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Carro elétrico nos EUA. Chegou a hora de tirar da tomada?

Carro elétrico. - Imagem: Divulgação / VOLVO
Carro elétrico. - Imagem: Divulgação / VOLVO
Dennis Munhoz

por Dennis Munhoz

Publicado em 16/01/2024, às 06h00 - Atualizado às 06h37


Nos últimos cinquenta anos, os Estados Unidos têm enfrentado grandes e sucessivos problemas relacionados ao petróleo. Em meados da década de 70, em protesto ao apoio do governo norte-americano a Israel durante a guerra do Yom Kippur, os países árabes produtores e fortes exportadores de petróleo aumentaram o preço do barril em quase 400%. Em 1979 foi a Revolução Islâmica, guerra Irã / Iraque e demais eventos políticos que durou toda a década de 70.

Apesar de ser o maior produtor de petróleo do mundo, há uma diferença significativa entre o consumo e a produção, tornando a importação obrigatória. Esses milhões de dólares pagos diariamente a países que em muitos casos financiam o terrorismo e encaram os Estados Unidos como inimigo capital, provoca a indignação do governo e povo estadunidense. O então Presidente Jorge W. Bush (2001 a 2009) declarou que o País era “ viciado”em petróleo. Alguns números são impressionantes. O consumo de gasolina em 15 dias nos Estados Unidos equivale ao consumo anual do Brasil, os norte-americanos consomem mais de 20% da produção mundial de petróleo, produz diariamente 16 milhões de barris e gasta mais de 20 milhões.

O assunto é tão delicado que com a invasão russa à Ucrânia (vai completar dois anos no próximo mês), o governo Biden restabeleceu parcialmente relações com a Venezuela para garantir compra de mais petróleo do ditador Maduro. Os motivos já relacionados são mais que suficientes para investir e incrementar o desenvolvimento e implantação de energias alternativas como o carro elétrico, que já nasceu três vezes e morreu duas.

Apesar dos esforços e isenções do Governo Biden, o consumidor norte-americano não parece disposto a investir mais de US$ 50 mil dólares em veículo com pequena autonomia, dificuldade para recarregar a bateria e custo enorme em eventual reposição do equipamento. As grandes montadoras como Ford e G.M. estão percebendo prejuízos significativos com a produção destes veículos, que são subsidiados pelo governo, mas até quando estes benefícios continuarão?

Vários políticos e autoridades com conhecimento em energia têm declarado que o País não terá condições de cumprir com as metas estabelecidas para produção de veículos elétricos. Em vários Estados a data da “morte”dos motores à combustãojá está determinada sem a infraestrutura norte-americana estar preparada para a mudança. O investimento de US$ 3,5 bilhões de dólares realizado pelo governo não é nem de perto suficiente para produzir as baterias em solo norte-americano, salientando que o maior produtor deste equipamento é a China, inclusive de minerais essências à fabricação. O Estado da Califórnia proíbe a comercialização de veículos novos à gasolina a partir de 2.035 e algumas montadores pretendem desativar esta produção até antes deste prazo. A meta seria de 70% da produção de carros seja elétrica até 2.032.

Para chegar a este ponto, três aspectos são essências: A produção em massa de baterias melhores e mais baratas, preferencialmente em fábricas norte-americanas; melhoria significativa em pontos de recarga e sistema de distribuição de energia no País e preço do barril de petróleo aumentar muito acima da média. Os dois primeiros estão muito longe de ser atingidos mesmo porque a matriz energética dos Estados Unidos não favorece. Neste aspecto o Brasil tem mais recursos naturais para isto ocorrer. No que tange ao preço do barril de petróleo é totalmente imprevisível, mas não podemos esquecer que mesmo com o boicote ao petróleo russo, o preço caiu em média 10% no último ano.

Qual consumidor estaria propenso a trocar seu veículo à combustão, testado e confiável, com baixo custo de manutenção, facilidade de abastecimento, menor custo de aquisição, com combustível a preço razoável e maior valor de revenda por outro com preço de aquisição mais elevado, vida útil muito menor, dificuldade para recaraga de bateria, pouca autonomia, baixo valor de revenda e com uma única peça eventualmente danificada (bateria)ter valor de reposição semelhante ao veículo?

Gastar aproximadamente US$ 1,8 mil dólares por ano, algo como US$ 150 dólares por mês (gasto médio do norte-americano com combustível por ano), justificaria o risco?

Logicamente que a preocupação com o meio ambiente é importantíssima e afeta a todos, todavia a produção e o descarte das baterias também têm suas consequência maléficas. Até agora não houve explicação técnica e clara sobre o assunto e não podemos simplesmente repetir discurso pronto para justificar a transição.

Será que teremos o terceiro funeral?

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