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Para que serve a polícia?

Polícia Militar SP. - Imagem: Reprodução | Agência Brasil
Polícia Militar SP. - Imagem: Reprodução | Agência Brasil
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 16/03/2024, às 05h46


Tem muita gente que pode responder a esta pergunta dizendo que o confronto contra os criminosos é a principal função da polícia. Mas, quando se olha para os cenários em que a Segurança Pública apresenta os melhores resultados, é possível perceber que a prevenção, e não o combate violento, é a verdadeira missão das forças de segurança.

E, como todo o mundo sabe, só é possível prevenir o crime de uma forma: com inteligência na investigação. O problema no Brasil é que inteligência policial não dá voto, não traz visibilidade, não resulta em imagens impactantes para os programas de TV nem para as redes sociais.

Mas é preciso repetir sempre que a visão comum da polícia como uma força predominantemente combativa é muito simplista e limitada. Ao contrário, a prevenção de crimes através de estratégias de inteligência tem se mostrado não apenas mais eficaz, mas também mais alinhada com uma visão humanitária de segurança. Tudo bem que nem todos estão preocupados com Direitos Humanos, principalmente quem gosta da frase “bandido bom é bandido morto”, desde que os bandidos não sejam da família.

Porém, a ideia da prevenção, que foca na importância de antecipar e neutralizar ameaças antes que elas se materializem em ações criminosas, precisa de investimento em equipamentos, softwares e gente que não tenha como preferência armas e mortes. E aí é outro ponto que precisa ficar claro na organização da polícia..

E não é só isso. Segurança também exige uma base sólida composta por educação de qualidade, preocupação social, empregos dignos e uma cultura que mostre que o crime não compensa. Sem esses pilares, a eficácia da polícia fica comprometida, até porque a Segurança Pública é um reflexo das condições sociais e econômicas de um país.

Outro erro que se vê muito no Brasil é a ideia da ostensividade, que faz com que se acredite que a polícia visível na rua diminui a criminalidade. Hoje em dia, isso nem seria necessário. Com coleta competente e análise de dados, principalmente imagens, é possível prever e prevenir o crime de forma mais eficiente do que simplesmente reagir a ele. O confronto direto pode ser necessário em determinadas circunstâncias, mas não pode ser o alicerce da política pública de Segurança.

Observando o que pensam os gestores públicos, a gente pode se questionar: o país possui as condições necessárias para adotar uma política de segurança focada na prevenção e na inteligência? A realidade atual sugere que ainda estamos longe disso, com a necessidade urgente de reformas sociais e estruturais que fortaleçam os fundamentos de nossa Segurança Pública.

Repensar o papel da polícia, inclusive se ela deve ser militar ou não, é fundamental para a construção de uma sociedade mais segura. Lembrando que encarar a Segurança Pública com uma perspectiva de longo prazo e preventiva não é apenas uma questão de eficácia, mas de justiça social.

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