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Marcus Vinícius de Freitas: O tsunami de mudanças

Marcus Vinicius De Freitas

Marcus Vinícius de Freitas: O tsunami de mudanças
Marcus Vinícius de Freitas: O tsunami de mudanças

Redação Publicado em 23/06/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h02


O tsunami de mudanças

Marcus Vinicius De Freitas

O mundo está passando por profundas e intensasalterações. Para quem tem acima de quarenta anos, jamais se viu tanta mudança como nas últimas décadas do século XX e do início do século XXI. Nos últimos quarenta anos, trocamos a máquina-de-escrever pelo computador, o computador pelo celular, e, em breve, até o celular passará por mudanças radicais. Este, inclusive, deixou de ser um meio de comunicação direta para se transformar numa plataforma de múltiplas funções. E uma das funções menos utilizadas pelo aparelho é justamente falar. O que a tecnologia nos apresentará nos próximos anos será substancialmente diferente de nossa realidade atual. Tudo será mais rápido, mais intenso, mais superficial e, sem dúvida, eficiente. Mas será que estamos, de fato, nos preparando seriamente para o mundo que se avizinha ou corremos o risco de ficarmos para atrás e impedirmos os avanços necessários.

Um estado de espírito arguto é essencial à mudança dos tempos, a fim de compreender como seremos influenciados, impactados e, quando possível, beneficiados. A realidade é que o tsunami da mudança é uma das garantias mais constantes da saga da humanidade. E quem não se prepara para as mudanças, corre o sério risco de se tornar inútil e irrelevante. Basta recordar-nos da enorme quantidade de empresas e instituições que, no passado, exerciam um papel fundamental nas economias e que, se ainda existirem, ocupam um lugar secundário ou terciário na realidade atual. Uma alteração fundamental, por exemplo, tem sido como nós, seres humanos, interagimos e nos comunicamos: de sinais desenhados em pedras aos instrumentos avançados de mídia digital, observamos o quanto a velocidade das relações humanas se acelerou e o quanto o universo se apequenou. O mundo, de fato, passou a ser aquilo que sempre foi: limitado e pequeno. A humanidade, no entanto, não percebia isto porque, ao invés de se preocupar com as questões relevantes de mudança, perdia-se na infinitude de discussões e debates de menor relevância. Poderíamos ter evoluído muito mais. Essa é a verdade!

O grande desafio apresentado à humanidade está relacionado à construção de uma comunidade mundial de valores compartilhados. Isto significa que muitos assuntos requerem uma cooperação global para serem, de fato, minorados ou resolvidos. Equivoca-se quem acredita que o Estado Nacional tenha a capacidade de atender todas as demandas de sua população. Assuntos existem cuja natureza, por si só, é global na concepção: o terrorismo, as drogas, pandemias e práticas comerciais desleais, por exemplo. A construção de soluções conjuntas ainda é o mecanismo mais efetivo para o avanço de muitos desses desafios. Neste sentido, é ruim um País isolar-se do contexto global. Se existe uma lição importante ensinada pelos anos Trump à frente da Casa Branca é que a postura isolacionista, a de colocar-se em primeiro lugar e acima de todos, somente gera um ranço global e falta de solidariedade nos momentos de maior necessidade. A humanidade ainda está muito longe do ensinamento religioso do perdão.

Dentre as grandes mudanças que já se podem antever nos próximos anos, destacamos três essenciais: a ascensão e a predominância da China como potência global, a profunda alteração nos setores de defesa dos países, em razão da guerra cibernética, com a respectiva diminuição do pessoal efetivo dos países; e, por fim, a mobilidade financeira, que, apesar das inúmeras tentativas de regulamentação impostas pelos governos, será cada vez maior. Todas essas alterações levarão a uma menor capacidade de atuação do poder estatal e de uma influência reduzida na vida do cidadão. Os países que se prenderem a lideranças populistas correrão o sério risco de perderem o trem da história. É por essa razão que o poder deve buscar, paulatinamente, adaptar-se aos novos tempos. Para isso, os sistemas políticos precisam buscar maior representatividade não somente pelo instrumento exclusivo do voto, mas pelo reconhecimento constante e aprovação de sua atuação.

O Brasil pode optar por seguir discutindo pautas de somenos importância, como vemos o País fazendo há anos, basicamente girando em falso a roda do seu progresso e desenvolvimento. Ou poderá optar por fazer uma auto-avaliação aprofundada sobre como pretende desenhar a sua história nos próximos anos. Em tempos de grandes mudanças, nada melhor que buscar pelo mundo as melhores práticas existentes que possam ser implementadas paulatinamente para não se correr o risco de vermos o País repetir erros.  Ao se aproximar da celebração dos duzentos anos de sua independência – que, infelizmente, ocorrerá num ano eleitoral – seria importante à sociedade brasileira, suas elites e pensadores identificar qual é a mensagem do Brasil para o mundo como experiência social. E como este país dos trópicos, fruto do sacrifício de milhões de indivíduos, pode marcar sua relevância de modo, efetivo, no concerto das nações, e como pretende liderar em tempos de tantas mudanças.

Marcus Vinicius De FreitasAdvogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China

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