Diário de São Paulo
Siga-nos
Crueldade

PM mata vizinho que reclamou de barulho e debocha do crime: “Queria dormir, agora dormiu”

O criminoso ironizou o crime em um grupo de WhatsApp

Guilherme Rocha foi assassinado por vizinho, policial militar Lucas Torrezani - Imagem: reprodução/Facebook
Guilherme Rocha foi assassinado por vizinho, policial militar Lucas Torrezani - Imagem: reprodução/Facebook

Mateus Omena Publicado em 18/06/2023, às 14h09


O policial militar Lucas Torrezani, de 28 anos, preso por matar o músico Guilherme Rocha em um condomínio, debochou do assassinato em um grupo de mensagens no WhatsApp.

Em uma piada, o agente afirmou que agora a vítima, morta após reclamar do barulho no prédio, poderia dormir. O crime aconteceu em Vitória, no Espírito Santo.

No dia seguinte ao assassinato, o PM mandou em um grupo de WhatsApp a seguinte mensagem: "Ele queria dormir, agora dormiu", segundo consta na decisão do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.

A juíza Lívia Regina Savergnini apontou que a atitude de Lucas demonstra total frieza. "A forma de execução do crime demonstra que o acusado conta com personalidade desprovida de sensibilidade moral, sem um mínimo de compaixão humana, não valorizando, destarte, o semelhante de forma a ser possível a convivência social."

Em relação à troca de mensagem, Lívia declarou que Lucas "demonstrou total desapego à vida da vítima Guilherme". A juíza menciona que, logo após os tiros, Lucas ficou acompanhando Guilherme agonizar até morrer enquanto terminava de ingerir a sua bebida alcoólica.

O comportamento do agente, para a juíza, estimula a decisão de mantê-lo afastado da sociedade. "A imposição de sua custódia cautelar se mostra necessária para preservação da ordem pública e da instrução processual, pois presente a possibilidade de repetição da conduta em virtude do acusado novamente consumir de bebida alcoólica na posse de arma de fogo e, com isso, perder o autocontrole e voltar sua frustração contra outra pessoa por mero desentendimento."

A juíza também diz que o réu ocupa um posto de trabalho que difere totalmente do ocorrido. "No ponto, registro que o acusado Lucas ocupa o cargo de policial militar e, a meu sentir, tal função é incompatível com a conduta que lhe é atribuída nos presentes autos, porquanto o exercício desse nobre e heroico mister exige estrita observância aos ditames legais e incansável atuação para preservação da ordem pública, justamente o contrário do narrado nos autos. Além disso, nota-se que o denunciado é pago com limitados recursos públicos para combater o crime e não para praticá-lo."

Entenda o caso

Na madrugada de 17 de abril, Lucas Torrezani de Oliveira atirou contra Guilherme Rocha, 37, em uma área comum do prédio em que moravam.

A síndica do prédio ficou assustada e chamou a polícia. O PM se apresentou como autor do disparo quando os colegas de farda chegaram.

O agente alegou legítima defesa e foi liberado após se apresentar à delegacia, deixando a arma apreendida no local. No entanto, as imagens de câmeras de segurança mostraram que não houve legítima defesa e o PM foi preso de forma temporária. Lucas se manteve em silêncio no momento da prisão.

Na gravação, é possível ver que outro homem estava com o policial no momento em que Guilherme entrou na área comum do condomínio. A vítima manteve as mãos para trás durante a discussão, mas foi empurrada pelo amigo do PM e caiu após levar um tiro.

A vítima desceu do apartamento em que morava para reclamar da música alta e do barulho feito pelo PM, de acordo com a investigação da polícia. Lucas consumia bebida alcoólica no momento do crime, informou boletim de ocorrência.

"Tive acesso a duas ocorrências do próprio condomínio informando esse tipo de algazarra. Salta os olhos esse tipo de conduta. A vítima estava muito incomodada. Vi que era bem próximo do apartamento dele [o barulho]. Isso realmente incomoda às três da manhã. Isso foi o estopim", disse o delegado Marcelo Cavalcanti, titular do DHPP de Vitória.

Compartilhe  

últimas notícias