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COLUNA

Três princípios de desenvolvimento

Bandeira da China. - Imagem: Reprodução | Environmental Protection Agency (EPA)
Bandeira da China. - Imagem: Reprodução | Environmental Protection Agency (EPA)
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 12/06/2024, às 06h00 - Atualizado às 08h28


Ao se observarem os elementos que guiaram o desenvolvimento chinês nas últimas cinco décadas três princípios basilares são relevantes de observar: segurança, educação e infraestrutura.

Não há dúvida que o princípio mais importante de todos é a segurança. A sociedade, como um todo, cede ao Estado o monopólio da violência para que este assegure um convívio social harmônico. Ao Estado é dada a capacidade de matar, e ao indivíduo a possibilidade de exercer esta somente em situações de legítima defesa. Ao deter o monopólio da violência internamente, através da força policial, e externamente, através das Forças Armadas, o pacto Cidadão-Estado prevê que o Estado envidará todos os esforços para garantir não somente a segurança coletiva, mas também a individual. A segurança permite ao cidadão viver em paz, com tranquilidade para alcançar seus objetivos e empreender. Sociedades que têm um elevado nível de segurança tendem a alcançar níveis melhores de desenvolvimento. Sociedades inseguras levam a população a um estresse coletivo, aumento significativo do crime organizado e enorme instabilidade social.

A questão educacional é relevante. A educação deve ser um valor coletivo da sociedade com uma preocupação da educação nos três níveis. No entanto, é importante que, desde pequeno, seja inculcada na criança a necessidade de competitividade para avanço educacional. Provas e competições favorecem um compromisso com o estudo contínuo e intenso, elementos essenciais para o desenvolvimento pessoal e coletivo. No caso chinês, o exame de admissão à universidade, conhecido como Gaokao, é extremamente concorrido. O aluno que é aprovado nas principais universidades é celebrado por suas famílias, comunidades e até cidades. Afinal, ser aprovado nas melhores universidades é resultado de uma vida dedicada aos estudos e um compromisso com a excelência. Mas, o mais importante, não é somente admitir os melhores, mas assegurar que o aluno encontre na instituição o melhor ensino disponível globalmente. Há alguns anos, a China decidiu que teria duas universidades entre as vinte principais do mundo, o que logrou ao ver as Universidades Tsinghua e de Pequim assumirem um papel importante de relevância global. O governo agora planeja ter mais três universidades, em princípio, no grupo exclusivo das grandes universidades globais em matéria de conhecimento, criação intelectual e desenvolvimento humano. Ressalte-se, ainda, que a educação é subsidiada pelo Estado, mas o cidadão também tem o compromisso de pagar um determinado valor pela educação que recebe.

A infraestrutura é fundamental para o crescimento econômico. Os chineses têm um ditado: “Para ficar rico, é preciso construir uma estrada primeiro”. A infraestrutura é a base do desenvolvimento. De que adianta um país desenvolver novos produtos e inovações se não tem a devida infraestrutura para escoar a produção. Portos, aeroportos, estradas, rodovias, energia nuclear, e uma estrutura tributária eficiente favorecem o capitalismo e o crescimento. A infraestrutura é essencial para pavimentar a atividade do setor privado. Por fim, é necessário que os governos estimulem a competitividade intensamente, mesmo no caso de empresas estatais, criando-se uma cultura de concorrência mundial.

Além disso, os chineses levam em consideração um binômio importante em sua estruturação socioeconômica: equidade e eficiência. As políticas públicas implementadas devem ser avaliadas para verificar se os resultados serão eficientes e justos para a população no longo prazo. Muitas vezes, as políticas podem ser consideradas injustas, porém a eficiência dos resultados justifica a adoção dessas medidas.

A eficiência é importante para maximizar os resultados. Os chineses afirmam, com sabedoria, que entre eficiência e equidade, a eficiência será sempre a escolhida. Porque a eficiência pode levar à equidade mais rapidamente do que a equidade à eficiência. Governos que optam por sempre implementar a questão da equidade invariavelmente deterioram a qualidade do bem-estar da sociedade e ineficiência abunda.

A China sempre acreditou no mercado e no Estado. No século XVIII, Adam Smith reconheceu que "o mercado chinês é maior, mais desenvolvido e sofisticado do que qualquer mercado na Europa." Enquanto na China se construíam grandes obras de infraestrutura, como a Muralha e o Grande Canal, na Europa se construíam castelos para a proteção no contínuo processo de guerras infindáveis. Enquanto, em 500 anos, a China teve uma guerra com o Vietnam e perdeu, no mesmo período o Reino Unido e França tiveram 142 guerras.

Nas últimas décadas, observamos um país que logrou tornar-se uma potência global e retomar, através de um processo de rejuvenescimento gradual e coletivo, a sua posição histórica de maior potência econômica global. Obviamente, o país enfrenta enormes desafios. A questão do desemprego e da segurança alimentar de uma enorme população num vasto território sempre preocupam. A China tenta, ao máximo possível, minimizar erros para atingir uma renda per capita de US$ 20 a 25 mil em 2049, ano do centenário do país. O efeito disruptivo deste incremento de renda será imenso e o aumento do consumo chinês impactará todos os cantos do globo.

Não há dúvida que os princípios que nortearam a China em seu processo de crescimento econômico poderiam ser reproduzidos por muitos países no mundo que estão buscando desenvolver-se e alcançarem novos níveis de bem-estar social. A China tem gastado um volume substancial dos seus recursos para assegurar uma sociedade com segurança, educação e infraestrutura. Tais investimentos levaram o país a tornar-se a principal economia global em paridade do poder de compra, com uma perspectiva positiva de crescimento ainda maior, resistindo às imposições e tentativas de contenção impetradas pelos Estados Unidos e seus aliados no Ocidente.

A Napoleão Bonaparte se atribui a frase: "Deixe a China dormir. Porque quando ela acordar, o mundo vai tremer". Segurança, educação, infraestrutura, equidade e eficiência: elementos básicos que comprovam, cada vez mais, que Napoleão estava correto.

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