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Uma Comunidade de Futuro Compartilhado

China e Brasil. - Imagem: Reprodução | Felipe Moraes / Jornalismo Jr.
China e Brasil. - Imagem: Reprodução | Felipe Moraes / Jornalismo Jr.
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 13/03/2024, às 09h58


À medida que Brasil e China se aproximam da celebração dos 50 anos do estabelecimento de relações diplomáticas, é importante olhar para o passado de realizações dos dois maiores gigantes do Sul Global, que transformaram uma relação inicialmente comercial numa das mais prósperas parcerias que terão impacto relevante na nova ordem mundial e na governança global. Dentre as realizações desse relacionamento, por exemplo, de 2007 a 2022 a China investiu cerca de US$ 71,6 bilhões de dólares em 235 projetos no Brasil, em áreas como produção energética, tecnologias da informação, fabricação de automóveis, construção de infraestruturas, agricultura e têxteis.

No contexto global, a situação é complexa. O mundo precisa desesperadamente de uma mudança nos atuais pressupostos da governança global. A hipocrisia tem prevalecido no sistema internacional, com abusos enormes resultantes de uma aplicação seletiva de padrões duplos de comportamento e atuação. O caso mais notório e recente dessa dualidade de padrões é, sem dúvida, o Discurso sobre o Estado da União, pelo presidente norte-americano, Joe Biden, que, por um lado afirmou querer o cessar fogo em Gaza, mas por outro tem aumentado substancialmente o fornecimento de armas ao Estado de Israel. Numa tentativa de engodo eleitoral, Biden anunciou medidas paliativas como um porto temporário para resolver o problema da fome quando uma simples autorização para entrada em Gaza dos caminhões com ajuda humanitária, por parte de Israel, resolveria o problema.

O fato é que é necessária uma nova visão sobre a ordem internacional. E a China, como principal liderança neste processo, tem oferecido uma perspectiva clara de como este novo cenário global deve ser. Neste sentido, a liderança de Xi Jinping, Secretário Geral do Partido Comunista da China e Presidente da República Popular da China, tem sido profícua ao delinear a sua visão para o mundo e como construir este novo arranjo internacional.

Para quem pretende compreender um pouco desta perspectiva, é importante conhecer alguns dos princípios norteadores da preconizada “Comunidade de Futuro Compartilhado para a Humanidade” por Xi Jinping, em que ele claramente defende a necessidade de uma maior interconexão e interdependência entre as nações, destacando, particularmente, uma globalização renovada e a atuação coletiva para enfrentar os grandes desafios, como a desigualdade econômica, terrorismo e, principalmente, a degradação ambiental e as alterações climáticas.

Contrário àquilo que muitos argumentam, a China tem sido clara quanto à sua vocação ao multilateralismo, com ênfase num papel renovado da Organização das Nações Unidas (ONU) que, infelizmente, tem sido alvo de críticas dos seus países fundadores que a utilizam mais como um bode expiatório do que, efetivamente, não contribuem para que a sua missão seja atingida, utilizando-se dela somente quando pretendem validar algum de seus interesses.

Também é interessante a perspectiva chinesa, no tocante à cooperação internacional, ao pressupor que o conceito de hegemonia que conhecemos no Ocidente, em que um país exerce sobre os outros influência em diversas áreas – economia, poderio militar e político, dentre outros – com o objetivo de beneficiar-se exclusivamente do sistema estabelecido, não é o ideal para a comunidade das nações. Na perspectiva chinesa, o conceito de hegemonia desaparece ao enfatizar-se o ideário da cooperação ganha-ganha, em que o conceito de competição de soma zero – prevalecente na questão da hegemonia – é substituído pelo benefício mútuo, particularmente na busca da prosperidade e do desenvolvimento compartilhado entre as nações.

É dentro deste conceito ganha-ganha, por exemplo, que Xi Jinping lançou a famosa Iniciativa do Cinturão e Rota, uma política externa das mais relevantes com o objetivo de aprofundar a conectividade regional e cooperação econômica, por meio de projetos intensivos de infraestrutura e de investimento. A China, ademais, deu-se conta de que precisa de parceiros fortes economicamente. A Iniciativa do Cinturão e da Rota é um instrumento essencial para lograr o objetivo de enriquecimento coletivo de seus parceiros comerciais.

E, por fim, com o intuito de alcançar uma ordem mundial caracterizada pela paz, harmonia, estabilidade e prosperidade, o respeito à soberania nacional e à não-interferência, além da manutenção da integridade territorial dos estados, é de particular importância. A China tem sido clara que se opõe a qualquer tipo de interferência nos assuntos domésticos dos países – algo que tem muito a ver com a sua tradição histórica de respeito à soberania e de potência ocupada.

No contexto do Brasil, líder regional da América Latina, as sinergias são ainda maiores. O aprofundamento do relacionamento China-América Latina tem sido particularmente incrementado através do Fórum da China e da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), com um aumento substancial do investimento chinês na região, e de inúmeros projetos de infraestrutura essencial para o crescimento e a prosperidade em ambas as regiões.

Enfim, 15 de agosto de 1974 marcou o início de um relacionamento tímido entre os dois países e que floresceu substancialmente. Que nos próximos 50 anos, a partir de 15 de agosto de 2024, esta parceria seja uma força motriz na transformação da humanidade na consolidação de um futuro compartilhado de paz, harmonia, prosperidade e desenvolvimento. 

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