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COLUNA

4 de julho

Imagem: Freepik
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Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 05/07/2023, às 06h34


Há 247 anos, a Declaração de Independência era adotada nos Estados Unidos da América pelo Segundo Congresso Continental, convocando as colônias norte-americanas à secessão do Reino Unido. A partir dessa data, os Estados Unidos iniciaram um experimento único na história, construindo uma nova realidade no concerto das nações: uma nação jovem, com entusiasmo, disposta a testar novas perspectivas quanto a teorias econômicas, religiosas e políticas. 

O que mais surpreende no caso norte-americano é o fato da impressionante capacidade de o país ter aplicado novas releituras sobre os mais variados assuntos. Com esse espírito empreendedor, lograram construir uma realidade diferenciada, que lhes permitiu ascender. Os Estados Unidos - que afirmam o seu processo de construção é excepcional - se tornaram o padrão global em várias áreas do conhecimento humano, das finanças e do poder militar. 

O país, por sua imensidão territorial lograda, por meio de guerras, tratados e aquisições, ao longo de anos, cresceu em relevância e poder. Rapidamente, a prevalência dos países europeus foi suplantada. O Velho Continente, que por séculos dominou o mundo, tornou-se dependente da nova nação, particularmente no processo de reconstrução pós-guerra e no processo de proteção europeia contra o temor imposto pela União Soviética na Guerra Fria e, atualmente, com a Rússia, na Guerra na Ucrânia. 

O país passou a ocupar uma posição de destaque, particularmente baseado em quatro principais aspectos:

(I) valores; (ii) defesa; (iii) o dólar como moeda de reserva global; e (iv) a superioridade tecnológica.

Em todas estas áreas, observamos um declínio relativo da preponderância norte-americana. O fato de o país haver-se tornado a principal potência global lhe criou enormes oportunidades para avançar em sua agenda de influência e interesses. E, nesse processo, o país logrou criar uma imagem positiva, particularmente quanto à questão da democracia e da liberdade.

Os Estados Unidos, por discurso e prática, tornaram-se o bastião dos princípios norteadores da Revolução Francesa: igualdade, liberdade e fraternidade. Para essa imagem o país envidou enormes esforços para consolidar internacionalmente. A indústriado entretenimento, particularmente Hollywood, buscou perpetuar o bom-mocismo missionário dos Estados Unidos. E, apesar de falhas substanciais da atuação norte-americana em vários conflitos e intervenções, ainda assim o país sempre contou com uma comunidade internacional que lhe deu o benefício da dúvida. O maior caso de abuso desse privilégio exorbitante do país se manifestou na Guerra do Iraque, quando, sob argumentação falsa, o país afirmou que o Iraque possuía armas de destruição em massa.

A polarização política existente no país pouco tem ajudado na revitalização da imagem do país mundialmente. A América é uma casa profundamente dividida e, embora tenha enorme capacidade de resiliência e influência, segue o trajeto de impérios do passado cuja divisão interna foi responsável pelo eventual declínio e queda.

Ademais, a tentativa de transformar conceitos internos em comportamentos globais tem gerado impactos negativos nos países onde intervenções aconteceram. A imagem norte-americana ficou extremamente prejudicada desde a época do apoio aos regimes autoritários latino-americanos. E piorou, particularmente, diante da desastrosa atuação no Afeganistão.

O fato é que, nos últimos anos, a liderança política dos Estados Unidos tem estado aquém do potencial do país. Afinal, alguém acredita que a liderança republicana ou democrata atual teria capacidade de enfrentar conflitos como as Guerras Mundiais ou a própria Guerra Fria? O máximo que se observa é uma tentativa equivocada da repetição de receitas do passado - inaplicáveis no contexto atual - sem inovação ou o desejo efetivo de construir uma realidade global.

Ao comemorar 247 anos, os Estados Unidos têm motivos a celebrar a sua contribuição mundial. No entanto, mantidas as condições atuais, o legado construído poderá desaparecer. E isto não será bom para o país e o mundo.

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