Marcus Vinícius De Freitas
Redação Publicado em 08/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 08h49
Marcus Vinícius De Freitas
A partida atabalhoada dos Estados Unidos do Afeganistão gerou uma série de problemas cujos impactos perdurarão por gerações. A presença norte-americana, de quase vinte anos, pouco contribuiu para mudanças radicais no país asiático. Em que pese o Presidente Joe Biden afirmar que o objetivo principal da missão era eliminar os campos de treinamento da Al-Qaeda existentes no país que fomentaram o Onze de Setembro, a realidade é que a missão foi ampliada para propósitos relacionados à construção de um Estado, na forma e molde dos países ocidentais. Este objetivo falhou estrondosamente.
Além de haver coordenado de maneira imprópria a saída com os aliados, o arsenal bélico deixado pelos Estados Unidos é uma preocupação porque gera instabilidade regional, afetando, particularmente, o Irã, China e Rússia. Estes três países possuem pretensões de maior relevância no contexto global. A Rússia, no sentido de retomar sua posição histórica de grande império e cujo colapso, sob a batuta da antiga União Soviética, transformou-se, na perspectiva de Vladimir Putin, no maior desastre do século XX. Para os teocratas do Irã, que pretendem assumir um papel prevalente regional e sobre o Islamismo, numa tentativa de restauração do esplendor persa, a possível infiltração de um Afeganistão armado preocupa o país, que já tem sido altamente impactado pelos efeitos de um embargo imposto há décadas e uma situação econômica que lhe dificulta intensamente qualquer processo de crescimento ou desenvolvimento. E a China, em processo de franca ascensão de poderio global, que, internamente, enfrenta os desafios de uma enorme comunidade islâmica, em Xinjiang, o que poderia desestabilizar a situação doméstica e o objetivo claro de incremento na renda per capita e de projeção global.
O Afeganistão faz fronteira, a leste e sul com o Paquistão, a oeste com o Irã, ao norte com Turcomenistão, Uzbequistão e a nordeste com a China. A dispersão criada pela crise humanitária no país tem gerado um fluxo elevado de refugiados nos países vizinhos. À exceção da China, o processo de verificação do histórico daqueles que buscam refúgio é mais precário e pode levar à entrada de células operativas de organizações terroristas. Esta situação preocupa a Rússia em particular, porque adiciona um elemento de instabilidade civil naqueles países que lhe são satélites.
É por isso que o Talibã controlando o Afeganistão, agora com armas, pode representar uma pedra de tropeço nos projetos destes três países em seu reposicionamento global. Embora os três venham negociando com o Talibã no sentido de evitar um aumento na instabilidade doméstica, que, conforme acredita a China, pode ser atenuada pela melhoria econômica do pais, o ressurgimento do braço ativo do Estado Islâmico-Khorasan pode forçar o Talibã a querer uma aproximação maior com os Estados Unidos, até mesmo para uso e atualização do equipamentos militares deixados para trás.
O fato é que o Afeganistão não é um país unificado como entendemos no Ocidente. Com exceção de Cabul, a capital do país, o país é um mosaico de tribos com facções que buscam o poder e o lucro. Daí a dificuldade da perenidade do controle do país. O bombardeio do Estado Islâmico-Khorasan em 26 de agosto passado às forças norte-americanas constituiu, de fato, uma provocação também ao próprio Talibã e sua autoridade e segurança do país. Com isto, Washington, imediatamente, se transformou num possível parceiro importante para consolidação do poder nas mãos do Talibã.
A retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão e a ascensão do Talibã ao poder reacenderam enormes preocupações com o terrorismo que, desde o Onze de Setembro, vinham em queda em razão das medidas adotadas para sufocar a atuação destes grupos. A reconquista do território afegão pelo Talibã, no entanto, criou um cenário de instabilidade local, regional e global. O temor que existe é relativo à forma como o Talibã pretenderá atuar nos próximos anos. Se o seu objetivo for consolidação no poder, as alianças implantadas pelo grupo político determinarão se a instabilidade causada será refletida na Europa ou na Ásia. O fato é que com os mecanismos de inteligência implementados pelos Estados Unidos, uma repetição da pirotecnia do Onze de Setembro é improvável de ocorrer. É com isto que os Estados Unidos contam. No entanto, a rapidez do Talibã em assumir o poder no Afeganistão, sua resiliência e tomada histórica do poder ilustram que até mesmo as mais sofisticadas inteligências do mundo se equivocam. É preciso atenção à bomba-relógio do Afeganistão.
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