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Água contaminada?

Agrotóxicos são detectados em água de cidades brasileiras

Em 210 municípios foram detectado 27 tipos de agrotóxicos na água consumida por parte da população

Em 210 municípios brasileiros foram detectado 27 tipos de agrotóxicos na água consumida por parte da população - Imagem: Reprodução/Pexels
Em 210 municípios brasileiros foram detectado 27 tipos de agrotóxicos na água consumida por parte da população - Imagem: Reprodução/Pexels

Ana Rodrigues Publicado em 16/10/2023, às 13h01


Em 210 municípios brasileiros - entre eles São Paulo (SP), Fortaleza (CE) e Campinas (SP) - foi detectado 27 tipos de agrotóxicosna água consumida por parte da população. As informações são resultado de um cruzamento de dados realizado pela Repórter Brasil, a partir das informações do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), do Ministério da Saúde, com testes feitos em 2022.

Segundo o UOL, a maioria dos exames identificou a concentração dentro do limite considerado seguro pelo Ministério da Saúdepara cada tipo de substância isoladamente. Sendo assim, a simples presença de cada agrotóxico em uma amostra não necessariamente acarreta problemas para a saúde.

No entanto, a regulação brasileira não leva em conta os riscos da interação entre os diferentes tipos de pesticidas. Segundo especialistas, a preocupação é justamente a mistura de substâncias. Eles afirmaram que o chamado "efeito coquetel" pode gerar consequências ainda desconhecidas ao organismo humano.

As detecções ocorreram em amostras de água de diferentes redes de abastecimento dentro dos municípios. Na cidade de São Paulo, cinco agrotóxicos foram encontrados na água da Sabesp, responsável por prover a maior parte do município.

O total de 27 foi verificado em condomínios e empresas da capital paulista com sistemas particulares de tratamento da água. Em São Paulo não houve casos de concentração acima do limite permitido para cada agrotóxico analisado.

A União Europeia impõe um limite para a presença de diferentes substâncias na água, enquanto esse risco da mistura é ignorado pela normativa do Ministério da Saúde. A pasta teve uma chance de regular essa questão em 2021, quando a nova Portaria de Potabilidade da Água foi aprovada, mas tratou apenas dos limites individuais. O principal argumento é a dificuldade em calcular os efeitos causados pelas diferentes combinações de substâncias químicas na água.

O ideal seria não detectar, ou seja, não encontrar nada. Mas quando há a detecção, ainda que em concentrações menores que o valor máximo permitido, os governos deveriam tomar ações para evitar que esses agrotóxicos apareçam por longos períodos de tempo", afirmou Cassiana Montagner, pesquisadora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Ela ainda destacou que o risco é maior quando o consumo é contínuo, sendo assim, quando a presença das substâncias na água persiste ao longo dos meses e anos. Nesses casos, 15 dos pesticidas encontrados estão associados a um desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, disfunções hormonais e reprodutivas.

Ainda segunda a pesquisadora, as estações de tratamento não conseguem retirar os agrotóxicos da água na concentração encontrada no Brasil. Assim, a melhor solução é evitar a contaminação. A origem do problema é o uso excessivo e indevido dessas substâncias, que ocorre em maiores quantidades em regiões rurais, mas também no paisagismo nas cidades.

Tudo aquilo que vem sendo colocado no ecossistema, solos e plantações, permanece nos recursos naturais e continua presente em diferentes lugares", alertou Rafael Rioja, coordenador de consumo sustentável do Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor), que fez alertas constantes sobre a presença dos agrotóxicos nos alimentos.

Após ser questionado sobre o problema, o Ministério de Saúde reconheceu que analisar os agrotóxicos na água de forma individualizada é insuficiente para determinar os riscos à saúde da população. Porém, ressaltou que há poucos estudos que analisam os efeitos da mistura, justificando assim a ausência de valor máximo para o coquetel de substâncias na portaria atual.

A temática relativa à mistura de substâncias químicas integra a agenda de trabalho do Ministério da Saúde, inclusive no que se refere à definição do padrão de potabilidade", afirmou em nota.

O órgão ainda garantiu que orientou as equipes de Vigilância em Saúde a adotarem ações preventivas mesmo nos casos em que os testes apontaram a presença de agrotóxicos dentro do limite individual para cada substância. No entanto, essa orientação não pareceu resultar em medidas objetivas adotadas pelos municípios.

As secretarias de Saúde de Campinas, São Paulo e Fortaleza, cidades onde os 27 agrotóxicos foram encontrados na água, afirmaram que apenas seguem os parâmetros fixados individualmente para cada substância, de acordo com a norma do ministério.

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