por Kleber Carrilho
Publicado em 25/03/2023, às 11h42
Por mais que não seja um partido ou tenha personalidade jurídica oficial, o Primeiro Comando da Capital (PCC) é uma força política. Domina territórios, compete com o Estado em diversos lugares (inclusive fora do Brasil) e entra em guerra com outras facções, além de provavelmente ter braços muito próximos (talvez até mesmo internos) às estruturas oficiais.
Portanto, o planejamento do atentado contra o ex-juiz, ex-ministro e atual Senador Sérgio Moro e sua família tem muito mais para ser observado do que simplesmente um crime que foi evitado pelas polícias.
A princípio, a imprensa deu conta de que o sequestro e talvez o assassinato das autoridades, inclusive de Moro, teriam como função ser moeda de troca para a libertação do principal líder do grupo.
Porém, quando olhamos para a guerra que se desenvolve no Rio Grande do Norte, é possível também compreender que, para continuar o processo de expansão, o grupo precisa de mais recursos materiais, armas e soldados. E, claro, tudo isso custa dinheiro. O que ocorreria em uma negociação pela vida de um Senador da República, com a bagagem histórica recente de Sérgio Moro?
Em outros tempos na História, o sequestro de líderes fez parte das estratégias de conquista de diversos grupos. Um deles, inclusive, ocorreu contra um personagem com o mesmo sobrenome do ex-juiz: Aldo Moro.
No entanto, algo causa estranheza. Se, realmente, há um processo de aproximação do grupo da política formal e da participação nas instituições de Estado, por que neste momento haveria aparentemente um passo para trás, retomando uma estratégia que há mais de uma década foi abandonada no Estado de São Paulo, quando houve os últimos episódios de ataques a bases da Polícia Militar?
Podemos pensar que o grupo está correndo riscos na competição com outras facções, e por isso precisa retomar o papel de organização temida, ou ainda este planejamento de atentado demonstre uma divisão no comando, com alguns que pensam em fazer do grupo um participante oficial enquanto outros tentam retomar os objetivos originais.
E, como não se trata de uma organização criminosa simples, mas sim uma entidade com características de fraternidade com presença difusa e complexa, esse possível “racha” pode ter resultados extremamente complexos.
Para os que acreditam nas teorias da conspiração, uma presença do Partido dos Trabalhadores ou de defensores do presidente Lula nessa história me parece muito difícil. Afinal, seria uma atitude tresloucada, em um momento em que Morodemonstrava sinais claros de enfraquecimento político.
Mesmo com a vida em risco, Moro sai do episódio com uma sobrevida como personagem nacional que ele não sonhava. Ou, talvez, tenha gente da Polícia Federal que ainda sonha com a ascensão do antigo chefe.
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