MEU PAÍS POR UM CHARUTO!

Redação Publicado em 01/02/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h47

Por Rodrigo Sayeg

MEU PAÍS POR UM CHARUTO!

Meu reino por um cavalo! Essa frase entrou para a história, tanto política quanto literária do mundo. Trata-se da frase do Rei Ricardo III, dita em uma das célebres peças de Shakespeare, de mesmo nome, na qual ele oferece seu reino em troca de um cavalo para continuar lutando.

Ocorre que, recentemente descobrimos que o Brasil, fez uma troca parecida. Em live no dia 27 de janeiro, o Sr. Gustavo Montezano, Presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), afirmou que em 2010, o Brasil aceitou charutos cubanos como garantia para um empréstimo bilionário para a construção do porto de Mariel, em Cuba.

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Nas palavras do Presidente da Instituição Financeira “Cuba deixou, em garantias recebíveis, de venda de charuto doméstico. Se não pagasse, o governo brasileiro ia lá em Cuba, ia penhorar as vendas de charuto lá em Havana para poder ressarcir o cidadão brasileiro”.

Esse empréstimo arriscadíssimo, para não dizer fraudulento, em 2010 já causou impactos gravíssimos, sendo que o veículo jornalístico Poder360, apurou que os pagamentos atrasados somam US$ 248 milhões (R$ 1,33 bilhão) incluindo juros e encargos, sendo que o BNDES emprestou no total US$ 656 milhões (R$ 3,5 bilhões) para o país.

E tal situação, só fica cada vez pior ao vermos os termos do empréstimo.

A ata da reunião da Camex em maio de 2010, deixa claro que as condições oferecidas aos cubanos são excepcionais. Temos como exemplo os recebíveis, sendo que o padrão seria aceitar os fluxos externos da exportação. Cumpriria esse papel crédito em dólar pelo pagamento por importações de charutos cubanos, a ser cobrado em outros países. Ao invés disso, o Brasil aceitou cobrar fluxos internos, depositados em banco cubano, o que dificulta em muito qualquer forma de executar a garantia no caso de inadimplência.

R$ 3 bilhões em charutos. É isso que o Brasil irá receber se vier a receber algo. E esses charutos deram muitos privilégios à Cuba:

Prazo de 25 anos para pagar, sendo que o normal nesses casos é 12 anos; prazo de equalização de taxas de juros em 25 anos, quando a praxe da Instituição é de 10 anos; e, a cereja do bolo, 100% de cobertura para risco político.

A cobertura de risco político é uma proteção contra as medidas adotadas por governos soberanos que prejudicam aos investidores ou exportadores estrangeiros nesse país, colocando em risco o sucesso dos projetos em países em desenvolvimento.

O BNDES se comprometeu com a cobertura de 100% do valor, caso Cuba não consiga cumprir com suas obrigações por culpa de fatores políticos. Tal condição traz muita estranheza, especialmente diante do fato de Cuba possuir extremo risco político.

Só a título de exemplo, o EUA até os dias de hoje embarga a nação Cubana, sendo que para o governo do atual Presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, o embargo é o responsável pelos protestos recentes, pela situação econômica do País.

Em suma, o Brasil entregou R$ 3 bilhões sem qualquer perspectiva de retorno, para financiar uma nação em sua perpétua luta contra um suposto “imperialismo americano”.

Tudo que temos é a futura promessa de charutos cubanos, o que é irônico, uma vez que, de acordo com a OMS o Brasil é referência mundial em seu combate ao tabagismo, especialmente por evitar seu patrocínio.

Essa notícia é mais difícil de engolir diante do cenário pandêmico que vivemos e afeta diretamente nossa economia. É tão absurda, que corremos o risco de banalizar uma fraude de proporções bilionárias diante da ironia e ridicularização que deixaria a situação cômica se não fosse trágica.

Infelizmente, naquele tempo trocaram o nosso País por um charuto. Um charuto que o povo brasileiro teve que engolir.