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Qual é a importância que o Brasil tem hoje no mundo?

Por Kleber Carrilho

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Redação Publicado em 19/02/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h24


Por Kleber Carrilho

Qual é a importância que o Brasil tem hoje no mundo?

A viagem de Bolsonaro à Rússia, em um momento tão complexo, nos faz analisar o que representamos hoje nas relações entre as principais potências. Afinal, o presidente tentou demonstrar uma importância internacional, que até agora só serviu para produzir publicidade entre os apaixonados e memes entre os críticos.

Para a imprensa dos principais países do mundo, a presença do brasileiro não passou de uma pequena nota no meio das notícias dos deslocamentos das tropas na fronteira com a Ucrânia, em um movimento que tenta definir os limites do domínio russo, quando a Europa tenta se livrar da influência dos Estados Unidos na OTAN e aposta na criação de um exército continental, como já apontou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen.

Essas informações nos dão uma referência clara de que estamos vivendo mais um momento de reorganização das áreas de influência, com alguns atores tentando retomar domínios, como a Rússia ao se aproximar ainda mais da Ucrânia, que esteve sob sua influência durante grande parte do tempo do Império e da União Soviética. O próprio Vladimir Putin, há algum tempo, falou com saudosismo da liderança de Moscou sobre as antigas repúblicas comunistas.

A China, que trata da sua influência sobre o próprio território, forçando a possibilidade de retomar Taiwan, além de expandir sua presença econômica em lugares mais distantes como a África, também se coloca como player desse jogo, que tem os Estados Unidos perdendo território e mantendo como aliado leal fora da América apenas o Reino Unido, que renunciou à Europa durante o Brexit.

O Brasil, com todo o território que tem, não consegue atualmente influenciar nem os vizinhos da América do Sul, que ainda mantêm o Mercosul apenas como uma lembrança longínqua de um futuro conjunto. As tentativas de tornar o país referência nas negociações da geopolítica internacional, que começaram com Fernando Henrique e alcançaram o ápice nos governos de Lula, com o fortalecimento dos BRICS e das negociações Sul-Sul, se tornaram distantes quando, além de inteligência estratégica, o país também perdeu sua principal capacidade de negociação: as grandes empresas que foram envolvidas e destruídas na Operação Lava Jato.

Portanto, neste cenário, em que o presidente usa uma pseudoinfluência internacional que somente tem a capacidade de produzir imagens para a campanha eleitoral, a gente nota que o Brasil voltou a ter um velho papel: um lugar distante em que fica a Amazônia.

Fica a expectativa de tentar retomar alguma importância no cenário internacional. Mas, para isso, além de olhar para todos os problemas internos, o próximo presidente terá que compreender a partida de xadrez que as grandes potências estão jogando.

Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
Instagram: @KleberCarrilho
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