O longo – e curto – curto adeus!
Redação Publicado em 01/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h11
O longo – e curto – curto adeus!
Marcus Vinícius De Freitas
A saída das tropas norte-americanas do Afeganistão, depois de quase duas décadas de presença no país, representaram o fim de um longa intervenção, a guerra mais longeva e de pior êxito dos Estados Unidos. Ao celebrarem com tiros ao ar a partida do último avião militar norte-americano, o Talibã, por fim, reconquistou o poder e contribuiu para um reconhecimento inexorável: nem mesmo os maiores exércitos do mundo conseguiram vencer uma guerrilha determinada e resiliente. A imagem do gigante militar, acuado por um exército de nômades, marcará profundamente o este século XXI.
A saga do Talibã impressiona por sua brutalidade, anacronismo e perspectiva retrógrada do Islamismo. Era, conforme esperava George W. Bush, para esse grupo ter sido varrido para a poeira da história, diante da presença de um Ocidente pujante, vencedor da Guerra Fria, que propunha valores como a democracia, empoderamento feminino, crescimento econômico e direitos humanos. Como podem ter sido tais valores rejeitados por uma parte da população afegã e a guerra perdida contra os bárbaros talibãs? Estes são questionamentos que deveríamos fazer-nos no Ocidente. Terão os valores ocidentais perdido a sua atratividade? Será que o brilho da civilização ocidental começou a apagar-se?
O fato é que não se podem ignorar as milhares de vidas afegãs que foram perdidas ao longo destas duas décadas e que a presença ocidental pouco fez com que o Afeganistão evoluísse economicamente. Os trilhões de dólares gastos pelos Estados Unidos nas operações militares pouco reverteram num enriquecimento significativo do país. E como resultado, ao longo destas décadas, as melhorias ocorridas foram marginais, num país de baixíssima capacidade exportadora e cujo produto de maior representação comercial é o ópio, altamente consumido pelas sociedades ocidentais. Ademais, a inconsistência entre a retórica e a ação tem diluído, substancialmente, o poder do exemplo ocidental. Por mais que se tente negar, a elevada desorganização na administração da crise da pandemia da COVID-19 é um fator negativo. Cresce, ainda, a dúvida sobre a habilidade daqueles que governam e o distanciamento entre governantes e governados. E, por fim, notamos a enorme deterioração moral que tem prejudicado a principal célula social, que é a família. A atratividade do Ocidente passou a ser quase que exclusivamente econômica, o acúmulo de bens perecíveis e a valorização daquilo que é etéreo. Por mais substanciais que alguns aspectos de nossa sociedade sejam comparativamente diferenciados, a realidade é que a fascinação foi perdida.
Com isto, o Talibã conseguiu manter-se resiliente e tornou-se vitorioso ao final do embate. E isto preocupa pelo temor de que o Talibã de 2021 pode ser uma cópia piorada daquele de 2001, agora com um potencial bélico muito maior deixado pelas tropas norte-americanas. Isto pode, ainda, estimular que, em outros lugares, a ideia do “Davi vencendo Golias” incentive grupos semelhantes a surgirem. Um militante de um grupo terrorista, ao vislumbrar a vitória talibã, poderá presumir que a história se repetirá e que eles terão sucesso.
A retirada dos Aliados era, de fato, uma necessidade e que deveria ter ocorrido há dez anos, quando, em princípio, a al-Qaeda havia sido enfraquecida. Estes dez anos a mais – inexplicáveis – podem estar mais relacionados ao forte lobby da indústria armamentista do que, efetivamente, aos interesses do povo norte-americano. Os veteranos de guerra, por certo, vêm-se questionando a respeito da legitimidade de sua atuação numa guerra cujo resultado é, no mínimo, frustrante de explicar pelos resultados alcançados.
Assim, o longo adeus dos Estados Unidos constitui uma preocupação porque, de fato, não será um adeus, mas efetivamente, um até breve, porque um Talibã fortalecido implica um Estado Islâmico e uma al-Qaeda também fortalecidos. Por mais que se propugne a possibilidade de uma guerra civil no país, seu resultado seria catastrófico, com impactos transfronteiriços. Para Joe Biden, a guerra por drones poderá ser ainda uma opção perseguida pelos Estados Unidos, com intervenções cirúrgicas. No entanto, o dilema ético da assimetria da guerra consolidará ainda mais o sentimento de contrariedade ao Ocidente. Os próximos capítulos são preocupantes.
Marcus Vinícius De Freitas, Advogado e Professor Visitante, Universidade de Relações Exteriores da China
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