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Professora negra expulsa de voo da Gol fala ao vivo sobre situação: "Bastante abalada"

O caso aconteceu na última sexta-feira (28)

Professora negra expulsa de voo da Gol fala ao vivo sobre situação: "Bastante abalada" - Imagem: reprodução TV Globo
Professora negra expulsa de voo da Gol fala ao vivo sobre situação: "Bastante abalada" - Imagem: reprodução TV Globo

Jessica Anjos Publicado em 01/05/2023, às 15h05


Samantha Vitena, a professora negra que aparece em vídeo que viralizou nas redes sociais onde ela aparece sendo expulsa de um voo da Gol Linhas Aéreas após se recusar a despachar a mochila que tinha seu notebook dentro, deu entrevista ao Programa Encontro da TV Globo nesta segunda-feira (1). A expulsão da profissional aconteceu na última sexta-feira (28).

"Eu ainda estou tentando entender tudo. Os testemunhos e vídeos têm me ajudado a entender", comentou Samantha ao vivo.

Ela disse que ficou bastante abalada com a situação, porém tem recebido muito suporte e apoio. "Ainda não consegui responder todas as mensagens", disse.

Em outro programa, Bahia Meio Dia, da TV Bahia, Samantha contou que a Justiça ainda vai decretar se o caso foi de racismo ou não, mas o que aconteceu coloca em questão essa possibilidade.

Eu acredito que isso quem vai poder dizer é a Justiça, mas o que eu fico me questionando é isso, será que aconteceria com uma pessoa diferente de mim? No mesmo voo, a jornalista Elane foi testemunha, com uma outra passageira, o tratamento foi diferente", apontou.

Voltando para a entrevista que a professora deu ao Encontro nesta segunda-feira, ela explicou como foi a discussão com o comissário. 

O funcionário pediu para Samantha Vitena despachar sua mochila. Mas ela comentou que não poderia por causa do seu computador estar dentro do objeto e poderia ser danificado. "Até onde eu sei a gente não pode despachar laptop, não é recomendado por questão de risco e tudo mais, então falei que isso não seria possível", contou. 

Porém, o comissário insistiu para que ela despachasse a mochila. Enquanto isso a professora tentou colocar embaixo do seu banco, mas não ficou adequado. "Eu falava que não tinha como despachar minha mochila e a gente precisava achar uma outra solução e ele falava: 'Você precisa despachar, vai ter que despachar'".

Após levantar de seu acento, Samantha conta que um passageiro a ajudou a encontrar um lugar para a sua mochila. O idoso ofereceu retirar uma sacola pequena dele que estava no compartimento. Após conseguir um lugar pra sua bagagem, a professora sentou no seu assento e aguardou a decolagem.

"Quando os policiais entraram eu não sabi o motivo deles estarem ali, não poderia imaginar que era por mim. Quando eles olharam pra mim e falaram levante e se retire, eu acredito que qualquer pessoa reagiria dessa forma. Perguntei o que aconteceu, qual o motivo", relembrou ela. 

Na entrevista do Encontro, Samantha também comentou que ficou sem entender o motivo de ter que assinar um Termo de Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por resistência, porque ela obedeceu as ordens dos policiais e saiu da aeronave.

"Quando ele falou do crime, levantei para me retirar e falei para os demais passageiros. Perguntei se eu fiz alguma coisa que tirasse do avião e as pessoas falavam que eu não tinha feito nada", disse.

No momento de toda a situação, muitas pessoas levantaram e começaram a gravar. "Começaram a retirar as malas do bagageiro para descer comigo. Isso foi algo que me surpreendeu muito positivamente, me tocou muito e eu queria agradecer essas pessoas", pediu. 

"O policial me falou: 'Você quer saber o motivo" Então, sai do avião e conversa com o comandante'. Aí eu falei: 'Bom, legal'".

Conversa com a Polícia Federal

Samantha disse que quando saiu da aeronave, perguntou pelo comandante, mas ele não estava no local. Na sequência, ela foi encaminhada para a delegacia da Polícia Federal.

"O outro policial me falou: 'Você não vai conversar com o comandante, me acompanhe' e aí o acompanhei até a delegacia".

Então, em nenhum momento houve resistência. Houve o questionamento e eu cheguei a perguntar ao delegado se eu não poderia ter perguntado e ele me disse que sim, que era o meu direito", comentou.

A professora comentou que não espera ter que passar por algo semelhante outra vez. "Essa história não é só sobre mim, é sobre todas as pessoas que passaram e passam por esse tipo de situação. Espero que essas pessoas sejam responsabilizadas e isso não volte a acontecer". 

Após conversar com Samantha, o apresentador Manoel Soares comentou que a Gol entrou em contato com o programa e encaminhou uma nota de esclarecimento dizem que "reconhece a realidade do racismo estrutural do país" e que não tolera práticas racistas nos seus procedimentos. Leia a nota na íntegra:

"Desde o primeiro momento em que tomamos conhecimento do caso, a preocupação da GOL foi conversar com a cliente, o que, infelizmente, ainda não conseguimos. Lamentamos profundamente o ocorrido e nos solidarizamos com todas as manifestações relacionadas ao caso. Estamos colaborando com as autoridades e também contratamos empresa independente com a finalidade de elucidar a situação e tomar as providências cabíveis com a urgência que o caso exige. Não toleramos e nunca vamos tolerar práticas racistas dentro da Companhia.

A GOL, como empresa brasileira que emprega e transporta um estrato significativo da sociedade, reconhece a realidade do racismo estrutural. Temos por dever acelerar a mudança e, por isso, estamos mergulhados em nossas vulnerabilidades, entendendo onde e como podemos superá-las. Jamais poupamos esforços para ser uma empresa inclusiva e diversa e temos ações concretas de promoção do letramento da nossa comunidade interna. No entanto, reconhecemos o quanto ainda precisamos intensificar nossas ações na luta antirracista e pela diversidade.

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