por Bruno Bernardes
Publicado em 22/06/2024, às 06h00
A teoria do "eleitor mediano" é uma teoria política muito popular que explica as preferências eleitorais por partidos e candidatos de centro. Nela, acredita-se que tanto o espectro da esquerda quanto o da direita irão achar denominadores comuns, e, por conta deste denominador, o eleitor terá preferências políticas que tendem a se direcionar para o meio do espectro ideológico.
O conceito do eleitor mediano caiu como uma luva no contexto político da Europa ocidental no fina’ dos anos 90. Todo o mainstream político parecia convergir para o centro. A preferência era por políticos progressistas, democratas e liberais, defensores de políticas econômicas baseadas no livre comércio com ênfase na rede de bem-estar social, combinadas com um olhar progressista na parte cultural e ideológica.
A integração econômica e política da União Europeia era a concretização deste momento e estava rendendo bons frutos para todos. Será mesmo?
Uma grande parte da população estava de fora da festa e não estava nada feliz com isso. Esse cenário de descontentamento ganhou força após o crash econômico de 2008 que gerou a exclusão econômica de muitos cidadãos, sobretudo, nos países de economias avançadas.
A crise econômica foi acentuada por sucessivas crises de valores culturais e ideológicos ocasionadas por políticas sociais mais progressistas responsáveis por gerar a chamada "Guerra Cultural". A elite política daquele momento não soube captar o que estava acontecendo e negligenciou uma parcela considerável de um eleitorado mais conservador, de mão de obra operária, que, em tempos de crise, viram seus empregos serem ameaçados e seus valores sufocados, sendo assim os alvos perfeitos para que políticos apelativos e populistas surgissem.
Por conta do vácuo de representatividade, o eleitor conservador alimentou uma grande descrença na social-democracia, que, no papel, possuía soluções perfeitas mas na prática eram ineficazes. A insatisfação levou a raiva. E a raiva é o alimento central dos governos extremistas. É no contexto da "raiva calada" que muitos políticos enxergam oportunidades, falam o que o eleitorado quer e precisa ouvir, trazendo sentimentos de pertencimento aos excluídos. Muitas vezes são toscos e rústicos; muitos dos eleitores se reconhecem nestes políticos, eles são tangíveis, falam de suas dores com emoção, como se realmente se importassem.
Desde 2009, o Parlamento Europeu refletiu a tendência da preferência eleitoral para o centro, com o EPP-Partido Popular Europeu, obtendo a maioria dos assentos. Porém, as eleições para o Parlamento Europeu de 2024 provaram que é preciso começar a levar a sério a ascensão da nova ultradireita. Os dois grupos que somam as principais vozes da extrema-direita, obtiveram 131 dos 720 assentos no legislativo do bloco. Destaque para o grupo Identidade Democracia-ID, liderado pela francesa Marine Le Pen que subiu 9%.
Le Pen não apenas obteve êxito nas eleições europeias, mas também, na França, seu partido o RN- Reunião Nacional, levou 31,5% dos votos, enquanto que o partido do atual presidente Emmanuel Macron saiu perdedor com 14,6%. Esse resultado fez com que Macron dissolvesse o Parlamento francês e chamasse novas eleições para junho/julho, causando desconforto e instabilidade no cenário político europeu.
Fato é que Le Pen e seu fiel escudeiro, Jordan Bardella, são a concretização do sucesso da ultradireita no mundo, ambos combinam todos os fatores que justificam a ascensão: discurso divisivo e reacionário, feito de uma maneira raivosa, exaltando emoções, sempre consistentes com políticas contra a imigração e integração. Com o tempo, Le Pen transformou sua comunicação política para parecer mais moderada e conseguiu expandir sua popularidade com outros eleitores além dos "extremistas".
A polarização e o extremismo estão levando a política para novos patamares e virando o status-quo de cabeça pra baixo. Atualmente, quem vota na esquerda são as elites financeiras que possuem vieses progressistas, quem vota na direita são os mais pobres, a classe trabalhadora. E nesse tabuleiro político, quem não reconhecer que hoje despertar emoções é a grande variável para o sucesso eleitoral, pode se considerar fora do jogo.
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