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Os indicadores da educação básica no Brasil

Pisa 2022 - Imagem: Reprodução | Agência Brasil
Pisa 2022 - Imagem: Reprodução | Agência Brasil
Adriana Galvão

por Adriana Galvão

Publicado em 20/12/2023, às 07h57


 Não cremos que alguém tenha ficado surpreso com o péssimo desempenho dos alunos brasileiros registrado pelo Pisa 2022, o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes, cujos resultados foram amplamente divulgados pela imprensa. Na verdade, não houve queda significativa de aproveitamento em relação à edição anterior. Mantivemo-nos muito mal posicionados, entre os 20 piores do mundo em Matemática e Ciências e entre os 30 piores em Leitura.
Tão relevante quanto o Pisa em si foi a tabulação feita pelo Iede (Interdisciplinaridade e Evidências no Debate Educacional), que revelou a face educacional da profunda desigualdade social brasileira: na avaliação de Leitura, nossos alunos de escolas particulares, os mais ricos, alcançaram desempenho equivalente aos das nações situadas no topo do ranking.
Claro está, e há bastante tempo, que deficiências de aprendizagem acentuam-se conforme caem as condições socioeconômicas. Ninguém assimila conhecimento de barriga vazia. A vulnerabilidade social é aliada da má educação.
É preciso reconhecer que nas últimas duas décadas o Brasil passou por um importante aumento do acesso ao ensino fundamental e mesmo a instituições superiores, mas esse progresso numérico não veio acompanhado de mais qualidade educacional. Lembremos da “guerra” desencadeada pelo governo anterior contra a educação, com a pregação do malfadado homeschooling e o tratamento a pão e água dado às universidades federais. 
Também não se pode esquecer do que fizeram outros governos: um deles, cujo slogan era “Brasil: Pátria Educadora”, cortou na largada 19% do orçamento da Educação, antes mesmo de viger o famigerado teto de gastos. Se somos o país do Fundef, do Fundeb, do Enem, do Prouni, do Sisu, do Fies, do Pronatec, do Saeb, do Inep e do Ideb, por que graça entre nós o analfabetismo funcional? Dinheiro e formas criativas de financiamento são fundamentais, mas não são tudo.
Os fatores que nos mantêm na condição de pátria deseducadora são vários, e talvez o mais relevante seja a má formação e a péssima remuneração dos professores. Seguir alguns modelos seria um gesto de humildade e inteligência: na Austrália, no Reino Unido e na Coreia do Sul, os melhores alunos do ensino médio são incentivados a se tornarem professores. Que tal algo nesse sentido?
Os debates sobre as bases curriculares costumam ser contendas entre ideologia e tecnicismo, cada um dos lados a dar murros em ponta de faca.  O fato é que os jovens brasileiros sofrem uma grande desconexão entre os conhecimentos e as habilidades exigidos na vida adulta e o que lhes é transmitido na escola. Não conseguem interpretar o que leem, têm enorme dificuldade para escrever textos simples, bem como para expressar ideias e argumentos oralmente, o que nos traz reflexões sobre a importância de rever as bases da educação e caminhar para um futuro mais promissor da educação no Brasil.   
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