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As “forças desarmadas” brasileiras nas palavras de Fachin

Por Reinaldo Polito*

As “forças desarmadas” brasileiras nas palavras de Fachin
As “forças desarmadas” brasileiras nas palavras de Fachin

Redação Publicado em 15/05/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h39


Por Reinaldo Polito*

As “forças desarmadas” brasileiras nas palavras de Fachin

O presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Edson Fachin, não resistiu à oportunidade para fazer uso de um jogo de palavras. Ele é inteligente e, provavelmente, sabia que suas declarações iriam revolver um vespeiro, pois bateria de frente com as Forças Armadas. Parodiando o conhecido chavão: perde o amigo, mas não perde a piada.

É importante nesta análise observar qual tem sido a postura das Forças Armadas ao longo das últimas décadas. Assim que deixaram o poder, permaneceram distantes dos embates políticos, cumprindo rigorosamente suas funções de uma instituição de Estado e não de Governo. E foi assim que conquistaram o respeito da população. Hoje é a instituição do país mais bem avaliada pelos brasileiros.

Só deixaram a caserna nesse momento porque o TSE pediu que colaborassem no trabalho de análise das urnas eleitorais. Dispondo de pessoas altamente qualificadas em seus quadros, atenderam à essa solicitação. Não foram, entretanto, como meros observadores. Puseram a mão na massa e escarafuncharam todo o processo. A partir daí, fizeram um extenso relatório apontando as possíveis vulnerabilidades no esquema de votações. Aparentemente surpreendendo os ministros da Alta Corte.

Como depois de um tempo o TSE não havia respondido às observações, reiteraram o pedido para que se manifestassem. Conversa vai, conversa vem, e tudo indica que o TSE se incomodou com a presença ostensiva dos militares na cena. O pronunciamento do ministro Fachin foi uma espécie de faixa amarela para mostrar até onde os analistas externos poderiam chegar.

Na última quinta-feira, dia 12, ao se referir às eleições deste ano, reafirmou que o Brasil terá “eleições limpas, seguras, com paz e segurança”. Esclareceu ainda que “ninguém interferirá na Justiça Eleitoral”. Se pensarmos bem, ele não está errado, já que possuímos um tribunal que tem entre suas atribuições desempenhar esse papel.

E foi aí que lançou mão do jogo de palavras. Afirmou que as eleições “dizem respeito à população civil”. E complementou esclarecendo: e quem trata do tema “são as forças desarmadas”. O ministro mostrou claramente que a responsabilidade final é do TSE, apenas.

Esse tipo de brincadeira com as palavras, porém, parece não ter caído muito bem. Houve reações. Segundo notícia veiculada pelo Poder 360 “O governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu com indignação a fala de Edson Fachin, presidente do STE”. Não era preciso também fazer tremendo cavalo de batalha, mas como existe esse embate entre o governo e o TSE a respeito da forma como está sendo conduzido o processo eleitoral, especialmente quando tratam da segurança das urnas eletrônicas, aproveitaram a oportunidade para cutucar o ministro.

Essa é uma questão essencial da comunicação. Quando existir o risco de encontrar resistências e críticas daqueles que se opõem à determinada ideia, “jogo de palavras”, “trocadilhos”, “mensagens subentendidas” devem ser evitadas. A não ser, evidentemente, que o objetivo seja mesmo o de provocar algum tipo de reação.

Há situações em que o jogo de palavras encontra total receptividade nos ouvintes. É uma demonstração clara de inteligência e presença de espírito. Lembro-me, por exemplo, de quando Guilherme Afif Domingos paraninfou uma das turmas do nosso Curso de Expressão Verbal. Estava presente na solenidade o lutador de boxe Adilson Maguila, que naquela época sonhava em ser campeão do mundo dos pesos pesados. Em seu vocativo, Afif foi brilhante ao cumprimentar o lutador: “E nós que hoje estamos aqui para comemorar a força da expressão, não podemos deixar de celebrar também a presença deste que é a expressão da força”. Foi longamente aplaudido por essa tirada espirituosa tão criativa.

Com certeza, em circunstância diversa, as palavras inspiradas de Fachin receberiam aplausos entusiasmados da plateia. Nesse caso, entretanto, talvez tenham servido apenas para colocar ainda mais lenha na fogueira. Siga pelo Instagram: @polito

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*Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países. Siga no Instagram @polito pelo facebook.com/reinaldopolito pergunte no [email protected]

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