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Uma pátria chamada Brasil

Uma pátria chamada Brasil - Imagem: Freepik
Uma pátria chamada Brasil - Imagem: Freepik
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 21/06/2023, às 09h12


Uma das coisas que mais me tem impressionado nos últimos anos é o aumento no número de brasileiros que, descontentes com a situação no Brasil, optaram por viver no Exterior, muitas vezes em condições difíceis e com problemas relacionados à regularidade de sua situação migratória. Embora saudosos de sua terra natal e das inúmeras coisas positivas que tornam o Brasil um lugar único, muitos já não pretendem retornar por não verem perspectivas de melhoria diante do cenário político existente no País, e também pela enorme insegurança e violência que se sente ao viver num país em que as taxas de criminalidade são elevadas e o crime organizado ocupa uma posição cada vez mais poderosa, numa verdadeira situação de estado falido, que protege a alguns e desampara a muitos.

O nível de desesperança da juventude brasileira quanto ao futuro do País é preocupante porque aqueles que serão responsáveis pelo futuro do Brasil não vêm perspectivas positivas e passam a acreditar que a realização de seus sonhos não ocorrerá mais no seu país de nascimento e criação. O fim da Lava-Jato foi um desastre para o País porque o pouco de esperança que criou quanto ao futuro foi basicamente enterrado posteriormente.

O Brasil não tem tido a tradição, à semelhança de alguns de seus companheiros regionais, de ser um país exportador de migrantes. O fluxo inicial maior se deu na década de 1980, quando o caos político e econômico representado pelo péssimo governo deJosé Sarney levou milhares de brasileiros ao Exterior na busca de uma vida melhor. Observou-se uma movimentação maior também durante o Governo Dilma Rousseff quando o clima embaraçoso da corrupção, o elevado nível da insegurança coletiva e uma administração de resultados pífios, novamente, forçou milhares de brasileiros a buscarem novas oportunidades em terras estrangeiras. 

Cada cidadão que o País perde impacta negativamente no seu futuro. Afinal, temos visto uma enorme fuga de cérebros brasileiros. Infelizmente, muita dessa diáspora – diferente de outras – distante da realidade do País e influenciada por um quadro político negativo, tende a contribuir muito pouco para a melhoria das condições no Brasil. O resultado é que, ao invés de ajudar o Brasil, muitos da diáspora contribuem na construção de uma imagem péssima para o País. Infelizmente, o sonho da migração de muitos, no entanto, será frustrada pela dura realidade do desafio de – apesar de até mesmo possuir uma nova nacionalidade, em alguns casos – jamais perder a condição de estrangeiro. 

O Brasil precisa mudar, de fato, se quiser avançar e estancar o desânimo que assombra o País desde 1985, um país de poucas vitórias e muitíssimas derrotas. Para isso, é necessário que haja um rejuvenescimento no espírito brasileiro quanto aos seus objetivos e futuro. O País envelheceu nas ideias, na criatividade e na ambição. Não cria empregos ou industrias disruptivas, não inova tanto quanto poderia e deveria. As oportunidades para a juventude, num cenário global cada vez mais competitivo, ficam mais distantes. E, assim, um país que estava projetado para estar entre as cinco maiores economias globais se vê condenado à estagnação, falta de perspectiva, e, quando as coisas eventualmente melhoram, esta melhoria tende a ser um pequeno e curto voo. 

Para piorar, gastamos um tempo enorme discutindo inutilidades, importadas da agenda política europeia e norte-americana, que nada tem a ver com a realidade do País. Ao invés de discutirmos grandes projetos de infraestrutura, que catapultem o Brasil no século XXI, dispendemos tempo precioso na discussão sobre nazismo e comunismo. Que discutamos a questão educacional, como construirmos universidades de ponta, entre as vinte melhores do mundo. Que pensemos em transformar o Brasil num hub aéreo para a América do Sul. Que criemos uma ferrovia que dê acesso ao Pacífico. Que construamos trens-bala para facilitar a movimentação no território brasileiro. Que elevamos a renda per capita do brasileiro para US$ 15 mil. Que erradiquemos a pobreza. Que limpemos o centro das cidades. Que coloquemos bandidos – e corruptos – na cadeia por anos a fio. Que erradiquemos do meio do povo o discurso do ódio, da diferenciação e da discriminação. Que o brasileiro deixe de trabalhar para pagar banco e governo. Que os governos deixem de ser meliantes. Que paguemos impostos justos.

O Brasil é um país em construção. E será para sempre um país em construção. Afinal, o território é vasto e as oportunidades são enormes. Mas o brasileiro precisa entender que do jeito que está, não iremos muito longe.

Um país precisa de valores. Precisa reprovar quem mente, quem rouba, quem é desonesto. É inadmissível termos corruptos de preferência. E o Brasil precisa ter alguém – eleito ou não – que sirva como um guardião da sociedade. Recentemente, ouvi uma frase muito interessante sobre a eleição do presidente de Singapura. A função dele é preservar e assegurar a integridade do sistema político e econômoco do país, promovendo integridade financeira e a da administração pública. Ninguém faz isso no Brasil.

Todo cidadão de bem sonha com o rejuvenescimento e modernização do Brasil. Ninguém gosta de ver um país como o Brasil na mão de aventureiros. Todos querem um pais que nos dê orgulho, não pelo futebol ou alguns poucos herois esportivos, mas sim pela construção de uma sociedade sólida, segura, alegre e pacífica. O Brasil precisa ter uma direção clara quanto à sua modernização, que o torne próspero, avançado, e que, de fato, tenha algo a contribuir ao mundo.

É triste ver um gigante se comportando como anão. Mas uma geração que esteja disposta a não repetir os erros do passado – e sim a cometer novos erros – que olhe para si mesma – e não queira reproduzir a imbecilidade praticada e alienada por terceiros países – e queira avançar na construção de uma nova realidade  - pode sim fazer o maior de todos os milagres: criar um país decente.

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