por Adriana Galvão
Publicado em 10/09/2024, às 11h23
O que se vive hoje em várias regiões do Estado de São Paulo é assustador. Incêndios proliferam-se invencíveis, produzindo uma fumaça que torna o ar irrespirável. A despeito da possibilidade - investigada - de os incêndios serem causados por criminosos, certo é que uma seca duradoura favorece o surgimento e o alastramento do fogo. E os longos períodos de estiagem são consequência das mudanças climáticas, somando-se a outro tipo de catástrofe também decorrente do descaso do homem com o meio ambiente: as enchentes provocadas por temporais de volume inédito, como as que alagaram o Rio Grande do Sul recentemente.
Já passou da hora de as autoridades públicas - no Brasil e no mundo - levarem a sério as mudanças climáticas e tomarem medidas que ao menos as atenuem. Seria exagero afirmar que o efeito estufa poderá ser responsável pelo fim da vida na Terra? O maior climatologista brasileiro, e um dos maiores do mundo, diz que a hora é de alerta máximo.
Doutor em Meteorologia pelo MIT (Massachussets Institute of Technology), pesquisador do Instituto de Estudos Avançados da USP, Carlos Nobre ganhou em 2021 o prêmio “Science Diplomacy” da Associação Americana para o Avanço da Ciência. Assim declarou o cientista em maio último: “Nós estamos caminhando num cenário muito perigoso, num cenário em que o aumento da temperatura pode passar de dois graus. Se pensarmos nas metas que os países colocaram na COP 27, no Egito, em 2022, a temperatura pode chegar a um aumento de 2,5 graus em 2050 - isso é um risco enorme, uma tragédia climática”.
A ciência está nos avisando, já há bastante tempo, que o planeta aproxima-se do ponto de não retorno. A única saída em direção à preservação da vida humana é a remoção de uma enorme quantidade de gás carbônico da atmosfera, o que é bem difícil, mas viável mediante projetos de restauração florestal. Vejamos o que diz Carlos Nobre: “Temos a obrigação de fazer a maior restauração florestal de florestas tropicais do mundo. Nesse sentido, o Brasil lançou na COP 28 (Dubai, 2023) o projeto ‘Arco da Restauração’, para recuperar 24 milhões de hectares na Amazônia até 2050, 6 milhões dos quais até 2030”. Roga-se aos governos de turno que honrem tal compromisso de Estado.
Importante lembrar que, desde 2011, ano do desastre na região serrana do Estado do Rio de Janeiro, catástrofes de origem climática têm sido frequentes no Brasil, como as tempestades extemporâneas, mas não só elas. Lembremos que uma seca histórica, iniciada em 2012, causou o desabastecimento quase total do Sistema Cantareira, em São Paulo. Secas, saliente-se, podem ser tão terríveis quanto chuvas, ou até piores, pois seus efeitos não são de percepção imediata, caminham silenciosos até o desfecho aterrador: abrir uma torneira e nenhum pingo d’água cair.
O homem que cria robôs para substituí-lo, que desenvolve medicamentos contra doenças que pareciam incuráveis, que viaja ao espaço, que se comunica ao vivo com outra pessoa do outro lado do mundo, não consegue parar de emitir gases de efeito estufa, insistindo na queima de combustíveis fósseis como petróleo, carvão e gás natural. A humanidade revela-se profícua na sua própria destruição.
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