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Globo põe Bolsonaro nas cordas e Lula na roda

Globo põe Bolsonaro nas cordas e Lula na roda - Imagem: Reprodução | TV Globo
Globo põe Bolsonaro nas cordas e Lula na roda - Imagem: Reprodução | TV Globo

Reinaldo Polito Publicado em 28/08/2022, às 07h37


As sabatinas promovidas pela TV Globo  na última semana ficarão para a história. Agora, no calor da campanha eleitoral, em que as pessoas estão envolvidas emocionalmente para defender seu candidato e criticar o adversário, esses eventos se transformam rapidamente em página virada.

A cada dia são novas entrevistas em praticamente todos os meios de comunicação. Se o postulante ao cargo de presidente nas eleições de outubro foi bem, mal, ou mais ou menos, a melhor atitude é resgatar o que poderá ser positivo, acertar como puder o que pode ser explicado, e colocar uma pedra sobre o que não der para remediar. Vida que segue. Afinal, 2 de outubro já está batendo à porta e não há tempo de comemorar os louros, nem de chorar o leite derramado. Ainda assim, dá para analisar como foram os embates entre os candidatos e os entrevistadores, William Bonner  e Renata Vasconcellos. Vamos nos ater aos dois que têm chances de chegar ao segundo turno.

Bolsonaro foi sorteado para ser o primeiro na segunda-feira, 22. Deu azar, pois não houve base de comparação para avaliar o comportamento dos entrevistadores com os outros sabatinados. Não havia dúvidas, entretanto, de que o presidente não teria vida fácil nessa conversa. Com os intermináveis confrontos entre ele e a Globo era de se esperar que o pau iria comer solto desde o início até o final.

Não deu outra. Bonner e Renata bateram da medalhinha para cima. Especialmente o entrevistador, que fez perguntas excessivamente longas, tirando do entrevistado o tempo para respostas. Além disso, eles o interromperam constantemente, impedindo, muitas vezes, de concluir o raciocínio. Quando não falavam, demonstravam certo deboche nas reações fisionômicas.

Houve deslizes de ambos os lados. Bolsonaronão foi feliz ao responder à primeira pergunta: qual a intenção de xingar um ministro? Embora todo mundo saiba que houve mesmo esse xingamento, o presidente negou. Não precisava. Poderia ter usado apenas a segunda parte da resposta. Disse que a situação estava apaziguada. Afirmou que bastaria ver como os dois se relacionaram no dia da posse do ministro como presidente do TSE(Tribunal Superior Eleitoral). Da mesma forma, Renata escorregou ao afirmar que durante a pandemia pediam ao brasileiro que “ficasse em casa, se puder”. Também nesse caso, parece não haver registro para esse “se puder”.

Só para dar uma ideia de como Bolsonaro foi colocado nas cordas em sua participação na Globo, podemos comparar com a entrevista que concedeu ao programa Pânico, da Jovem Pan. Dentro de um ambiente mais cordial, brincando em certos momentos, eles reproduziram todas as perguntas relevantes formuladas no Jornal Nacional. E deram tempo para que ele respondesse sem atropelos. O resultado foi diferente. Disse no programa que não retrucou alguns ataques feitos pela Renata Vasconcellos porque, com certeza, diriam que foi truculento com uma mulher. E é verdade. Ainda que tenha respondido às questões de forma equilibrada, muitos disseram que foi agressivo.

Com Lula a história foi diferente. O tom da sabatina foi mais ameno. Se Bolsonaro foi acossado no canto do ringue, seu opositor foi convidado para participar de uma roda de conversa. Não interromperam o candidato. Deixaram que o petista transformasse aquele momento em verdadeiro palanque político.

Já no início ficou clara a intenção dos arguidores. Começaram alegando que o entrevistado não devia nada à justiça. Que o STF(Supremo Tribunal Federal) lhe havia dado razão. Não é possível confirmar se o fato é verdadeiro ou não, mas circula um vídeo em que alguém passa uma folha de papel para Lula no momento em que ele responde sobre corrupção. Tendo ou não ocorrido, ele deu a resposta mais delicada que teria de enfrentar lendo palavra por palavra tudo o que precisava dizer.

Se pudéssemos comparar com os jogos de futebol, Bolsonaro jogou na casa dos adversários e saiu de lá com um honroso empate. Por outro lado, Lula, mesmo tendo jogado em casa, com toda a ajuda da torcida, também não saiu vitorioso. Os dois vão precisar gastar muita sola de sapato e bastante saliva para chegar ao palácio do Planalto. Siga pelo Instagram: @polito

Sobre o autor: 

Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]

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