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Ansiedade, crime e suspense em noite de autógrafos

Por Reinaldo Polito

Ansiedade, crime e suspense em noite de autógrafos
Ansiedade, crime e suspense em noite de autógrafos

Redação Publicado em 03/04/2022, às 00h00 - Atualizado às 12h38


Por Reinaldo Polito

Ansiedade, crime e suspense em noite de autógrafos

Eu me lembro de quando lancei o meu primeiro livro – “Como falar corretamente e sem inibições”, em 1986. Estava desesperado. O medo de que o evento de lançamento fosse um fracasso tomava conta de mim.
Não era sem motivo. Eu já havia observado lançamentos que me cortaram o coração. O autor sozinho, com meia dúzia de parentes ao lado, sem ninguém para pedir autógrafo. O seu semblante demonstrava frustração de forma indisfarçável. Ele olhava para a caneta nova, que havia comprado exclusivamente para o grande momento, e não encontrava explicações para aquele fracasso.
Cheguei a comprar livro e pedir o autógrafo apenas para ser solidário. Foi reconfortante notar a reação de alegria do escritor ao me ver com a obra na mão. Conversou longamente comigo, sempre olhando por cima do meu ombro, na esperança de que outras pessoas pudessem aparecer.
Por causa desses exemplos, eu me sentia inseguro. Ensaiava desculpas antecipadas para mim mesmo. Pensava que, se fosse pouca gente, ou até mesmo ninguém, seria normal, pois as pessoas não saem de casa mesmo para pegar um autógrafo, a não ser que seja de um autor famoso. E eu não era nem conhecido, e muito menos famoso.
Perguntei ao pessoal de marketing e da área comercial da editora quantos convites deveriam ser enviados para garantir um público razoável. Eles me disseram que para o lançamento ser bom precisaria expedir pelo menos dois mil convites. Era bastante. Resolvi não arriscar.
Relacionei o nome dos amigos e parentes. Peguei as fichas dos ex-alunos da minha escola e dos assistentes das minhas palestras e fiz o convite a todos. Mais de 20 mil. Como era a editora que confeccionava os convites, acharam um exagero. Fechei questão. Se vocês não mandarem imprimir, eu mesmo providencio. Fizeram.
Deu certo. A fila de convidados saía pela porta da livraria e continuava na calçada. Muito além dos meus melhores sonhos. Resolvi uma situação e arrumei um problema. Alguns haviam sido meus alunos há um bom tempo, e outros só compareceram a uma de minhas palestras. E com a fisionomia totalmente modificada. Uns perderam os cabelos, outros passaram a usar barba, óculos, e todos um pouco mais velhos. Eu não os reconhecia. Pior, quem estava mais irreconhecível tirava de dentro do livro o papelzinho com seu nome escrito e me desafiava: lembra de mim, mestre? Como dizer que não reconhecia aquele que fora tão gentil comparecendo?
Fui salvo pelas minhas filhas. Elas se plantaram ao meu lado e quando percebiam a minha cara de interrogação perguntavam sorrindo: “Você foi aluno do meu pai, né? Lembro de ter visto você na escola”. E eu lá disfarçando, mas com os ouvidos atentos. Sobrevivi. Prometi nunca mais fazer noites de autógrafos. Não cumpri a promessa. Fiz mais três.

Um dos últimos lançamentos que eu fiz.
Autografando para Antonio Lúcio Vicente.
Presença ilustre do senador Suplicy

Em uma delas resisti muito à insistência da editora. Em determinada aula comentei com os alunos sobre a minha relutância e eles me incentivaram: Faz sim, Polito. Vai ser legal. Perguntei quem compareceria. Todos disseram que sim. Fiz. Nenhum desses alunos compareceu. Cada um tinha a sua desculpa. Agora, com 34 livros publicados, nem penso mais em lançamento.
Uso a minha experiência para ajudar os meus filhos quando lançam seus livros. E agora arregacei as mangas para colaborar com a noite de autógrafos do segundo livro da minha mulher. Escreveu um romance que vale a pena ler. Uma história de crimes aparentemente insolúveis, muito suspense, casos amorosos, e tendo os grandes acontecimentos dos anos 1960 como pano de fundo. O leitor fica preso à leitura até o fim para descobrir como o astuto delegado Valadares usa seus conhecimentos de filosofia para desvendar os assassinatos e, principalmente, o que aconteceu com Sofia.
A obra “O enigma de Sofia”, de autoria de Marlene T. Polito, foi publicada pela Editora Novo Século. O lançamento será no próximo dia 7, quinta-feira, na Livraria Leitura do Shopping Ibirapuera, das 19h às 21h. Se você for, vamos nos encontrar lá. Siga pelo Instagram @polito
Reinaldo Polito é Mestre em Ciências da Comunicação e professor de oratória nos cursos de pós-graduação em Marketing Político, Gestão Corporativa e Gestão de Comunicação e Marketing na ECA-USP. Presidente Emérito da Academia Paulista de Educação. Escreveu 34 livros com mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em 39 países.

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