O caminho de Nikolas Ferreira para a Presidência

Eu nunca conversei com o deputado mineiro Nikolas Ferreira, mas tenho certeza de uma coisa: o objetivo dele é virar presidente da República. E, até agora, tem tido um caminho fácil para chegar lá.

Tudo o que ele fala se dissemina rapidamente pelas redes sociais e pelos veículos tradicionais da imprensa. Nesta semana, ao colocar a peruca e fazer um discurso que pode ser considerado criminoso, tomou para si um papel que tem enorme importância política no Brasil: o de defensor e representante dos “tios do pavê”, que se sentem ameaçados por não poderem mais fazer piadas homofóbicas, machistas e racistas.

E ele não tirou isso do nada. Está seguindo uma observação competente de quem fez isso com sucesso antes dele, principalmente o ex-presidente Jair Bolsonaro. No ambiente de negócios, isso se chama benchmark, ou seja, a análise de um concorrente que faz tudo da melhor forma para que se possa adaptar os comportamentos, as estratégias e a comunicação.

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Jamais sabote a si mesmo afirmando que não possui determinadas competências

Nikolas tem hoje pouco mais de 25 anos. Se conseguir se manter pelas próximas décadas com destaque, com certeza poderá surfar mais algumas ondas em que personagens como ele terão sucesso.

Durante três décadas, Bolsonaro conseguiu aparecer de tempos em tempos no noticiário. A princípio, não tinha as redes sociais para espalhar as mensagens, mas conseguiu conquistá-las logo que elas chegaram. Apoiou a ditadura, as torturas, disse que deveriam ter fuzilado todos os políticos de esquerda e ainda defendeu a pena de morte para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Embora alguns tenham se levantado contra ele, como o ex-presidente da Câmara Inocêncio de Oliveira, nenhum pedido de cassação foi para frente. Por isso, foi aos poucos conseguindo construir a ideia de que tinha a capacidade de ser a voz dos que a “esquerda” tentava calar, inclusive (e principalmente) os “tios do pavê”.

Nikolas não terá o mandato cassado. Periodicamente, vai aparecer no plenário fazendo o que fez esta semana. Será lembrado por todos, principalmente pelos que o criticam. Com isso, a cada dia, será mais herdeiro dos que não veem mais Bolsonaro como solução.

E, daqui a muitos anos, quando Nikolas Ferreira estiver à beira da Presidência, liderando pesquisas e tomando facadas, pode ser que você se lembre deste momento e deste texto.

Se eu estiver ainda por aqui, mande uma mensagem, um holograma (provavelmente será comum), dizendo que eu estava certo. Porque, no final das contas, espero não estar. E que esta seja somente uma coluna semanal com uma curta validade, para ser esquecida antes mesmo de chegar a próxima.