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COLUNA

Por uma política ética e sem fake news

Por uma política ética e sem fake news - Imagem: Reprodução / FGV
Por uma política ética e sem fake news - Imagem: Reprodução / FGV
Adriana Galvão

por Adriana Galvão

Publicado em 24/09/2024, às 10h11


Já passou da hora de se dar um fim à disseminação de fake news, de modo orquestrado, na cena política brasileira. Forjar mentiras para destruir reputações nada tem a ver com liberdade de expressão e os usuários dessa prática contribuem para a corrosão da democracia. A inverdade acaba desmascarada cedo ou tarde, mas o estrago que causa nem sempre é reparável.      

A falta de ética no jogo político, especialmente nas campanhas eleitorais, alcança níveis assustadores. O que se vê na campanha eleitoral à Prefeitura de São Paulo, além das famigeradas fake news, é uma falta de compostura absoluta. Palavrões, jargões do crime, provocações pessoais e até agressão física perfazem o triste espetáculo.      

Não é de hoje que os autores das mais rasteiras estratégias eleitorais são outsiders do mundo político, candidatos oriundos de outras carreiras profissionais - apresentadores de televisão, influenciadores digitais, coaches, policiais, pseudocelebridades - que carregam a bandeira da mudança. Vestem-se com o manto da antipolítica, apostando na péssima imagem dos políticos em geral e na carência de senso crítico de parte da massa.      

À primeira vista, arejar a cena partidária com personalidades inovadoras seria saudável, mas a realidade mostra, isto sim, que essas figuras têm servido aos políticos profissionais de sempre. A antipolítica verdadeira tem história e não se assemelha ao que coaches e infuencers vêm fazendo no Brasil.      

A antipolítica salutar foi apregoada por Vaclav Ravel, último presidente da antiga Checoslováquia e primeiro mandatário da atual República Checa, que liderou a Revolução de Veludo, contra o monopólio ideológico da vida pública. Também simbolizam a antipolítica nomes como os de Gandhi, que esteve à frente do movimento de descolonização no Pós-Guerra, e de Martin Luther King, líder antissegregacionista americano dos anos 1960. São personagens grandiosos da História, que contestaram o modus operandi da política tradicional com inteligência e honestidade de propósitos. Nunca mentiram para seus povos, nunca usaram de violência física ou verbal, apenas de contundência.      Não parece que Ravel, Gandhi ou Luther King inspirem os neopolíticos brasileiros, os quais se comportam muito mais aos modos sugeridos pelo americano Steve Bannon, marqueteiro e espécie de guru da extrema-direita global. A falta de qualquer escrúpulo resume sua estratégia.      

A proliferação de candidatos antipolítica, claro está, tem culpados. Num país em que governos e parlamentos - nas esferas federal, estadual e municipal - mal disfarçam corrupção, fisiologismo, patrimonialismo, caciquismo, mandonismo e nepotismo, aquele que se apresenta como diferente tende a angariar simpatias, e votos. O problema agrava-se quando o novo revela-se pior que o tradicional.      

Seria alvissareiro que os representantes da antipolítica no Brasil servissem aos interesses reais da população, diagnosticando seus problemas e apresentando propostas de solução viáveis, não ideias mágicas, distanciando-se da velha demagogia sem trocá-la por uma linguagem de ódio.  Muito bom seria que o novo fosse construído sobre bases democráticas sólidas. O novo não pode ser apenas o velho travestido.

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