"Puxadinho" de Lucas Sanches produzia fake news dentro da Câmara

Na Câmara de Guarulhos, em uma espécie de "puxadinho", o gabinete do vereador Lucas Sanches (PL), segundo seu ex-chefe de gabinete, o jornalista Caique Marcatti Calimerio, funcionava a todo vapor, como uma "fábrica" de fake news. A produção era em alta escala.

Do "puxadinho" de Lucas Sanches, diariamente, dezenas e dezenas de notícias falsas eram enviadas a diversos grupos de WhatsApp. Eles usavam chips frios, sem identificação. A "fábrica" tinha até logística própria.

ALVO PREFERIDO
O deputado estadual Jorge Wilson (Republicanos), o "Xerife", era a principal vítima da produção em série na "fábrica" de Lucas Sanches.

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“Não acho ruim não, até porque esse aí tende a viralizar. Não é a mensagem do vídeo, mas não custa nada deixar no subconsciente também. Depois dá para fazer outro só citando a questão do PT e podemos citar de leve também que ele ferra com os comerciantes”. Esta foi uma das muitas mensagens distribuídas contra o "Xerife".

A reportagem teve acesso a várias mensagens trocadas entre o vereador Carlos Santiago (PL), de Itaquaquecetuba, amigo e uma espécie de "irmão siamês" de Lucas, e assessores de Sanches.

Nas mensagens, sempre havia a preocupação de usar um chip novo, fora de Guarulhos, visando evitar que fossem registrados por alguma Estação Rádio Base (ERB) das operadoras de telefonia celular.

Na troca de mensagens, é possível ver a comemoração de uma mensagem que tivesse repercussão nos grupos e até na imprensa.

Em uma mensagem, Carlos Santiago diz ao pessoal do grupo "Carne Crua": “Pessoal, o que acham de colocar na edição aquele em que ele aparece com a parte do Almeida 13?”.

O vereador Lucas Sanches, que atuava como um CEO da "Lucas Production Fake", tinha participação direta nos diálogos do grupo. Em uma dessas conversas, ele orienta os operários de sua fábrica: “Manda de fora de GRU nos grupos”, disse.

Com a preocupação de não ser pego pelo rastreamento através de uma ERB, Carlos Santiago, ao trocar mensagem sobre a divulgação de um vídeo que todos sabiam ser falso, observa: "Disparo vindo de fora. Sem rastreio”. E, o CEO Lucas Sanches completa: “Boa”.

À reportagem, Caique Marcatti explicou sobre o uso de chip entre os membros do grupo. “Eles criavam esses perfis e saíam da cidade para que seus aparelhos não fossem alcançados pelas torres locais”, disse.

O vereador Santiago sempre manifestava sua preocupação com o rastreio de ERBs. “Disparo em movimento. De preferência. E acho que o chip que disparar isso precisa queimar. Importante não ter usado em sua casa e etc… Cruzar ERB. Porque esse vai ser do c… Vão para cima”, disse no grupo.

Em outro trecho, Lucas volta a falar, desta vez com um perfil de no "Gabinete Caio", sobre o cuidado para não ser pego pela Estação Rádio Base. Caio o tranquiliza: "O chip que tenho lá no grupo, eu nunca loguei em nenhum Wi-Fi. Vou disparar amanhã cedo, fora da cidade então e já descarto pela estrada.” Lucas Sanches responde: “Isso”. Santiago emenda: “Perfeito”.

Os ataques a adversários passaram a ser a diversão dos envolvidos no esquema. No dia 18 de abril, Caio avisa aos colegas que vai aprontar para confundir os adversários. “Galera, mandei um vídeo agora do Laércio no grupo onde ele fala que o Xerife é inimigo do povo e dos comerciantes. Já solto a música para confundir e eles pensarem que partiu do PT”. Carlos Santiago manifesta sua aprovação: “Show”.

PROTEÇÃO
Como estratégia de se proteger e garantir a segurança de sua família, Caique Marcatti, na última quarta-feira (21), depois de usar a Tribuna Livre na Câmara, onde falou sobre os crimes supostamente praticados por Lucas Sanches, concedeu entrevista coletiva, quando desabafou: "Se alguma coisa acontecer comigo, com a minha família ou meus amigos, esse sangue está nas mãos do Lucas Sanches, do Santiago (vereador do PL de Itaquaquecetuba), do Luciano Jack e do Anderson Araújo. Esses foram os responsáveis por todas as ameaças que eu, minha família e o Valdir Pimenta sofremos”, disse.

DENÚNCIA
A defesa de Caique Marcatti está preparando uma denúncia contra Lucas, que será protocolada na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar. A partir do recebimento da denúncia, a Comissão inicia investigação.

Na denúncia, o jornalista vai juntar documentos e testemunhas para que a investigação possa seguir um ritmo acelerado e concluir os trabalhos.

OUTRO LADO
A reportagem procurou o vereador Lucas Sanches, que desqualificou a denúncia, atribuindo falta de provas. "Sobre tais acusações, o corpo jurídico da campanha de Lucas Sanches (PL) à Prefeitura de Guarulhos-SP esclarece que se tratam de ilações, denúncias infundadas e sem provas. Reforça ainda que medidas judiciais cabíveis já estão sendo tomadas para que, quem acusa, responda, na Justiça, por seus atos, posicionamentos e leviandades", disse.

O vereador Carlos Santiago, procurado, não havia se manifestado até o fechamento desta reportagem. Caso o parlamentar queira se pronunciar, o texto será atualizado.