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COLUNA

Falar sobre Israel e Palestina não é simples

Palestina e Israel - Imagem: Pixabay
Palestina e Israel - Imagem: Pixabay
Kleber Carrilho

por Kleber Carrilho

Publicado em 14/10/2023, às 09h58


Em geral, temos uma vontade tremenda de tomar partido, de torcer por um lado, de colocar uma bandeirinha na foto de perfil ou nos stories, em todos os conflitos que ocorrem pelo mundo. Porém, por mais que queiramos concordar com um ou com outro lado da narrativa de uma guerra, nunca é tão simples como torcer para um time de futebol. E, no conflito entre israelenses e palestinos, também é assim.

Quando vejo uma defesa muito veemente de um lado, em geral há uma das duas características: ou relação pessoal, o que é compreensível, já que muita gente faz parte dos grupos em conflito, ou falta de informação, que pode ser evitada se as pessoas quiserem conhecer, saber, estudar. No Brasil, atualmente, ainda há uma mistura entre os dois posicionamentos, principalmente entre alguns (ou muitos) religiosos pentecostais, que se veem como herdeiros do judaísmo.

E aqui vai um detalhe se você quiser continuar a ler este texto: esta é uma discussão política, que até pode considerar questões do discurso religioso, porém não vai falar de promessa divina sobre um território como critério de pertencimento, até porque isso é dogma, e sobre os dogmas não há discussão.

Portanto, vale sempre pensar que, como em todas as guerras, os maiores derrotados são os civis de ambos os lados, que mais sofrem. Quem manda realmente, e usa as pessoas como armas, não está em geral entre os mortos. Os comandantes estão nos seus bunkers, nos seus palácios, muito mais preocupados com a manutenção do poder (e em mais conquistas) do que com pessoas que morrem.

No caso específico do capítulo que acontece agora do longo conflito na região da Palestina, ambos os lados (Hamas e governo de Israel) viviam instabilidades políticas e precisavam de motivos para ter apoio popular. Ao iniciar uma ofensiva, as lideranças do Hamas sabiam que sua população ia sofrer as consequências, mas ficar parado significava ter a sua posição de comando questionada. E, do outro lado, ao ver seus territórios atacados de forma inédita, o atual primeiro-ministro de Israel viu a possibilidade de um governo mais estável (o que ele não tinha conseguido há muito tempo) se concretizar.

As razões históricas sobre o território, se pertence aos que foram expulsos no primeiro século da Era Cristâ ou aos que estavam lá antes de 1948, pouco importam neste conflito. Para quem vive dia a dia na região, trata-se de proteger a casa, a família, o local de trabalho, os amigos, o bairro, a vida.

O Estado de Israel é um país pequeno cercado por inimigos históricos, mesmo que alguns sejam aliados momentâneos, e por isso tem o direito de se defender e lutar pela sua existência. Por mais que muito se questione a decisão da formação em 1948, os país está lá, é uma realidade, é habitado por gente que se sente israelense.

A Faixa de Gaza é um território muito pequeno, com uma população enorme. Na sua área mais densa, tem apenas 6 quilômetros de largura, entre o mar e a cerca. Isso mesmo: 6 quiômetros. A área total é menor do que o município de São Bernardo do Campo, cerca de um quinto da cidade de São Paulo. Lá, também tem gente que vive, trabalha, ama. E também tem o direito de continuar a tentar buscar a paz.

Portanto, tente não simplificar. É um conflito complexo, em que o único lado que a gente tem que ter é o da paz, embora seja tão difícil acreditar que ela vá ocorrer em breve.

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