Diário de São Paulo
Siga-nos

Marcus Vinicius de Freitas: O julgamento de cada geração

Marcus Vinicius De Freitas

Marcus Vinicius de Freitas: O julgamento de cada geração
Marcus Vinicius de Freitas: O julgamento de cada geração

Redação Publicado em 14/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h27


O julgamento de cada geração

Marcus Vinicius De Freitas

“Não se engane. Cada geração será julgada. E também a nossa. O que dirão nossos filhos e netos a nosso respeito? Dirão que escondemos nossas cabeças no buraco, que relaxamos devido ao conforto que adquirimos, que nossos problemas eram demasiadamente grandes e nós demasiadamente insignificantes, e que um outro alguém teria de fazer a diferença porque não pudemos?” Creio que melhores palavras não poderiam ter sido selecionadas pelo ex-Governador Republicano de Nova Jérsei, Chris Christie, na Convenção do Partido Republicano de 2012. Cada  geração tem a obrigação de deixar para as futuras um legado maior e melhor do que recebeu, sob pena de entrar para a História como irrelevante, deixando para o futuro uma dívida embaraçosa.

O Brasil sofre hoje pelos erros das gerações passadas. A desídia de nossos ancestrais, ao preservar a vergonhosa escravidão, é hoje um dos motivos principais de tamanha desigualdade social no Brasil, que persistirá por gerações enquanto a questão econômica do desenvolvimento não for efetivamente resolvida. Mas o que temos visto são meras esmolas temporárias, sem a melhoria efetiva das condições econômicas da população, com o crescimento do País e da reforma do processo de formação educacional nos estágios iniciais.Sofremos pelos erros de gerações que admitiram a instalação de golpes e ditaduras – civis e militares – e que, ao invés de resistirem arduamente, abriram mão do bem mais precioso, que é a liberdade, em troca de privilégios e ganhos pessoais, aceitando ser esmagados por governos cada vez mais sufocantes. Admitimos situações e indivíduos que tiraram o Brasil do rumo certo e instalamos um regime político que somente se tem caracterizado pela instabilidade.

A jornada da vida de nossos filhos e netos parece seguir no mesmo destino. Observamos, atualmente, uma geração que se acovarda em dizer não ao modelo político vigente, a uma economia que não deslancha, a umsistema judiciário ineficaz, a um Poder Executivo incapaz de lidar com uma pandemia arrasadora e a falta de um projeto efetivo de futuro para este País. Tornamo-nos escravos do governo, que leva cinco, quase seis, meses de nossas vidas com o peso dos impostos, diluídos pela incompetência administrativa de nossos agentes públicos, uma máquina que não privilegia o mérito e que, por mais que tente, vê a corrupção criar raízes cada vez mais fortes. E até elegemos líderes sabidamente corruptos. Sempre se afirma que, para deixar um legado, o homem (ou a mulher) deveria plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro. Mais importante do que estas três coisas, é hora de pensarmos, efetivamente, em deixar um País decente para as futuras gerações.

O Brasil não produz estadistas. Além de Dom Pedro II, omaior que tivemos – nosso querido Patriarca da Independência José Bonifácio de Andrada e Silva – envergonhava-se da leniência das elites existentes com a questão da escravidão. Ele tinha razão. Poucos surgiram, posteriormente, que conseguiram ascender a esse status de estadista, depois da sua morte.Qual presidente do Brasil se compara a Bonifácio? Infelizmente, este não éum problema exclusivo do Brasil. Como bem disse o ex-Governador Christie, também os Estados Unidos passam pela mesma situação. É uma situação preocupante em todo o mundo.

A pandemia da Covid-19 revelou o quão despreparado o Ocidente está para enfrentar grandes crises. No caso brasileiro, observamos a enorme falta que faz ao País lideranças eficientes, dignificadas, que coloquem o bem público em primeiro lugar. Pelo contrário, ao invés de se discutir a melhor forma de combater a pandemia, vimos o Brasil perdido numa discussão política inútil com foco somente no processo eleitoral. Quantas cartas de consolo a familias desesperadas escreveram nossos políticos durante esta pandemia? Quantos se desculparam ao País por seus erros?Erros imperdoáveis têm sido cometidos, que nos lançarão ao fim da fila no desenvolvimento global. Existe maior equívoco de política pública do que o afastamento dos alunos das salas-de-aula por um tempo infindável? Quem vai se responsabilizar por condenar a atual juventude a ser ainda menos competitiva no cenário global.

O Brasil precisa parar de perder tempo com discussões inúteis e crescer.Mais importante do que discutir reformas políticas e eleitorais, a preocupação principal do governo atual – e dos futuros – deveria ser como aumentar a renda per capita dos brasileiros, estabelecendo objetivos como US$ 15 mil, US$ 20 mil e assim por diante. A partir dessas metas, deveria ser estabelecido o caminho a ser perseguido por todas as administrações para a melhoria da qualidade de vida do povo brasileiro.  Os próximos anos serão difíceis.

Será que faremos a diferença? Seremos a geração que fará o Brasil crescer economicamente e geraremos maior prosperidade de modo mais igualitário? Seremos a geração que estimulará o crescimento e desenvolvimento do País, reduzindo, drasticamente, a corrupção que corrói o futuro? Será que colocaremos o Brasil nos trilhos da paz, meritocracia e prosperidade? Enfim, deixaremos como legado um Brasil com capacidade de crescer sustentavelmente, construindo a infraestrutura educacional, econômica e física para atingir tal objetivo?Como agentes de transformação, é chegado o momento de sairmos da zona de conforto e sermos grandes para fazer a diferença. Esta é a hora. Qual será o nosso legado? Vamos retirar a cabeça do buraco!

Marcus Vinicius De FreitasAdvogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China

Compartilhe  

últimas notícias