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Uma análise e um conselho ao presidente Lula em Portugal

Lula em Portugal. - Imagem: Reprodução | Ricardo Stuckert / Divulgação
Lula em Portugal. - Imagem: Reprodução | Ricardo Stuckert / Divulgação
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 22/04/2023, às 14h49


No momento em que você lê este texto, Lula já deve ter tido as suas primeiras agendas em Portugal, além de estar se preparando para participar da data mais importante do país, o 25 de Abril. É o dia em que se comemora os 49 anos da Revolução dos Cravos, que tirou do poder a moribunda ditadura que sobreviveu por décadas sob a mão forte de Salazar e trouxe a democracia parlamentar que tanto orgulha os portugueses.

Zelosos pelo sentimento democrático da data e pela participação na União Europeia e na OTAN(que lá eles chamam de NATO), diversos portugueses condenaram veementemente a fala de Lula sobre uma culpa compartilhada por Zelenskye Putin pelo início da guerra, inclusive dizendo que o presidente brasileiro deveria ser “desconvidado” para falar na visita.

E, então, fica claro que, de ambos os lados, falta intenção de entender as realidades. Então, vamos lá! Para o Brasil, a Europa não é uma referência consolidada de democracia, até porque essa ideia é recente e pouco foi apresentada ao nosso país. Ao contrário, a Europa é referência da colonização, que não foi nada democrática, do envio de mão de obra de pessoas que não tinham em terras europeias as oportunidades que poderiam ter no Brasil e de indústrias que, embora tenham levado inovação, também foram responsáveis por exploração de mão de obra (quando já não podiam fazer isso em seus países) e até mesmo por apoio explícito à ditadura brasileira (ou será que ninguém se lembra dos episódios como o da Volkswagen, que financiou estruturas para tortura de “subversivos”?).

Além disso, Lula sempre teve o pragmatismo no discurso e nas ações, desde o primeiro mandato. Se a ideia de uma aliança com os BRICSpode trazer benefícios ao Brasile ajudá-lo em políticas públicas que o façam cumprir as promessas de campanha, com certeza não será influenciado por aquilo que Portugal ou a Europa pensa sobre a relação com a Rússia.

Por outro lado, falta a Lula e a uma parte importante dos políticos brasileiros, a compreensão de que a Europa pode ser um parceiro estratégico, com capacidade de nos colocar em destaque até mesmo na nossa relação confusa com os EUA. E, para que isso ocorra, Portugal é o nosso fiador na União Europeia. Uma relação positiva com os países europeus aumenta as possibilidades de exportação de produtos brasileiros com muito mais valor agregado do que as possíveis vendas para a China ou outras partes do mundo.

Os mercados europeus são exigentes, e por isso representam ótimas oportunidades para que o Brasil deixe de ser o país apenas das commodities agrícolas. Eles podem, no longo prazo, ser os nossos parceiros mais importantes para a geração de empregos de qualidade. Portanto, por que Lula precisa brigar com a Europa? Não é melhor manter a amizade, já que tantos por aqui torceram por ele na eleição do ano passado?

Porém, além de tudo isso, está o que é fundamental e mais importante nesta história: a população ucraniana está sofrendo. E ninguém exige que Lula apoie politicamente Zelensky, só não pode se esquecer de quem está perdendo a vida.

Portanto, não é hora de proibir o presidente de falar onde foi convidado por seus amigos António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa. Mas também não é hora de Lulavoltar a dizer o que já foi aconselhado a não repetir.

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