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DEBOCHE

O deboche de autoridades com servidores da Justiça e Ministério Público acirra a relação de trabalho; veja vídeo

Procurador aumenta benefícios no salário de promotores e procuradores e deixa de fora os servidores que tocam as promotorias

Procuradora Carla Fleury usa R$ 37 mil para comprar brincos e sapatos, o procurador de São Paulo "engorda" salários de membros do MP; professor ataca e suspeita de servidores de TI - Imagem: reprodução YouTube
Procuradora Carla Fleury usa R$ 37 mil para comprar brincos e sapatos, o procurador de São Paulo "engorda" salários de membros do MP; professor ataca e suspeita de servidores de TI - Imagem: reprodução YouTube

Jair Viana Publicado em 31/08/2023, às 10h35


Em uma semana apenas, várias autoridades fizeram discursos e tomaram decisões em tom preconceitoso e desqualificador, referentes à atuação profissional ou até de orientação sexual.

Na terça (22), o desembargador Francisco José Galvão Bruno, da 10ª Câmara Criminal do Tribinal de Justiça de São Paulo, em evento da Procuradoria Geral de Justiça e da Escola Superior do Ministério Público, disse que transexual não é mulher.

Com todo respeito ao homossexual, transexual não é mulher. Isso é uma humilhação à mulher'', afirmou perante uma plateia composta de autoridades do MP, da Polícia e do Judiciário. Nada aconteceu.

Na última sexta, o procurador geral de justiça de São Paulo, Mário Luiz Sarrubo, baixou resolução que garante mais R$ 10 mil na remuneração de promotores e procuradores que acumulem processos de várias áreas.

Os servidores de segundo escalão não vão receber nada a mais para atuar nesses processos excedentes que, em geral, os promotores e procuradores têm o trabalho de apenas assinar.

Mas, apesar da semana ter sido cheia de ataques ao pessoal do segundo escalão do Judiciário e Ministério Público, vale lembrar que o deboche começou em junho, quando Procuradora Carla Fleury de Souza, de Goiás, fez chacota do salário de R$ 37 mil por mês.

Fleury de Souza disse que seu salário é tão baixo que ela só usa para atender aos impulsos de sua vaidade. "Só para meus brincos, pulseiras e sapatos", disse ela, sobre seus gastos. Ela ainda disse que não tem que sustentar sua casa, pois seu marido ganha o suficiente.

Outro que carregou o discurso de frases preconceituosas e acusadoras foi professor doutor e autor de vários livros jurídicos, Rodrigo Ribeiro Bastos, durante ‘Encontro de Direito e Tecnologia’, no auditório do Centro Administrativo Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), nesta semana, quando atacou com frases pejorativas, o trabalho dos profissionais da área de Tecnologia da Informação (TI) do Poder Judiciário, repercutiu entre a categoria no Brasil.

Os profissionais chamados de 'espinhentos' desenvolvem o trabalho que dá sustentação ao trabalho de todo o Judiciário. Eles têm nas mãos toda a estrutura da gestão dos dados judiciais.

Durante seu discurso, Ribeiro Basto não economizou nos ataques.“Seremos nós, os operadores do direito, ou vamos deixar a cargo dos meninos 'espinhentos da informática', que ficam no porão de algum lugar aí?", iniciou. O discurso caiu como "bomba" entre os servidores do Ministério Público e do Judiciário. Notas de repúdio pipocaram por todo o país. Veja abaixo o momento de sua fala:

Depois da abertuta de seu discurso, com a plateia expressando estar sobressaltada com o que havia ouvido, o professor insistiu nos ataques.

"No Poder Judiciário, quem tem poder é o chefe da informática. Se ele apagar o banco de dados, acabou. Mas a gente vai deixar essa turma espinhenta(sic) da informática fazer esses algoritmos ou somos nós, operadores de direito que vamos tomar à frente disso?”, afirmou, colocando sob suspeita o trabalho dos servidores.

A presidente do Sindcato dos Trabalhadores do Poder Judiciário de Rondônia (SINJUR), Gislaine Caldeira, em nota de repúdio às declarações do professor, diz que os servdores prestam serviço de grande importância. "Ao contrário, do que disse o professor, o SINJUR-RO reconhece como de fundamental importância o trabalho desenvolvido pelos operadores de TI frente aos desafios de tornar o judiciário cada vez mais efetivo e célere".

O assunto ainda está na pauta dos servidores que inconformados esperam por retratação de Ribeiro Bastos. Os ataques aos profissionais de TI causou revolta não só entre os servidores do Judiciário, mas causou desconforto nos servidores do Ministério Público.

O Sindicato dos Servidores do Ministério Público do Amazonas (SINDSEMP) também repudiou as declarações do professor Rodrigo Ribeiro Bastos. Em sua nota, a entidade observa que durante a pandemia da Covid-19 (2020/2022), quem manteve o funcionamento do Judiciário "foram estes mesmos profissionais, chamados de 'espinhentos' que trabalharam diuturnamente para adaptar as instituições públicas, virtualizar serviços e criar os mais diversos canais de comunicação...", diz.

A Federação dos Servidores Públicos, não chegou a emitir nota sobre o assunto, mas o presidente do sindicato dos servidores do Ministério Público do Amapá, Elton Corrêa, disse que "repudia" as declarações Bastos. Na avaliação de Elton, o objetivo da fala "é abrir esses órgãos de fiscalização cada vez mais a servidores não concursados", diz a nota.

O professor Rodrigo Ribeiro Bastos foi procurado através de sua assessoria, porém a reportagem não obteve resposta até o encerramento deste texto. Se ele enviar alguma nota, o texto será atualizado.

NOTA DO SINDICATO DO AMAZONAS

O Sindicato dos Servidores do Ministério Público do Amazonas, onde se deu o evento em que o professor, doutor e escritor Rodrigo Ribeiro Bastos fez os ataques aos servidores, reagiu através de uma nota de repúdio ao discurso de Bastos (veja abaixo):

"O Sindicato dos Servidores do Ministério Público do Estado do Amazonas - SINDSEMP-AM vem a público REPUDIAR as inaceitáveis declarações do Professor Doutor Rodrigo Ribeiro Bastos proferidas durante um evento realizado no Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas (TJAM).

Suas palavras desrespeitosas ofendem todos os profissionais da área de Tecnologia da Informação e Comunicação porque, além de denotarem uma "delirante suposta hierarquia" entre as diversas áreas do conhecimento, foram proferidas em solo amazonense.

Cumpre ressaltar (e até relembrar) que o Amazonas foi um dos Estados que mais sofreu com as consequências da pandemia de covid-19 e, para manter o funcionamento do indispensável serviço público, foram estes mesmos profissionais classificados como "espinhentos" que trabalharam diuturnamente para adaptar as Instituições públicas, virtualizar serviços e inovar na criação dos mais diversos canais de comunicação, tudo isso para melhor atender ao cidadão em um dos momentos mais críticos da história da saúde pública brasileira.

Os esforços empreendidos pelos servidores da área de TI, em todo o país, jamais os colocarão "no porão de algum lugar", porque o legado construído por essas pessoas está gravado na história e será lembrado por muitos anos".

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