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Os primeiros 50 anos

Os primeiros 50 anos - Imagem: Reprodução | X (Twitter) - @EFEnoticias
Os primeiros 50 anos - Imagem: Reprodução | X (Twitter) - @EFEnoticias
Marcus Vinícius De Freitas

por Marcus Vinícius De Freitas

Publicado em 10/04/2024, às 07h47


Neste ano, Brasil e China comemoram 50 anos das relações bilaterais. Trata-se de um evento histórico, pois nestas cinco décadas, ambos os países passaram por profundas transformações e vêm construindo sociedades desenvolvidas. Obviamente que a China alcançou, por ter feito melhor o dever, um patamar impressionante de crescimento e desenvolvimento econômico. Mas é importante enfatizar que muito daquilo que ocorreu na China foi resultado da observação do processo de desenvolvimento brasileiro, o crescimento rápido do País até à primeira Crise do Petróleo, e também o erro trágico do endividamento, que nos levou à moratória e à Década Perdida.

A China logrou atravessar este período de transição global com esforço, mas, principalmente, com a utilização acertada da sua maior commodity, que é a sua população. Isto favoreceu a um crescimento fundamental do país asiático e levou a uma aproximação estratégica entre os gigantes asiático e o sul-americano. Este relacionamento aprofundado superou, inclusive, os laços comerciais históricos entre Brasil e Estados Unidos – cuja relação celebra também o seu bicentenário neste ano – e colocou a China no patamar de principal parceiro comercial do Brasil.

Tudo isto deveria ser motivo de celebração. Afinal, para cada incremento no crescimento chinês, o comércio com o Brasil aumenta. No entanto, talvez por um maniqueísmo tupiniquim ou subserviência intelectual, alguns preferem desincentivar o aprofundamento do relacionamento bilateral. Esta ojeriza se observou, por exemplo, na questão da vacina chinesa contra o Corona vírus ou na campanha equivocada contra a Huwaei e o 5G.

Ocasionalmente, críticos também têm feito várias profecias apocalípticas sobre o colapso chinês. Muitos “analistas”, desconhecedores da realidade chinesa, propagam informações baseadas em suas perspectivas ocidentais sobre uma civilização que tem uma história de mais de cinco mil anos e dois mil de unificação. Entender a China e compreender a sua realidade requer uma quantidade de conhecimento que livros ocidentais ou décadas de estudo jamais poderão contemplar. Mas, frequentemente, observamos “especialistas” vaticinando o colapso do país asiático.

Não é a primeira vez que isto acontece. Isto já ocorreu no passado recente, como durante o colapso do império soviético ou a Crise Asiática da década de 1990. Em todas estas ocasiões, o colapso chinês tem sido anunciado aos quatro ventos. A objetividade que deve imperar na análise inexiste.

Essa repetição frequente do mantra do colapso chinês tem qualquer justificativa efetiva? Como pode alegar-se que o país está em situação trágica, quando, em 2022, um dos anos mais desafiadores da história chinesa por causa da pandemia da COVID-19, a China ainda logrou crescer cinco porcento, quando a maior parte dos países desenvolvidos cresceram entre zero e três porcento? Ademais, conforme anunciado pelo Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional, a China ainda continua ser a locomotiva mais importante para assegurar o crescimento global.

Estas “análises” impedem o avanço e aprofundamento do relacionamento bilateral. Brasil e China são economias complementares e uma relação bilateral mais intensa pode gerar ganhos substanciais nos dois lados. Se o governo brasileiro atual busca deixar o legado que dure por gerações – ao invés da inexequível busca de um assento permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas – deveria tomar duas ações fundamentais para avançar o desenvolvimento econômico do País: (i) dar um passo atrás no Mercosul e transformá-lo de Mercado Comum em uma Área de Livre Comércio. Com isto, os países-membros terão a vantagem de poder firmar acordos com quaisquer parceiros comerciais que desejarem e, se possível, incluírem o Chile e Peru neste novo acordo; e (ii) fechar, o mais rápido possível, um acordo de livre comércio e de investimentos com a China.

A ampliação da relação bilateral com a China poderá permitir um aumento essencial nos investimentos em infraestrutura que o Brasil desesperadamente precisa para facilitar o escoamento de sua produção e incrementar a competitividade da indústria nacional.

Os chineses afirmam: construa uma estrada e fique rico. A ideia por trás deste conceito é que a infraestrutura é, sempre, o elemento condutor do processo de enriquecimento de uma sociedade. Um país que tem excelente infraestrutura consegue melhores resultados na competitividade internacional, além de ser capaz de elevar substancialmente os níveis de produtividade.

A ascensão chinesa será transformadora na agenda global. Em primeiro lugar, por tratar-se de um país de mais de 1.3 bilhão de pessoas, que tem crescido substancialmente nos últimos trinta anos, com um poder de consumo em crescimento. Em segundo, porque, pela primeira vez na História Contemporânea, o principal país do sistema global será um em desenvolvimento e do Oriente, e não do Ocidente, com raízes civilizacionais distintas. A China não se ocidentalizará em razão de sua longa história, cultura e tradição.

Nas últimas décadas, observamos um país que logrou tornar-se uma potência global e retomar, através de um processo de rejuvenescimento gradual e coletivo, a sua posição histórica de maior potência econômica global. Brasil e China podem ter um impacto fenomenal na nova ordem mundial. Que venham os próximos cinquenta anos repletos de fatos positivos para os dois países. 

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