Diário de São Paulo
Siga-nos
Coluna

2024: O ano da inflexão europeia

Ursula Von Der Leyen, Georgia Meloni e Marine Le Pen. - Imagem: Reprodução | G1
Ursula Von Der Leyen, Georgia Meloni e Marine Le Pen. - Imagem: Reprodução | G1
Maria Antônia De Carli

por Maria Antônia De Carli

Publicado em 08/06/2024, às 06h00


A Europa vive um dos seus momentos históricos mais difíceis. O continente é palco da Guerra na Ucrânia, conflito mais sanguinário desde a Segunda Guerra Mundial; vive ameaças constantes da Rússia, principalmente referentes a ciber-segurança; vive crises econômicas e sociais causadas por choques industriais e fluxos migratórios; o populismo e a sensação de ceticismo com a União Europeia se alastram cada vez mais; e, a "cereja do bolo" neste cenário caótico está com a iminente vitória de Donald Trump nos EUA, o que traria uma ameaça ainda maior à segurança europeia com a potencial falta do financiamento norte-americano à OTAN.

O descontentamento - ou não, com a União Europeia será refletido nas próximas eleições para o Parlamento Europeu, o seu órgão legislativo, que acontecerão nesta semana entre os dias 6 e 9 de junho.

As eleições para o Parlamento Europeu ocorrem a cada 5 anos e são um termômetro que antecede as disputas eleitorais nacionais dos países membros do grupo. Por esta razão, todos os holofotes estão direcionados para essa eleição, principalmente em como será a dança das cadeiras entre os partidos e seus respectivos grupos. No Parlamento Europeu, os parlamentares, independentemente dos seus partidos nacionais, se organizam em grupos estruturados a partir da sua ideologia. 

Ao longo das últimas duas décadas, grupos de centro-direita e centro-esquerda mantinham predominância tranquila no Parlamento Europeu, sendo o principal deles o Grupo do Partido Popular Europeu, ou EPP na sigla em inglês. Este grupo de centro-direita ganhou força nos anos Merkel, ex-Chanceler alemã, figura icônica e simbólica do pan-europeísmo, e preconizadora dos anos "dourados" da União Europeia no século 21.

Porém, os anos Merkel ficaram para trás, e tudo indica que os partidos de extrema-direita, nacionalistas e eurocéticos serão os principais "players" na disputa de poder das eleições europeias deste ano. Pesquisas antecipadas indicam que a extrema direita vai expandir sua representação para pelo menos 25% dos assentos parlamentares europeus, saindo de menos de 20%.

Destaque principalmente para os partidos da Premiê italiana Giorgia Meloni e da candidata à presidência da França Marine Le Pen, duas personagens políticas reconhecidamente populistas, que desprezam a União Europeia nos seus discursos, são contra imigração e a favor de uma maior nacionalização econômica.

Com o crescimento da extrema-direita, a União Europeia vive uma anomalia curiosa: como explicar o aumento de parlamentares na sua burocracia institucional que são contra sua própria estrutura e princípios? A que se deve isso? 

O problema principal está nas demandas e queixas políticas dos seus eleitores, que, por muito tempo, foram ignoradas pelo establishment político, isso foi se acumulando em sentimentos de exclusão, raiva e ceticismo, que silenciosamente foram crescendo até encontrarem vozes políticas que legitimaram suas "dores" e foram eficientes na sua comunicação para exaltar essas emoções e levá-los às urnas.

É a situação que o escritor Giuliano da Empoli explica no seu livro "Engenheiros do Caos", os novos partidos populistas europeus não surgem por ideais da dicotomia esquerda e direita, surgem por demandas do seu eleitorado em potencial. Dando ao eleitor o que eles querem ouvir, uma espécie de "Política de Demanda".

Importante destacar que apesar de todas as críticas contra a União Europeia, se essa instituição fosse um país, possuiria a segunda maior economia do mundo, com menos desigualdade que EUA e China, melhor educação e maior expectativa de vida.

Sua eleição é a segunda maior do mundo, mobilizando cerca de 400 milhões de eleitores que irão selecionar 720 parlamentares de 27 nações diferentes. Apesar dos "trancos e barrancos" a União Europeia é um exemplo de legislatura multinacional que representa uma gama muito extensa de interesses, desde regulamentação ambiental, passando por políticas de segurança até políticas de imigração.

Dada a importância dos países europeus no concerto internacional, econômico, cultural e político, resta observar com bastante atenção como todo esse processo se desdobrará nos próximos meses e anos.

Compartilhe  

últimas notícias