (nódulo), geralmente endurecido, fixo e indolor;
  • pele da mama avermelhada ou parecida com casca de laranja;
  • alterações no bico do peito (mamilo);
  • saída espontânea de líquido de um dos mamilos;
  • também podem aparecer pequenos nódulos no pescoço ou na região embaixo dos braços (axilas).

Para essa doença, o oncologista do Hospital Oswaldo Cruz reforça a necessidade das mulheres realizarem o diagnóstico precoce, por meio da mamografia, para ter um rastreamento efetivo e sucesso no tratamento da doença em sua fase inicial. Mas, aponta que há outros fatores que podem fazer a diferença.

“Além da mamografia, são indispensáveis iniciativas contra o tabagismo, obesidade, sedentarismo. As mulheres precisam estar atentas às alterações perceptíveis na mama e buscar terapias de reposição hormonal quando necessárias com médicos capacitados”.

O especialista afirma também que novas drogas têm sido aprovadas pelo poder público para o combate da doença e permitem que as pacientes tenham acesso a tratamentos cada vez mais eficazes. Embora a incorporação desses medicamentos ainda ocorra de modo lento.

Em entrevista exclusiva ao Diário de S. Paulo três mulheres abriram o coração e compartilharam sua história após o diagnóstico do câncer de mama e como deram a volta por cima na sua luta contra a doença:

Quero viver

Descobrir um câncer é algo que pega muitos pacientes de surpresa e não é diferente para Eliza Montes, que descobriu um câncer de mama em 2022, aos 38 anos, e classifica a situação como um "baque" em sua vida.

Residente em Campo Grande (MS), a consultora de moda acreditava que tinha uma vida plenamente saudável, quando notou a presença de um caroço em uma das mamas no início de 2020.

Com o passar do tempo, fortes dores e incômodos surgiram desta região, mas Eliza não conseguiu descobrir do que se tratava por conta das restrições impostas pela pandemia de covid-19 e a sobrecarga dos serviços de saúde. Apenas em maio do ano passado, ela recebeu o diagnóstico oficial de câncer de mama, do tipo HER2 positivo.

“Eu descobri a doença em uma consulta com mastologista e foi um momento muito difícil e marcou a parte mais complicada da minha vida, porque muitas coisas passam pela sua cabeça quando se descobre que está com câncer, ainda jovem, com menos 40 anos”, lamentou.
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Na sua luta contra o câncer, Eliza compartilha os desafios no Instagram / Imagem: reprodução Instagram

De acordo com Eliza, receber a notícia de que estava com o câncer foi devastador, mas 30 dias depois, ela foi surpreendida ao ser informada pelos médicos de que a doença consistia em metástase. Por definição, o câncer é considerado metastático quando o tumor maligno sai da sua origem e se espalha, migrando para outra parte do corpo.

“Além da mama, a doença atingiu a axila, porque eu estava sentindo muitas dores de baixo do braço, o pulmão e o fígado. Graças a Deus não atingiu os ossos e a cabeça. Mas o câncer metastático estava em um grau muito avançado”.

E recordou como reagiu ao segundo diagnóstico: “Foi uma rasteira, eu realmente desmoronei. Eu imaginava que era uma pessoa saudável e de repente descobri que estava com câncer. Como é metastático, entendi que: ‘Não tem mais jeito e que, pela medicina, não há mais cura’. Mas, assimilei essa nova condição, segui em frente e decidi tratar”.

A consultora de moda também detalhou o processo da quimioterapia, que foi iniciada rapidamente logo após o diagnóstico e novas avaliações médicas.

Como sua doença é do tipo hormonal, o tratamento também exigiu medicamentos para bloqueios de seus hormônios, para evitar o agravamento da doença e contribuir para o sucesso de outras etapas do controle do câncer.

Mesmo tendo se preparado emocionalmente para os impactos da quimioterapia, Eliza afirmou que esta fase foi bastante dolorosa pelas fortes emoções e perda de cabelo.

“A quimioterapia é a parte mais dolorosa. Quando iniciei o processo, senti muito medo e insegurança, porque não tem como saber como o corpo vai reagir aos medicamentos e se poderia ficar debilitada. Mas, eu sabia que perderia meus cabelos, até trabalhei a questão mental para não sofrer tanto e consegui passar por esse momento com leveza, mas realmente não foi fácil”.

Eliza explicou que boa alimentação, sessões de terapias e apoio do marido e da família foram essenciais para mantê-la forte, tanto fisicamente, quanto espiritualmente. Mas, precisou lidar com o fato de que a doença e o tratamento a fariam abrir mão de muitas coisas.

“Lidar com isso lembra um pouco a forma como estamos de luto, porque perde-se muita coisa nessa situação, como autoestima, emprego, vida profissional e outras coisas importantes. Até os relacionamentos são abalados, mas meu marido se manteve firme e meu auxilio sempre. Apesar das rasteiras que a vida dá, escolhi seguir em frente”.

A jovem também enfrentou outras dificuldades. Como a doença se espalhou pelo corpo, ela precisou ser submetida a uma cirurgia no fígado em janeiro, além de outros tratamentos para esse órgão e uma operação para retirada dos ovários. Mas, por enquanto, não há indicação médica para retirada de mama.

Ao refletir a jornada que passou e o quanto evoluiu no controle da doença, Eliza garante que não se sente a mesma mulher como antes de descobrir o câncer. E para ela, sua vida não será mais como era antes.

"Eu entendi que não tinha controle de nada e passei a deixar tudo nas mãos de Deus, literalmente, pois não sei nada sobre o amanhã e não posso determinar tudo. Faço minhas escolhas e vivo minha vida, mas o amanhã não me pertence. Aprendi que tenho que viver o hoje. Tudo que quero fazer, faço agora”, declarou.

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Imagem: reprodução Instagram

Em suas redes sociais, Eliza compartilha não apenas o seu dia-a-dia de tratamentos, como também dicas de beleza para outras mulheres diagnosticadas com câncer e mensagens de positividade.

“Percebo que a nossa sociedade ainda não está preparada para um paciente oncológico de câncer metastático. Porque as pessoas pensam que um indivíduo nesse quadro está condenado à morte, esperando apenas para ser enterrado. Mas, uma pessoa nessas condições apenas quer viver, pois tem desejos e vontades de se divertir e amar como qualquer um”.

E acrescentou: “Eu tento mostrar isso nas redes, que apesar do câncer, há a vida e que a doença é um pequeno detalhe perto dos gigantes que cada um de nós somos, e isso transcende a nossa experiência humana. E hoje eu penso totalmente diferente, que eu preciso apenas viver, de verdade”.

Passei a olhar mais para mim

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Viviane Cordaro venceu o câncer de mama após anos de luta / Imagem: arquivo pessoal

Em 2012, Viviane Cordaro estava planejando passar mais tempo com a família e se preparando para uma viagem de trabalho em Chicago (EUA). Mas seus projetos desmoronaram com a descoberta de um câncer de mama, logo após uma simples checagem em uma das mamas.

Ao palpar a mama direita, ela notou um nódulo, que estava crescendo e a incomodando. Após buscar ajuda de um especialista, o ultrassom e a mamografia confirmaram a presença do nódulo, mas uma biópsia revelou que se tratava de um câncer de mama.

“Eu fiquei muito triste, chorei muito e foi uma época de muito desespero porque quando uma pessoa recebe a notícia de que está com câncer, independente do tipo, é muito assustador, porque todos nós imaginamos que o câncer está ligado à morte”, disse. “Tanto que uma das minhas duas filhas, que estava com 7 anos de idade, falou assim: ‘Mãe, se você está com câncer, você vai morrer’, chorando muito”.

Apesar do impacto, Viviane pontuou que a doença foi revelada ainda em seu estágio inicial e o diagnóstico precoce significou a diferença entre a cura e o agravamento do câncer.

“Os médicos que cuidaram de mim me disseram que o tipo celular do câncer que eu tinha era o mais agressivo de todos. Se a membrana que envolvia o câncer tivesse rompido, eu teria um prognóstico muito ruim e uma média de vida bem inferior, em caso de meses”, afirmou. “Do começo ao fim, o diagnóstico precoce foi essencial e decisivo”.

Viviane recordou que todos em sua família ficaram desesperados, mas sempre ficaram ao seu lado durante o tratamento. Mesmo temendo o risco que sua vida corria, ela sofria com os danos que a doença ou a quimioterapia poderia causar em seu corpo e aparência.

“Passei a tomar tamoxifeno, bastante comum para tratamento de câncer, mas o remédio acelera o envelhecimento e temi ficar feia. Me assustei com a possibilidade de ficar careca e destetada, principalmente porque a mulher tem essa conexão com o cabelo e as mamas por serem partes do corpo que refletem a beleza e sensualidade”, relatou.

“No entanto, meu marido foi essencial e pude contar com ele sempre. Nos momentos em que eu chorava, ele também caia em lágrimas. Um dia, quando ficamos sozinhos, eu perguntei: ‘Fabiano você não vai me largar né? Vou ficar velha, careca, destetada e toda zuada’. Ele respondeu: ‘Viviane, jamais vou te deixar, estou aqui para te dar apoio’”.

Determinada, Viviane fez questão de se manter trabalhando enquanto se preparava para o tratamento, realizado no hospital A.C Camargo, no centro de São Paulo.

Quando chegou o momento da cirurgia para a retirada do nódulo, os médicos a informaram que seria necessária uma quadrantectomia para a retirada ¼ da mama direita. Segundo ela, o procedimento foi um sucesso e, o melhor de tudo, não deixou grandes cicatrizes.

“A cirurgia foi melhor do que os médicos imaginavam. O câncer estava restrito ao nódulo e protegido por uma membrana, o que impediu que ele se espalhasse, por sorte. A mama não ficou feia e sem cicatriz visível. Depois disso, nem precisei da quimioterapia. Mas, foram necessárias 30 sessões de radioterapia e mais cinco anos tomando tamoxifeno”.

Meses depois, Viviane finalmente recebeu a notícia de que o tratamento foi bem-sucedido e que está curada.

“Eu chorei muito. Na hora do diagnostico, fiquei desesperada e pensei na morte. Mas, eu decidi lutar com todas as minhas forças para vencer e não morrer, coloquei na cabeça: ‘Vamos embora e arrancar isso de mim’. Eu chorei de medo, mas enfrentei a situação. E na alta, chorei de soluçar. Quando o médico me disse que eu teria uma vida nova, a sensação foi muito boa”.

Com 49 anos, Viviane se sente transformada após vencer uma longa batalha e afirma que enxerga a vida com novos olhos. “ Depois disso, eu passei a olhar mais para mim e minhas vontades. Eu entendi no meu corpo que a vida pode passar em 1 segundo. Eu sempre trabalhei muito e vivi querendo fazer o que os outros queriam que eu fizesse. Agora dou mais valor à vida e quero vivê-la intensamente”, celebrou.

Desacelerei

A nutricionista Jessica Zanchetta, de 33 anos, mantém uma vida ativa e saudável desde muito tempo, com boa alimentação e exercícios físicos como pilares do seu cotidiano. No entanto, tudo mudou a partir de outubro de 2022.

Durante uma cirurgia para a implantação de prótese de silicone, os médicos notaram a presença de um nódulo em uma das mamas de Jessica e a notícia a deixou bastante assustada.

“Fui submetida a uma cirurgia para remover o tumor, que depois passou para uma biópsia. Em seguida, os exames confirmaram que se tratava de um Luminal B, que é um tipo raro e bastante agressivo de câncer de mama, que estava em fase inicial”.
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Jessica defende que o diagnóstico precoce pode salvar vidas / Imagem: reprodução Instagram

Residente em Chapecó (SC), a nutricionista afirmou que o diagnóstico a deixou devastada e com a incessante sensação de dúvida sobre o porquê da doença.

“Fiquei abalada, é algo que não se espera, especialmente por eu ser jovem e sempre ter feito exames de rotina, que nunca mostraram nada preocupante em relação à minha saúde”, lamentou. “Sigo uma alimentação saudável há anos, sempre pratiquei atividades físicas e estava me preparando para uma competição de crossfit. E da noite para o dia, a doença trouxe uma mudança radical na minha vida”.

Apesar do desespero, Jessica recordou que respirou fundo e pensou: ‘“Ok. Tenho uma doença e o que vou fazer?”.

Ela se consultou com um mastologista para avaliação do grau do câncer. A nutricionista contou que foi incluída no “grupo de risco”, por conta da idade e pelo fato de terem ocorrido casos de câncer de mama em sua família. Os médicos afirmou que seria necessária uma cirurgia para retirada do tumor.

60 dias depois, Jessica finalmente pode dar início à quimioterapia vermelha, que consiste na aplicação de medicamentos chamados antraciclinas, que apresentam tons avermelhados. Mas, o procedimento, segundo a mulher, é usado para casos agressivos, logo os efeitos foram bastante dolorosos.

“Eu fiz o tratamento de quimioterapia vermelha que é muito agressiva. Várias vezes passei a noite em claro, rezava muito para Deus, que sempre esteve presente na minha vida. Esse tipo de terapia dá muita dor no corpo e muita náusea. Só encostar na pele parecia que eu estava sendo esfaqueada, é muito dolorido. Foi bem angustiante essa etapa”, detalhou.

“No decorrer do tempo passei a me acostumar com as medicações. Mesmo com dores não deixei de fazer minhas atividades físicas. É importante manter isso como rotina porque fiquei muito debilitada, às vezes passava dias sem sair da cama, então a atividade física produz massa muscular, serotonina e dá sensação de força”.

Os efeitos do tratamento atingiram também o estado emocional de Jessica, que se apegou à religião e à família para se manter forte. No entanto, uma ocasião que a marcou, especialmente em sua autoestima, foi a queda de cabelo.

“As medicações da quimioterapia vermelha são muito fortes, então perdi muito cabelo, principalmente depois do banho. Chegou um dia que pedi uma quantidade tão grande e decidi raspar. Eu liguei para meu esposo e disse decidida que iria raspar tudo. Ele questionou: ‘Tu tem certeza?’. Eu disse ‘sim’”.

No entanto, a coragem de Jessica incentivou o marido a tomar uma atitude inesperada: “Horas depois, ele chegou em casa já de cabelo raspado e me surpreendeu. E isso me deu força para raspar o meu também. Eu comprei uma peruca e quando me olhei no espelho, enxerguei uma beleza que nunca havia percebido em mim. Eu me senti tão linda e fui em um restaurante no mesmo dia, me sentindo leve e tão bem”.

Depois de um longo período de dificuldades e esforços, Jessica passou para a quimioterapia branca, que é formada por diversas classes de medicamentos que não apresentam nenhuma cor, como ciclofosfamida, taxanos, gencitabina e vinorelbina. Contudo, ela revelou que essa fase não foi tão leve como imaginava.

“Estou na quimioterapia branca. No início pensei que seria paz e amor. Mas, ela afetou minha articulação e fiquei muito cansada. Só de levantar da cama para ir ao banheiro ficava exausta. Por isso, precisei respeitar os limites do meu corpo”.

Nesta semana, Jessica se prepara para a fase final do tratamento contra o câncer de mama e celebra a avaliação positiva feita pelo médico, após diversas sessões de quimioterapia e medicações fortes.

“O médico ficou satisfeito com os resultados dos meus exames. Desde o início do tratamento, não precisei suspender nenhuma quimioterapia, porque a minha imunidade se manteve muito boa. Além do meu emocional, pois ele me lembrou que sempre chego ao hospital sorrindo e com força de vontade, o que fez muita diferença. Hoje eu posso dizer que estou curada, bem na reta final”.

Mesmo assim, a experiência complexa incentivou Jessica a compartilhar sua luta contra o câncer nas redes sociais e conteúdos sobre como encarar o tratamento de forma leve. Com o passar do tempo, a nutricionista percebeu que sua iniciativa fez a diferença na vida de outras mulheres em situação semelhante, especialmente as que residem em sua região.

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Jessica disse que passou a preferir a pessoa que é agora, ao pensar em quem era antes do câncer / Imagem: reprodução Instagram

“Aqui em Chapecó, o meu caso repercutiu bastante. E tento passar uma mensagem de positividade, tanto que mostro nas redes os looks que escolhi para ir ao tratamento, pois busco a cura com alegria”, explicou.

“Recentemente, uma clínica da região que faz mamografias me procurou e soube que depois dos meus posts, muitas mulheres jovens foram fazer o preventivo. É algo incrível porque muitas mulheres têm vergonha de fazer isso, mas não pode acontecer, porque os cuidados simples de prevenção podem ajudar a descobrir a doença no seu início”.

Depois de muitos momentos de privação, Jéssica se sente livre para viver sua vida ao máximo e deixa claro que, ao pensar na mulher que era antes do câncer, passou a preferir a pessoa é agora.

“Gosto da Jessica pós câncer, porque a doença me fez me dar importâncias para coisas que eu não me importava. Eu aprendi a levar em conta coisas simples, como sentar e tomar um chimarrão com quem amamos, se conectar com Deus e desacelerar. Entendi que o câncer não é a morte e passei a cuidar mais de mim. Eu vejo a vida de uma forma mais deliciosa”.

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