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Política na Era das Celebridades Digitais

Política na Era das Celebridades Digitais - Imagem: Reprodução | Pixabay
Política na Era das Celebridades Digitais - Imagem: Reprodução | Pixabay
Fabio Modena

por Fabio Modena

Publicado em 16/06/2024, às 06h00


As redes sociais mudaram a maneira de se fazer política. Hoje, com um simples clique das nossas mãos qualquer um consegue ter acesso a um mundo de informações que mesmo as pessoas mais informadas não teriam há duas décadas. Ou seja, a política tornou-se tangível, virou conversa corriqueira do dia a dia das pessoas, está na boca de todos e chega a ser tão popular quanto conversas sobre futebol.

A política virou um show que todos acompanham com o coração, pois o que legitima todo esse frenesi, é justamente a emoção.

Diante deste show on demand de fácil acesso nos nossos celulares e telas digitais, os candidatos tiveram que se adaptar para não perderem seu capital eleitoral. Assim, surgiram também os candidatos "on demand", aqueles que conseguem se conectar com aquilo que os eleitores querem ouvir, com as suas principais dores, coisas que a maioria dos políticos tradicionais não conseguem captar nas suas mensagens e comunicações.

Hoje há um interesse verdadeiro em acompanhar as atividades corriqueiras de um político assim como o que ele pensa sobre os mais diversos temas e aspectos da vida. As propostas políticas de caráter mais técnico, ficaram em segundo plano para grande parte da população, sinal de que é preciso modernizar a forma de se comunicar para que essas ideias e propostas possam se conectar com o novo eleitorado digital.

Políticos viraram celebridades, às vezes tão conhecidas quanto atores de Hollywood, e a sua gigantesca quantidade de seguidores diz muito sobre a sua relevância como figura pública.

Ao mesmo tempo que o fenômeno digital democratizou as escolhas na urna, ele possibilitou o surgimento de outsiders que cada vez com maior frequência chacoalham o establishment político. Esses novos políticos condenam ao ostracismo muitos candidatos de perfil clássico, que não estão sabendo se modernizar e se comunicar com uma linguagem mais sedutora e apelativa para esse novo público. O político que entender essa mudança vai conseguir atingir um grande número de eleitores.

Alguns cenários que ilustram o fenômeno do "outsider-celebridade" são: as eleições dos EUA com a vitória de Trump em 2016; o crescimento do Movimento 5 Estrelas na Itália com o ator Beppe Grillo, evento que mudou todo o tabuleiro político italiano; e o próprio Zelensky, Presidente da Ucrânia, um ex-comediante que se tornou a figura chave da resistência na Guerra Rússia-Ucrânia, e um queridinho internacional.

No Brasil, cenários similares parecem estar se concretizando em algumas eleições. Já tivemos celebridades eleitas a cargos legislativos, como foi o caso de Tiririca e do Romário. Porém os tempos eram outros. O que mudou foi o que o eleitor pensa e quer.

Hoje o eleitorado brasileiro está extremamente sensível dentro do contexto de polarização que domina o país. Este cenário se inflama ainda mais com candidatos que conseguem lacrar a cada post ou reels que postam em suas redes. Diante de um eleitorado cansado e ao mesmo tempo viciado em adrenalina, figuras novas que surjam e saibam se comunicar neste novo contexto, trarão, para o bem ou para o mal, novos ares e novos desafios para a política brasileira.

São candidatos com conteúdos e posicionamentos capazes de mexer com o jogo e embaralhar os cenários das eleições municipais de 2024.

O grande desafio é saber até onde a capilaridade destes outsiders se converterá em votos, afinal atenção gera mídia e mídia gera atenção, e a atenção é o principal commodity no moderno mundo da política digital. Mas isso elege alguém?

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