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Um rebranding mais que necessário

Donald Trump e Joe Biden. - Imagem: Reprodução | YouTube - CNN
Donald Trump e Joe Biden. - Imagem: Reprodução | YouTube - CNN
Marcelo Arbex

por Marcelo Arbex

Publicado em 06/07/2024, às 06h00


O ex-presidente norte-americano Bill Clinton costumava dizer que, não importa o contexto, o forte e o errado sempre vencem o fraco, mesmo que este esteja certo. O mais recente debate entre Donald Trump e Joe Biden parece concretizar essa predição. Com o fiasco da performance do atual Presidente Joe Biden ficou claro que o Partido Democrata dos Estados Unidos, assim como a esquerda global, precisam pensar seriamente em promover um "rebranding", um urgente reposicionamento de marca. No caso norte-americano, precisam também de um novo candidato para enfrentar o republicano e ex-presidente Donald Trump nas disputas presidenciais em novembro de 2024.

Para muitos telespectadores o primeiro debate foi nada mais nada menos que uma "briga de compadres idosos". De um lado um incumbente, presidente Joe Biden, aparentava um semblante cansado, senil e doente, com uma expressão quase perdida, voz fraca intercalada por tosses e certa falta de ar. Do outro lado um Donald Trump e suas expressões sempre sarcásticas e debochadas, atropelando tudo e todos, como sempre faz, disseminando mentiras e apostando sempre na comunicação baseada no medo. Alguns think tanks de economia destacaram que todos os índices que Trump apresentou sobre seu governo eram mentirosos.

O debate da semana passada foi o mais prematuro da história do país, e não apresentou nada de novo para os entusiastas que seguem as mais famosas eleições do mundo. Debates são poderosos instrumentos de convencimento dos indecisos e excelentes mobilizadores de bases, além de servir como potente viés de confirmação para os convertidos. Porém, este último debate não empolgou nenhum dos lados, isso porque Trump e Biden são figuras carimbadas no establishment político norte-americano, e apresentaram apenas mais do mesmo do que já era esperado de ambos. Desanima pensar que os principais partidos da mais poderosa democracia do mundo não estão sabendo inovar nas suas principais escolhas políticas.

A face concreta desta crise política está no atual dilema que o partido democrata norte-americano está vivendo. Há cerca de dois meses da sua Convenção Nacional, o partido vive o desafio de definir se de fato Joe Biden será sua nomeação final. Biden conseguiu maioria tranquila entre os delegados do partido, enfrentou as primárias sem rivais e é apontado como escolha política que mantém os democratas unidos, pois é o nome mais seguro para evitar rachas ideológicos dentro do partido. Porém, sua pífia performance no último debate coloca em xeque seu atual estado de saúde e sua capacidade de fazer uma campanha vitoriosa.

O problema é que o jogo não é para amadores e um rival de Trump não pode apresentar nenhum tipo de fragilidade se quiser se manter no jogo.O partido Democrata precisa urgentemente entender que o jeito de fazer comunicação política mudou, o meio digital demanda um candidato que seja carismático, rápido e saiba "lacrar" de maneira eficiente e instagramável. Biden não cumpre essas exigências além de não ser um campeão de carisma.

Porém, as cartas na manga das decisões políticas dos democratas estão com o atual Presidente, pois ele foi a escolha do partido e apenas ele pode decidir se desiste da corrida ou não. Muito se especula o que está sendo feito nos bastidores, há quem diga que há uma tentativa em massa de convencer Biden a desistir, outros acreditam que ele é o candidato mais viável já que as outras opções não são convincentes, o que preocupa mais ainda.

O nome da vice-presidente Kamala Harris aparece como uma alternativa, porém, infelizmente, diferente dos vizinhos mexicanos, o eleitorado norte-americano parece não estar pronto para ter sua primeira presidente mulher. O nome de Harris causa desconforto para alguns delegados do partido, que defendem que ela só seria um nome viável em 2028, após longa preparação política para isso. Os nomes mais cobiçados são de alguns governadores democratas, como o da Califórnia e o de Illinois. Mais uma vez, escolhas seguras e insossas.

Em tempos de crises e instabilidade, a escolha mais óbvia sempre prevalece. Porém, o óbvio será suficiente diante de uma sedutora direita que soube inovar sua comunicação e usa de todas as armas, polêmicas ou não, que estão ao seu alcance?

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