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A morte dos mensageiros

Imagem A morte dos mensageiros

Redação Publicado em 18/06/2022, às 00h00 - Atualizado às 10h34


Neste momento, tem gente olhando para o noticiário e pensando: por que estão dando tanta importância para dois caras que se enfiaram na Amazônia se tem brasileiros morrendo em assaltos nas ruas, nas guerras do tráfico, nos corredores dos hospitais e nos diversos episódios de violência doméstica?

E eu entendo essas pessoas. Realmente, mortes são mortes, e elas precisam ser destacadas  quando não seguem o que é previsível. E o que é previsível? Que as pessoas morram velhinhas ou, quando novas, por alguma doença incurável.

Porém, mesmo entendendo, quero dizer aqui uma coisa terrível: as mortes são diferentes sim! Há mortes que têm mais representação social e política. Esse é o caso de Bruno Pereira, Dom Philips e tantas outras e outros. São mortes que mostram problemas tão profundos que elas não são somente o fim da vida dos indivíduos. Elas podem ser, inclusive, iniciar processos de modificação das realidades.

E torçamos para que as mortes de Bruno e Dom realmente tenham essa função. Que sirvam para que entendamos, de uma vez por todas, que a região da Amazônia precisa de uma atenção por aquilo que representa para quem vive lá, para os brasileiros e para todo o mundo.

Não falo apenas das riquezas naturais, da função da floresta na luta contra o aquecimento global e da proteção dos povos originários. Falo de tudo isso junto e da possibilidade de que ela represente algo fundamental: que nós conseguimos lidar com a iminência da nossa morte como humanidade.

Afinal, ela representa algo que deveria incomodar, mas não está entre as principais preocupações de grande parte das pessoas, principalmente daquelas que têm poder. E o que ela representa? A nossa incapacidade de cuidar do planeta em que vivemos e que, se não tivermos o cuidado necessário, deixaremos de viver.

Isso não quer dizer que há uma possibilidade grande de que o planeta deixe de existir. Mas, sim, há uma tendência de que, sem tomarmos os devidos cuidados para preservar o que resta, o planeta não seja mais um lugar possível para a vida humana.

Afinal, somos apenas uma espécie, entre as infinitas existentes por aqui, muitas das quais nem conhecemos ainda. E, para o planeta, uma espécie a mais ou a menos não faz nenhuma diferença. Ou, no nosso caso, faz sim. O planeta ficaria mais saudável sem os humanos.

Portanto, a morte de Dom e Bruno mostram, mais uma vez, que não conseguimos cuidar do planeta. Que matamos quem quer denunciar que não cuidamos dele. A mensagem do fim está chegando e, em vez de tentarmos resolver os problemas, preferimos matar os mensageiros.

Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
Instagram: @KleberCarrilho
Facebook.com/KleberCarrilho
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