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Quando o assunto é dinheiro, a modernidade e a segurança não são compatíveis?

Quando o assunto é dinheiro, a modernidade e a segurança não são compatíveis? - Imagem: Reprodução | Twitter
Quando o assunto é dinheiro, a modernidade e a segurança não são compatíveis? - Imagem: Reprodução | Twitter
Dennis Munhoz

por Dennis Munhoz

Publicado em 18/03/2023, às 17h46 - Atualizado às 18h46


O último final de semana foi marcado pela agitação causada pela notícia da “quebra” de dois bancos aqui nos Estados Unidos. Para o correntista e investidor comum , o Silicon Valley Bank (SVB) e o Signature Bank pouco ou nada representam nas suas vidas, pelo menos diretamente. Qual o maior temor das autoridades governamentais com a “quebra” de dois bancos? Contágio e especulação no mercado financeiro. A falência de dois bancos é controlável, mesmo com o dinheiro público utilizado para arcar com o prejuízo, todavia a contaminação de todo mercado é incalculável e assustadora.

Antes da abertura do mercado financeiro na segunda-feira, o Presidente Biden apressou-se em acalmar os correntistas, investidores e contribuintes americanos afirmando que o compromisso é de assegurar que pessoas e empresas tenham acesso a seus depósitos sempre que necessitarem. Até aí sem muita novidade, não fosse a parte final da declaração presidencial no que diz respeito às responsabilidades.

O Presidente concluiu alertando que terá empenho para responsabilizar os executivos por trás desta bagunça e fortalecerá ainda mais a regulação e supervisão sobre os maiores bancos.

Conversando com as pessoas de médio ou pouco conhecimento naquilo que envolve Criptomoedas, Bitcoin e Startups, é comum a associação destas à insegurança e muita desconfiança. Muitas vezes são tratadas como “ alienígenas “ e predadoras.

O Silicon Valley Bank estava entre os vinte maiores bancos comerciais dos Estados Unidos, voltado quase que exclusivamente para as Startups. Desde 2008 quando da quebra do Washington Mutual Bank não ocorria algo tão significativo no mercado financeiro. A carteira de ativos do SVB era superior a 200 bilhões de dólares, mais de R$ 1 trihão de reais, ou seja 10% (dez por cento) do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil. Algo que precisa ficar claro é que esta “quebra” ocorreu em um banco devidamente regulamentado e fiscalizado pelas agências reguladoras oficiais americanas. As regras impostas a estes dois bancos (SVB e Siganture Bank) são as mesmas aplicadas a outros gigantes do sistema financeiro americano.

Logicamente investir em ativos não convencionais e arriscar com intermediários requer maior cautela, mas a partir do momento que a carteira de ativos teoricamente é regulada e fiscalizada por órgãos oficiais, o investidor/correntista deveria ficar mais tranquilo. Focando nestas “quebras” do final de semana, novamente podemos constatar que a causa não está diretamente ligada às novas modalidades de investimento e sim aos não isolados procedimentos de executivos dos bancos. Algumas horas antes de ser decretada a “quebra”do SVB, foram pagos bônus enormes aos executivos do banco, que em tese atingiram as metas e lucros para fazer jus aos pagamentos. No mínimo a incoerência reinava na administração.

A carteira de títulos de aproximadamente 21 bilhões de dólares( mais de 110 bilhões de reais)  do SVB, rendia a seus clientes algo em torno de 1,79% ao ano, lembrando que os principais investidores eram Startups que enfrentando dificuldades optam muitas vezes pelo resgate do título. Com o aumento recorde da taxa de juros por parte do FED (Federal Reserve Bank), equivalente ao Banco Central no Brasil, os juros pagos em títulos do tesouro americano pelo prazo de 10 anos é de 3,9%, ou seja mais que o dobro. Com o índice mais elevado dos últimos 40 anos, a taxa de juros certamente fará outras “vitimas” durante este ano de 2023 que aponta para a retração da maior economia do mundo. 

De quem é a responsabilidade em fiscalizar a saúde financeira destes bancos, quem autoriza ou controla os riscos destes ativos? Fica muito fácil e rasteiro apontar o dedo para a figura de bancos de Startups e Criptomoedas, mas será que o investidor está seguro em bancos convencionais e investimentos tradicionais com a presente regulamentação?

Muita coisa mudou e melhorou desde 2008 com a crise das hipotecas e quebras de gigantes do mercado de investimento e financiamento. O rombo foi muito maior e as sequelas deixadas duraram décadas. A fiscalização melhorou e a legislação federal sobre o assunto são bem mais eficazes. Até aquela catástrofe, as autoridades americanas acreditavam que o mercado era o melhor regulador, deixando os bancos e seus criativos executivos livres para ganharem cada vêz mais e com menos responsabilidades.

Sou favorável a Estado cada vêz menor, mas tratando-se da ganância que impera no setor bancário/ financeiro, as agências reguladoras devem ser fortes, operantes e amparadas por legislação contundente.

Tudo leva a crer que esta crise ocasionada pelos dois bancosfalidos deva encerrar-se sem consequências mais significativas, todavia a dúvida que ainda paira é preocupante. O sistema regulador da maior economia do mundo é capaz de prevenir ou arcar com as consequências de sistema financeiro ágil e inovador?

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